Crítica
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Sinopse
Luiz Rosemberg Filho foi um artista inquieto, alguém que fez do cinema sua principal plataforma de expressão.
Crítica
Um bom jeito de documentar a carreira de um artista, ainda mais quando ele também faz do cinema uma rota de expressão, é aludir formalmente ao seu itinerário de criação, homenageando-o pela via da emulação. Os realizadores Cavi Borges e Christian Caselli partem desse pressuposto em Rosemberg: Cinema, Colagem e Afetos, filme que declara admiração a todo o momento, transformando-a em narrativa, cujo transcorrer passa sinteticamente a limpo a vida de Luiz Rosemberg Filho. O foco real é a produção singular dele, a maneira como atravessou os anos depois da infância marcada pela doença que lhe forçou isolamento, dando a luz a longas e curtas-metragens instigantes, sempre tomando a direção do risco, não se entregando aos ditames do mercado ou à cruel diligência ditatorial. Tornado relator da própria história, ele nos conduz por uma cativante viagem de descobertas vivazes e afetivas.
Desde o princípio, sobressai o trabalho com as imagens alheias, sejam elas de filmes ou de outros suportes. A colagem de Rosemberg ganha espelho no esforço que dele fala. Passam pela tela fragmentos de clássicos como Cantando na Chuva (1952), 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), entre vários que fizeram a cabeça do cineasta afeito a múltiplas linguagens. Por conta de uma brincadeira bem-humorada, vemos Charles Foster Kane, protagonista de Cidadão Kane (1941), dizer Rosemberg ao invés de Rosebud. Para Cavi e Caselli, o criador de filmes emblemáticos como Jardim das Espumas (1971), Assuntina das Amérikas (1976) e Crônica de Um Industrial (1978), é simbolicamente análogo, inclusive em representatividade, ao totem da pureza perdida do menino Charles. Rosemberg: Cinema, Colagem e Afetos foca essencialmente no artesão inquieto, deixando a seara pessoal num honroso segundo plano.
Existe um propósito muito evidente em Rosemberg: Cinema, Colagem e Afetos, que é justamente promover o resgate de um cineasta tratado aquém da sua importância. A inventividade inicial, essa comunicação mais umbilical com a obra de Rosemberg, dá lugar a outro tipo de percurso, mais expositivo, menor no que tange à potência, contudo pleno de reverência. Pode-se objetar a formatação da estrutura narrativa, a forma estanque do protagonista comentar suas principais realizações, em sequência, o que contraria, de certa maneira, a negação de uma linearidade mais patente, expediente visto em seus filmes. Mesmo assim, o interesse permanece, pois o discurso do narrador é recheado de pontos interessantes, seja acerca dos bastidores de suas produções, especialmente os que dão conta do embate constante com a censura, ou os que envolvem demais personalidades, como Glauber Rocha.
Rosemberg: Cinema, Colagem e Afetos é uma ode singela a Luiz Rosemberg Filho, trespassada pela intenção flagrante de fazer jus à importância desse homem pouco estudado dentro da evolução do cinema brasileiro. Mesmo ao incorrerem numa dinâmica viciada, Cavi e Caselli mantêm os dois pés nas façanhas de Rosemberg, terreno que verdadeiramente lhes interessa. A voz do cineasta nos guia pelos meandros de seus longas-metragens mais celebrados. Com poucos registros inéditos, geralmente fazendo uso do olhar alheio, então ressignificado por intervenções, incluindo a hábil montagem, o filme nos permite aproximação do personagem. Longe da iconoclastia de seu objeto de adoração, sobra o respeito evidente, a vontade de consagrar uma trajetória digna de admiração, ao menos abrindo portas e instigando o espectador a conhecer o trabalho de Rosemberg, finalidade totalmente alcançada por aqui.
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