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Sinopse

O ano de 1976 representou uma das temporadas mais acirradas da Fórmula 1. E o destaque estava na relação dos pilotos Niki Lauda e o James Hunt, que eram rivais dentro e fora das pistas.

Crítica

Ron Howard, apesar de alguns deslizes na carreira, como os filmes baseados nos livros de Dan Brown (a saga Robert Langdon) e a comédia O Dilema (2011), sempre foi um diretor correto e seguro ao tratar de sua especialidade: cinebiografias. Vencedor de dois Oscar (direção e filme) por Uma Mente Brilhante (2001), o cineasta já trabalhou o tema com qualidade acima da média em produções como Apollo 13: Do Desastre ao Triunfo (1995) e A Luta Pela Esperança (2005). Contudo, como havia dados sinais de progressão com o excelente Frost/Nixon (2008), Howard chega no ápice de sua carreira com um filme que muitos nem deram a devida atenção quando foi anunciado, além de ter passado longe da avalanche de prêmios que merecia. Só para se ter uma idéia, Rush: No Limite da Emoção, chegou a constar com 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, medidor da crítica mundial. E os elogios não são à toa.

A trama se situa nos bastidores da Fórmula 1 dos anos 1970, especialmente na rivalidade entre os pilotos James Hunt (Chris Hemsworth) e Niki Lauda (Daniel Brühl). O primeiro, inglês, é o legítimo popstar automobilístico: festeiro, mulherengo, beberrão, simpático com todos à sua volta, impulsivo tanto na vida quanto nas pistas. Lauda é totalmente o oposto: o austríaco é metódico em suas atitudes, não sorri para ninguém e entende a mecânica dos carros como poucos. Em comum, além de praticarem o mesmo esporte, a origem de ambos: tanto Hunt quanto Lauda foram rejeitados por suas famílias quando decidiram entrar no ramo automobilístico. Talvez por este pequeno detalhe que os dois se reconhecem como opostos e disputam diretamente um com o outro. Nesta briga acirrada, ambos evoluem da Fórmula 3 direto para a F1 (cada um com seus meios) e acabam entrando em confronto direto pela primeira colocação no ranking. Lauda, com seu alto conhecimento sobre carros, constrói com sua equipe um modelo praticamente imbatível, enquanto Hunt é obrigado a trabalhar com um automóvel não tão bom, contando mais com sua impetuosidade e velocidade no Gran Prix. O ponto de possível ruptura na inimizade para o surgimento da admiração e do respeito um pelo outro (algo já latente desde o início, mas ainda imaturo) ocorre quando Lauda sofre um acidente que lhe deixa com queimaduras graves.

Um dos aspectos mais interessantes da produção é o roteiro curto e grosso de Peter Morgan (já indicado ao Oscar duas vezes), que foca diretamente na vida dos dois protagonistas sem deixar nenhum se destacar mais do que o outro. Inclusive há uma total humanização dos personagens, deixando que o público decida por qual dos dois torcer. Ou melhor, torcer por ambos, já que suas fraquezas são expostas na tela de uma forma crua, deixando o espectador totalmente a par da situação em que se encontram. Não há maniqueísmos, nenhum é "pior" ou "mais malvado" que o outro. E este argumento não seria tão interessante se não houvesse um belo trabalho de montagem de Daniel P. Hanley e Mike Hill, parceiros habituais de Howard e vencedores do Oscar por outro filme do diretor, Apollo 13. A dupla situa as similaridades das histórias dos competidores a todo momento, mostrando as diferenças que cada um seguiu em diversos aspectos, seja na própria profissão, na vida familiar ou com seus amores.

Por sinal, as histórias paralelas, que poderiam atrapalhar o desenvolvimento da trama como um todo (algo praticamente básico em qualquer cinebiografia, como ocorreu com Jobs, 2013), na verdade agregam. Neste quesito entram o casamento rasteiro de Hunt com Suzy Miller (Olivia Wilde, belíssima e competente) e o romance sem floreios de Lauda com Marlene Knaus (Alexandra Maria Lara), que são pontuais para mostrar diferentes momentos da vida dos pilotos e como estas mulheres acabaram alterando (ou não) sua forma de pensar a competição.

Porém, acima de tudo, Rush não seria um filme tão grandioso não fosse o trabalho da dupla principal. Chris Hemsworth foi uma aposta duvidosa por ter como maior destaque na carreira o papel do Deus do Trovão no Universo Cinematográfico Marvel, mas aqui ele se despe da pele do herói e assume um personagem que evolui em sua mentalidade por conta desta rivalidade com seu principal inimigo das pistas. Inclusive um cacoete de Hunt (a mania de vomitar sempre antes das competições) é antecipada por um nervosismo no próprio olhar do ator. Já Brühl, com talento reconhecido há anos, desde que foi "descoberto" pelo mundo em Adeus, Lênin (2003) trata com naturalidade seu personagem, difícil já em essência, mas que mesmo assim conquista o público por sua excentricidade. Trabalhos dignos de prêmios.

Por sinal, a direção de arte e a fotografia do filme também são um caso à parte. Ao remeter às pigmentação e às cores usadas nos anos 1970, a impressão que se passa é de realmente ver um filme daquela época. As sequências de corrida (e não são poucas) são o mais realistas possíveis, deixando qualquer fã de Fórmula 1 e mesmo quem é leigo no assunto em êxtase na poltrona. Um trabalho mais do que merecedor de tantos elogios e, definitivamente, um dos melhores de 2013. Imperdível.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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