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Sinopse

Enquanto Deena e Josh procuram respostas ao que aconteceu com Sam, eles finalmente encontram C. Berman, a única pessoa a ter presenciado e sobrevivido aos ataques da Bruxa. Esta mulher reclusa conta a sua história: em 1978, no acampamento Nightwing, uma série de jovens foram massacrados por um adolescente enlouquecido. Na verdade, C. Berman sabia que se tratava de uma vingança do fantasma de Sarah Fier contra os moradores de Shadyside. Começam a surgir os primeiros indícios de como vencer a maldição.

Crítica

Lançado uma semana após o primeiro filme, Rua do Medo 1978: Parte 2 (2021) reforça o funcionamento curioso desta franquia cinematográfica com aparência de série: a narrativa se inicia com uma “recapitulação de melhores momentos” da história original, caso alguém deseje começar pela segunda parte, ou tenha uma memória muito, muito curta. Ao final, exibe um teaser do terceiro filme, que estreará dentro de sete dias. Desaparece a noção de uma franquia cinematográfica que se desenvolve ao longo do tempo, respondendo aos novos recursos tecnológicos e às reações do público: agora, a saga foi construída e apresentada do início ao fim, no intervalo de três semanas. O resultado se assemelha a três temporadas liberadas (quase) simultaneamente aos consumidores compulsivos de conteúdo audiovisual, responsáveis por ressignificar o tempo de fruição do cinema. A reflexão posterior à sessão, as teorias criadas pelos fãs, a saudade, a espera, o reencontro com personagens queridos nas telas se substitui ao consumo instantâneo para corresponder aos assuntos do dia: ou você assiste à nova produção de imediato, ou dentro de alguns dias chegará outra, depois mais uma, e terá perdido o tema sobre o qual todos falam. O cinema nunca foi tão assumidamente perecível.

Esta consideração não significa que o segundo volume seja fraco ou mal feito, pelo contrário. Apesar de nos encontrarmos na era da arte elaborada em esteira de produção, trata-se de um produto industrial bem filmado, roteirizado e finalizado. Em período pandêmico, quando os blockbusters sumiram das salas de cinema durante um ano inteiro, esta foi a verdadeira indústria do audiovisual: as plataformas de streaming, oferecendo diversos conteúdos inéditos a cada semana. Felizmente, a diretora Leigh Janiak comprova o talento demonstrado no início da jornada, explorando com competência os espaços abertos do acampamento, além dos labirintos subterrâneos por onde se aventuram as personagens. Ela consegue sugerir tensão a partir do raro plano subjetivo de um invasor anônimo, dos discretos zooms rumo ao personagem ameaçado e dos elegantes movimentos de câmera na floresta escura. O segundo filme preserva o trabalho impecável de iluminação, encontrando alternativas para preservar os tons coloridos da saga, ainda que os anos 1970 não permitam a explosão neon vista em 1994. O elenco demonstra um comprometimento excepcional e respeitoso às convenções do terror, sem transformar as jovens em pobres vítimas, nem os garotos em salvadores. Sadie Sink (Ziggy), Emily Rudd (Cindy) e Ryan Simpkins (Alice) são três atrizes de talento impressionante.

Em contrapartida, o episódio intermediário abre mão da representatividade LGBT tão cara ao início da trama, além de se contentar em ser uma narrativa de passagem. O filme se inicia sem uma introdução propriamente dita, retomando as ações do instante exato onde pararam, e se conclui sem um desfecho. O resultado pode funcionar enquanto ligação no interior de um conceito amplo, porém constitui uma experiência mais fraca se visto como longa-metragem independente. Aqui, a jornada dos protagonistas depende de conhecimento dos fatos anteriores para ganhar sentido. Do mesmo modo, as surpresas da trama original se diluem: o espectador já sabe quem é Sarah Fier (cujo sobrenome se pronuncia “fear”, ou seja, medo), entende de que maneira a bruxa age, conhece seus motivos e não se espanta quando personagens apresentam hemorragias nasais, além de antecipar o que acontecerá quando se derrama sangue sobre os restos mortais enterrados no solo. O segundo volume apresenta poucas novidades quanto ao funcionamento sobrenatural. Pelo menos, livre da obrigação de explicar o conflito, pode passar àquilo que lhe interessa: a perseguição de adolescentes indefesos por um maníaco carregando um machado.

Rua do Medo 1978: Parte 2 oferece uma experiência mais livre para explorar os cânones clássicos do terror. Os jovens marginais do segmento anterior são substituídos por uma liderança exclusiva das meninas contra algozes masculinos. Se 1994 evocava a luta das minorias, a sequência se concentra no combate ao machismo. Ao contrário de tantas heroínas dos slashers convencionais, executadas por sua sexualidade livre, as garotas rebeldes ganham oportunidade de sobrevivência, mesmo dentro de uma saga com coragem para assassinar de modo cruel os protagonistas. A narrativa sustenta a notável ambição de andar simultaneamente para frente e para trás: enquanto avança na busca contemporânea de Deena (Kiana Madeira) e Josh (Benjamin Flores) Jr., permite voltar no trauma de C. Berman (Gillian Jacobs). Frases esperançosas do tipo “Nós podemos salvar Shadyside esta noite!” se tornam melancólicas, pois o espectador tem plena ciência de que os planos fracassarão, em função dos acontecimentos de 16 anos depois. A sugestão de que o presente só pode ser compreendido a partir de um mergulho no passado transparece uma crença preciosa no valor da História e da ciência. Neste caso, as matanças somente se perpetuam porque os policiais homens deixaram de acreditar nos fatos e nas palavras das mulheres. Os indícios da verdade continuam plantados na terra, ignorados por todos.

Em paralelo, a continuação começa a associar as bruxas medievais às mulheres perseguidas de hoje. O discurso empoderado se estrutura em torno destas figuras lésbicas, questionadoras, combatentes, marginais e orgulhosas de seus corpos. Seriam elas as bruxas contemporâneas, acusadas devido à incompreensão e ao preconceito dos grupos reacionários? O roteiro fornece indícios de que Sarah Fier seja uma vítima, ao invés de grande vilã, enquanto discute o feminicídio através de frases como “Às vezes, matar alguém não é assassinato”. Em sua carnificina mais clássica do que pop, relembrando O Massacre da Serra Elétrica (1974) e mencionando Carrie, a Estranha (1976), a segunda parte traz um terror habilidoso, ainda que dependente em excesso do resto das referências e da obrigação de resgatar alguns personagens e apresentar outros. 1978 também proporciona a imagem mais impactante da saga até agora: um coração gigantesco e monstruoso pulsando sob a terra, representando tanto uma forma de vida quanto uma ameaça de morte. Este elemento coroa um espaço ironicamente natural e construído pelos homens; confuso e orientado por mapas; preciosíssimo e coberto de fezes. Apenas os dois volumes de It (2017 - 2019) haviam trazido ao horror contemporâneo simbologias tão potentes de vida e morte, de trauma e cura.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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