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Há alguns anos, precisamente nos primórdios do YouTube, se tornou uma verdadeira febre compartilhar aqueles vídeos sacanas em que uma figura monstruosa aparece de supetão, aos berros, em meio a situações insuspeitas, para quase matar do coração o espectador. A brincadeira de mau gosto não é exatamente contemporânea da febre do found footage, levando em consideração a fundação em 2005 do serviço, hoje, do Google e que o gênero cinematográfico, fundamentado na ideia da construção de um produto audiovisual com base em imagens encontradas fortuitamente, mesmo surgido nos anos 80, só ganhou popularidade global após A Bruxa de Blair (1999). Contudo, #Screamers junta esses dois elementos/traços, valendo-se do que eles têm de mais ordinário e rasteiro. Na trama, seguimos o cotidiano de Tom (Tom Malloy) e Chris (Chris Bannow), jovens empreendedores voltados à internet. A presença das câmeras se explica pela filmagem do vídeo institucional, tarefa dos funcionários.
Mais de dois terços de #Screamers ocorre dentro da empresa dos protagonistas. Como o forte do site deles é a exibição de vídeos, causa comoção interna o envio anônimo do exemplar com uma menina caminhando no cemitério, logo interrompida pelo surgimento repentino de uma figura aterrorizante, de voz estridente. É difícil acreditar na mobilização que tal ocorrência acarreta no ambiente laboral, com os dois proprietários de um negócio extremamente promissor se ocupando pessoalmente de fazer contato com os produtores do material, a fim de lhes propor exclusividade. O filme de Dean Matthew Ronalds, ainda, cai em armadilhas recorrentes quando o assunto é esse tipo de produção. Nem sempre soa plausível a presença do dispositivo gravando determinadas situações. Para piorar, talvez ciente disso, o realizador coloca na boca dos personagens explicações acerca dessas incongruências. Assim, diversas vezes, as próprias pessoas buscam, em vão, justificar verbalmente a necessidade dos equipamentos.
Parece que o longa-metragem vai ganhar alguma densidade quando se inicia uma investigação virtual sobre os autores do famigerado e rentável vídeo. Os caminhos tortuosos levam à identidade de uma mulher desaparecida há muito, bem como ao nome de um dos suspeitos de ser o lendário Jack, o Estripador. Ambos são dados praticamente irrelevantes, pois sua deflagração não altera sensivelmente a dinâmica pré-estabelecida, detida na interação entre os patrões e seus dois empregados mais chegados, Griffin (Griffin Matthews) e Emma (Emanuela Galliussi). #Screamers não se beneficia das possibilidades do mistério, postergando o máximo possível o confronto, falhando na tentativa de, enquanto isso, arquitetar um ambiente de apreensão. Porém, mais frustrante que a debilidade da concepção do caminho é o encerramento canhestro e anticlimático, formalmente semelhante aos vídeos aludidos, ou seja, privilegiando a provocação de sustos banais com a aparição estranha (de novo) aos berros.
Ao valer-se dos componentes clássicos do found footage, Dean Matthew Ronalds se esquece, por exemplo, de investir na espontaneidade, algo capital ao gênero. Os atores não conseguem transmitir naturalidade, deixando evidentes as marcações de cena, o que invalida qualquer esforço para conferir verossimilhança ao procedimento de captura amadora de imagens. #Screamers é um filme combalido, também, pela malfadada tática de guardar o “melhor” para os instantes derradeiros. Mas, esse às na manga é tão decepcionante, e até primário, quanto o desenvolvimento da trama ao seu ápice frustrante. O cineasta não logra êxito na extração de algo desse mundo corporativo digital em constante mudança. Já a fase de apresentação da companhia é puerilmente empenhada em espelhar as diretrizes internas do Google, alinhando-se, portanto, a um modelo de negócio pautado pela modernidade. Não que isso tenha importância dentro desse percurso de ideias requentadas e procedimentos desgastados.
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