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O cinéfilo brasileiro interessado em expandir seu horizonte além das entregas hollywoodianas de sempre já deve ter se deparado, uma vez que outra, com títulos vindos da Rússia. Porém, dentre aqueles raros exemplares que chegam por aqui, a impressão generalizada pode oscilar entre aventuras de ficção-científica muito ruins (Os Guardiões, 2017, Abigail e a Cidade Proibida, 2019) ou suspenses sobrenaturais muito ruins (A Sereia: Lago dos Mortos, 2018, A Noiva, 2017). Bom, com o lançamento de Roubo em Monte Carlo, é possível adicionar a essa lista também o subgênero ‘comédias de ação muito ruins’. É claro que há exceções – sucessos recentes e bastante elogiados, como Uma Mulher Alta (2019), Sem Amor (2017) e Leviatã (2014) está aí para servir como ponto fora da curva, por assim dizer. Mas a maioria, infelizmente, continua a se afirmar entre genéricos descartáveis e outros exemplos ainda menos memoráveis. Exatamente como o caso da vez.
Em Roubo em Monte Carlo, Matvey Levin (Vladimir Mashkov) é um empresário milionário que causa medo nos seus funcionários só de olhar para eles. Essa impressão se confirma durante uma passagem constrangedora dele chegando na sua empresa e causando terror por onde passa, com secretárias derrubando papeis, executivos virando xícaras de café em si mesmos e contadores escondendo jogos de paciência às pressas em seus computadores. É uma figura deplorável, do tipo que vira para sua auxiliar imediata e diz coisas como: “estava pensando em promovê-la ao cargo de amante”. É esse o nível. Só que, pelo jeito, ele é também um daqueles homens de negócios do século passado, cujo estilo demolidor e insensível lhe é necessário para ser bem-sucedido. Isso fica ainda mais evidente quando está ao lado do sócio, uma figura mais dócil e indecisa que, ao que tudo indica, só subiu profissionalmente graças à associação com alguém de estilo completamente oposto ao seu.
Esperto como somente ele acredita ser, Levin é também mulherengo e possui uma longa lista de conquistas amorosas. O que não fica muito claro é o motivo que o teria levado a doar seu esperma, duas décadas antes, a um banco de fertilização não muito oficial – afinal, estamos na Rússia, e o clichê dita que, uma vez no país, tudo deve ser feito por baixo dos panos, por assim dizer. Em resumo: vinte anos depois, ele possui mais de uma dezena de filhos em busca de reconhecimento de paternidade. Para evitar processos que ameacem sua fortuna, não deixa nada no seu nome, registrando o que tem como se propriedade fosse do colega de trabalho. Mas como agir quando esse morre de uma hora para a outra e a filha dele surge querendo tomar posse do que lhe é de direito – ao menos nos contratos e documentos protocolados?
Pois bem, é quando o filme, de fato, começa. Levin decide roubar a si mesmo, assaltando um dos seus bancos – localizado na Monte Carlo do batismo nacional – onde estaria arquivada a única prova de que todo o império, que agora se encontra nas mãos de uma desconhecida, na realidade pertence a ele. E como pretende levar adiante seu plano? Convocando alguns dos tantos filhos que possui. É claro que cada um terá uma habilidade especial: um deles é um hacker para invadir os sistemas de segurança, o outro é um sem noção especializado em força bruta, o terceiro é um pastor falcatrua acostumado a enrolar os demais apenas com na lábia, e assim por diante. Sem falar que entre eles haverá uma garota infiltrada que estará agindo de acordo com os interesses da concorrente. Mas como o mote é buscar o riso na audiência, não irá demorar para que essa união se revele a mais desastrada possível.
Vladimir Mashkov é um dos grandes nomes do cinema russo. Em sua longa carreira (está na ativa desde o final dos anos 1980), já estrelou sucessos como O Ladrão (1997), que foi indicado ao Oscar, e também produções hollywoodianas, como Missão: Impossível – Protocolo Fantasma (2011). Se Roubo em Monte Carlo é um filme com evidentes pretensões comerciais e que visa explorar o potencial midiático do protagonista, é de estranhar, portanto, o quanto ele acaba saindo de cena quando os diversos filhos entram na trama, dando espaço para um melodrama familiar nada convincente. Sem falar que este é daqueles longas que termina já com uma ameaça: “to be continued”, ou seja, uma continuação já foi anunciada. Se não chega a ser ofensivo ou amador, não consegue também deixar de ser problemático sob os mais diversos aspectos, tanto no uso exagerado de efeitos visuais e sonoros, como na montagem moderninha e no roteiro que ignora qualquer tipo de lógica, passando por um conjunto de atuações no mínimo constrangedoras. Ou seja, o nível de ruindade está próximo das comédias televisivas brasileiras ou dos romances juvenis tão populares nas plataformas de streaming. Descartável, na melhor das hipóteses. Reciclado e indigesto, para aqueles um pouco mais atentos.
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