Saraband
Crítica
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Sinopse
A advogada Marianne (Liv Ullmann), 30 anos após estar divorciada, decide visitar impulsivamente seu ex-marido, Johan (Erland Josephson). Ele alcançou a independência financeira em razão de ter recebido uma grande herança, assim deixou a universidade e agora vive isolado em uma casa no interior. Ao chegar, ela testemunha o relacionamento atormentado entre Johan, seu odioso filho Henrik (Börje Ahlstedt) e uma neta de 19 anos, Karin (Julia Dufvenius). Incapaz de lidar com a morte da esposa, que faleceu há 2 anos, Henrik expressa sua dor através de uma nada saudável obsessão com Karin, sua filha adolescente. Ignorando os protestos de Henrik, Johan oferece mandar Karin para um prestigiado conservatório de música, forçando-a a escolher entre ficar com seu atormentado pai ou ter um futuro promissor como uma violoncelista.
Crítica
A câmera vai se afastando para revelar a mesa na qual uma senhora, já com seus sessenta e tantos anos, observa fotos antigas e conta histórias sobre as pessoas retratadas. Se a textura da imagem, em vídeo digital, causa estranhamento, a temática familiar e relacional não deixa dúvida: trata-se de um Ingmar Bergman. É a abertura de Saraband, o último longa do diretor, feito para a TV sueca.
A mulher em questão é Marianne (Liv Ullmann). Ao decidir visitar Johan (Erland Josephson), seu ex-marido que não vê há 30 anos, ela acaba descobrindo muito sobre a família do antigo amor, ele que agora já possui netos. Das relações entre as pessoas, suas dificuldades e angústias, nasce uma trama que acaba por fazer com que Marianne descubra faces de si mesma que acreditava perdidas.
Nada mais Bergman, portanto. O tema familiar e a investigação psicológica dos personagens atingem aqui um de seus ápices, fazendo frente a trabalhos do calibre de Sonata de Outono. Não por acaso, a presença da música ocorre novamente: se no filme de 1978 era o piano que descortinava a complexa relação entre mãe e filha, agora é o violoncelo que une (ou distancia) pai e filha no compasso de uma sarabanda, estilo de composição utilizado por autores como Bach, por exemplo.
No caso, esse pai é o carrancudo Henrik (Börje Ahlstedt), massacrado pela vida. Filho de Johan, ele tenta fazer com que a filha, Karin (Julia Dufvenius), ainda entrando na vida adulta, tenha a mesma dedicação e paixão que ele pelo instrumento.
Bergman nos mostra essa relação pelos olhos de Marianne, o que é uma mudança interessante se pensarmos que em geral o diretor apresenta o conflito de um ponto de vista neutro ou imparcial. Por outro lado, a decupagem segue dando espaço para os atores e cenários, só cortando quando necessário e permitindo que o espectador se demore sobre os detalhes que bem entender. A fotografia, "lavada" pela textura do vídeo digital, acaba vibrando nas cores do outono (tinha que ser outono!) sueco.
Graças à escolha de alguns detalhes, atores e nomes de personagens, muito se fala sobre o filme como sendo um spin off da série Cenas de um Casamento (1973), dirigida por Bergman para a TV sueca. A semelhança, no entanto, ocorre apenas por meio desses easter eggs plantados pelo diretor: Saraband funciona sozinho como filme e sua narrativa é fechada em si mesma. Ainda que a existência da série seja ignorada, é possível compreender o filme em sua integralidade.
Mais do que uma obra obrigatória para os fãs do inesquecível diretor, Saraband é um profundo, dolorido e, todavia, interessante estudo das relações humanas, da formação do caráter e de como, apesar de tudo mudar, a vida sempre dá seu jeito de se repetir. Um trabalho de gênio, do tipo que só Bergman é capaz de entregar.
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Obrigado. Elucidativo