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Sinopse

Depois de ficarem separados por um tempo, Pablo e Suzana acabam se reencontrando num motel. É aí que começam a conversar e questionar os motivos que levaram ao fim do relacionamento.

Crítica

Rúcula com Tomate Seco não apresenta algo de novo no front das obras focadas essencialmente nas vicissitudes dos relacionamentos amorosos. No centro da trama, um ex-casal em crise, debatendo a relação num motel de beira de estrada, ao qual foi intempestivamente depois de uma festa regada a bebida alcoólica. Desde a primeira tomada, fica evidente a ausência gritante de espontaneidade na encenação proposta pelo diretor Arthur Vinciprova, ele também intérprete de Pablo, o rapaz que rumina o passado ao lado de Suzana (Juliana Paiva). Não bastasse a óbvia falta de habilidade para tornar minimamente críveis as ressonâncias de uma discussão de relação como a apresentada, a câmera passa longe de conseguir significar alguma coisa do ponto de vista puramente cinematográfico. É, portanto, afetado por fragilidades de toda sorte que o filme caminha inexoravelmente à irrelevância quase completa.

Visualmente, o registro é muito pobre. Há uma inexplicável recorrência de utilização da lente grande angular, procedimento falho no concernente à tentativa de proporcionar sentido adicional ao que as palavras pouco expressam. Aliás, a sensação de aleatoriedade na construção da dimensão fotográfica do longa é reforçada pela fragilidade da concepção da iluminação. Ainda na seara estrutural, Rúcula com Tomate Seco possui uma marcação de cena engessada sobremaneira, responsável por acentuar a artificialidade das interações. Os diálogos saem constantemente truncados, deixando clara a decora das falas, ou seja, minando qualquer intenção de naturalidade e verossimilhança. O roteiro até que tenta fugir do óbvio, propondo atravessamentos de estilhaços do ontem no presente de reavaliação, mas a execução não favorece, sequer, os parcos instantes bem intencionados, embora já debilitados por si.

A cenografia é outro ponto capital ao fracasso de Rúcula com Tomate Seco. Do motel, cenário principal, às arquibancadas do jogo de futebol, tudo transpira uma simulação ululante e extremamente contraproducente. Certos fragmentos parecem retirados de quadros de programas televisivos humorísticos (ruins), dada a sua elaboração, especialmente, estética. Não fossem esses problemas, a realização de Arthur Vinciprova se ressente, ainda, da predominância de uma ingenuidade típica das convenções amorosas em voga. Relacionamentos humanos são discutidos a partir de seus aspectos óbvios, com o agravante da presença de elementos periféricos completamente deslocados, como a objeção do pai de Pablo – interpretado por Daniel Dantas no piloto automático – ao namoro do filho por puro moralismo. Dentro desse contexto, o sexo é representado da forma mais pudica e envergonhada possível. Um verdadeiro desserviço.

Rúcula com Tomate Seco é um equívoco praticamente total, com instantes beirando o constrangedor. Exemplo disso, a discussão acerca de pormenores sexuais que sucede uma briga aparentemente definitiva. A mulher, primeiro, ataca o homem, contestando sua inépcia na cama para, logo depois, propor uma trégua ao desdizer-se e mencionar os orgasmos que ele lhe proporciona, como nenhum outro. Arthur Vinciprova não é capaz de olhar criticamente a esses comportamentos estereotipados que reforçam velhas e cansadas máximas e, num sentido mais amplo, à prevalência da satisfação do desejo masculino para a manutenção da harmonia do casal. O plano desvendado quando o filme já se aproxima do seu fim depõe contra diversos recursos lançados antes, tornando o todo ainda mais incongruente. Talvez, depois dessa jornada penosa, seja difícil comer novamente pizza de rúcula com tomate seco, ao menos, sem a lembrança de um gosto amargo. E não é da rúcula.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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Marcelo Müller
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Filipe Pereira
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MÉDIA
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