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Crítica


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Sinopse

Saint-Laurent reinou no mundo da alta costura francesa como um de seus grande nomes. O processo criativo, os relacionamentos amorosos, as dificuldades emocionais e as polêmicas com o marido e empresário Pierre Berger.  

Crítica

Indicado pela França para disputar uma das vagas de melhor filme estrangeiro na próxima edição do Oscar, Saint Laurent está longe de ser uma cinebiografia convencional, ainda que invariavelmente percorra caminhos mais ou menos comuns para expor os contornos e a essência do famoso estilista que, por meio de suas criações, revolucionou não apenas a alta costura, mas também algo do comportamento feminino. O cineasta Bertrand Bonello mostra esse personagem por diversos ângulos, abordando seu itinerário criativo, a conturbada vida pessoal, os empreendimentos que o alavancaram à celebração mundial, contudo sempre evidenciando duas de suas características principais: a solidão e o pendor à autodestruição.

Tudo começa com a ligação a um jornalista, na qual Yves Saint Laurent (Gaspard Ulliel) diz que aceita conceder uma entrevista. Retrocedemos no tempo para vê-lo em ação, trabalhando milimetricamente na confecção da próxima coleção, obcecado pela perfeição, pelo caimento ideal dos tecidos, pela harmonia das cores, tal e qual um pintor confabulando com a própria criatividade em meio às tintas que preenchem pouco a pouco uma tela em branco. Enquanto Saint Laurent se firma entre os maiores, seu marido e empresário Pierre Berger (Jérémie Renier) cuida dos negócios, transformando as iniciais YSL em marca forte. A narrativa segue entrecortando o tempo, negando a linearidade, procurando extrair algo da fragmentação. Entretanto, tal efeito soa mais puramente estilístico que funcional.

Saint Laurent é um filme longo, de desenvolvimento solavancado. Bonello detém-se pouco em cada segmento, talvez para justamente amplificar essa fragmentação que a não linearidade por si propõe, mas insiste em voltar desnecessariamente a questões já bem trabalhadas, como, por exemplo, o paradoxo da solidão potencializada pela fama. Essa sensação de andar em círculos diminui a partir do momento em que a busca desenfreada de Yves por algo que lhe tire da inércia existencial passa a ser central, quando ele acentua a penhora da própria saúde e de vínculos próximos, numa fase marcada pelo relacionamento com Jacques (Louis Garrel), bon vivant que lhe apresenta as orgias e os prazeres do risco, e pelo consumo acentuado de drogas.

Saint Laurent se volta para complexidades que capas de revistas, matérias sensacionalistas e manchetes de jornal não alcançam. A prepotência do protagonista surge menos como inevitável efeito colateral de seu dom, e mais na condição de escudo contra insegurança. Bertrand Bonello faz um filme instável, perdido demasiado – sobretudo nos dois primeiros terços - na alternância entre os momentos fortes e as passagens focadas no banal, atributo que, infelizmente, se desprende das situações e contamina a encenação de modo venoso. É um filme que cresce muito quando calcado na ruína íntima de Yves Saint Laurent, nos instantes em que a notoriedade, o dinheiro, a adulação e o reconhecimento, fatores externos, não lhe salvaguardam de si mesmo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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