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Crítica


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Sinopse

Uma família aparentemente normal, moradora nos arredores de Lisboa, vê sua vida ser transformada de modo irreversível no prazo de menos de uma semana.

Crítica

São inegáveis os traços de tragédia clássica presentes em Sangue do Meu Sangue, filme de João Canijo. O drama contínuo que se desenrola no seio de uma família suburbana portuguesa, comandada com afinco pela matriarca Márcia Fialho, interpretada pela ótima atriz Rita Blanco, não dá trégua ao público. Márcia vive em um constante equilíbrio entre o calor do afago de uma mãe zelosa e a dureza áspera de uma matrona autoritária que, na verdade, não quer nada mais do que sua prole andando nos trilhos, com uma vida correta e próspera. Em sua pequena casa, vivem seus filhos Claudia (Cleia Almeida), estudante com casamento marcado, porém adúltera, João Carlos (Rafael Morais), envolvido com o tráfico de drogas, e sua irmã Ivete (Anabela Moreira), cabeleireira falida que se julga um fantasma vagando entre os parentes.

Também habitam a residência os problemas e as intrigas que atormentam cada um dos personagens. Discussões, desconfortos e pequenas agressões tornam-se triviais – e não apenas na casa de Márcia. As brigas diárias dos vizinhos extrapolam as paredes e invadem o ambiente, misturando-se às crises da família e ajudando a elaborar um quadro em que a paz é artigo de luxo. O clima geral é de mal estar, para dizer o mínimo.

Aos poucos, entramos em contato com um enredo revelador, que transforma situações triviais do cotidiano de moradores de qualquer área carente em histórias intrincadas e difíceis de lidar, repletas de vielas estreitas e escuras, quase sem saídas, muito semelhantes àquelas pelas quais os personagens do longa transitam. A arquitetura, por sinal, é um elemento importante na composição do filme. Paredes, janelas, muros e grades recortam as cenas ao dividir a tela do cinema, ou então reenquadram enquadramentos pré-definidos pelo cineasta, ampliando ainda mais a sensação de rachadura familiar.

Muitas vezes, as discussões entre personagens ocorrem simultaneamente, divididas pelos cômodos da casa, mas ainda assim capturadas em um mesmo take, indicando não apenas um tratamento metalinguístico de Canijo, mas também sua ótima direção de atores. Apesar da confusão geral, as cenas são inteligíveis – e inteligentes. Em um filme em que testemunhamos a matriarca Márcia fazer de tudo para impedir a desintegração de sua família, que caminha a passos largos em direção à fins trágicos, o destaque não poderia ser outro que não a excelente atriz Rita Blanco.

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é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
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