Crítica
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Sinopse
Não está fácil para ninguém, mas principalmente para um grupo de amigos paulistanos da classe média. Financeiramente quebrados, eles decidem dar um golpe que pode transformar suas vidas.
Crítica
Se muito já se falou sobre os problemas de captação de verbas, elaboração de roteiros e questões técnicas nas filmagens e finalizações, há um bom tempo se sabe que o maior entrave atual do cinema brasileiro é a distribuição. E um bom exemplo disso é Se Nada Mais Der Certo, um dos longas mais premiados da temporada 2008 e que até hoje não conseguiu ganhar as telas de uma forma decente. Presença freqüenta há um ano em festivais, mostras, seleções e pré-estreias, o novo trabalho do diretor brasiliense José Eduardo Belmonte é uma obra adulta e amarga, que espelha uma dura realidade nacional sem pieguismo ou crueldade, mas acima de tudo com muita certeza e serenidade. E os fatores para este resultado impressionante são vários, que vão desde a boa escolha do elenco e a mão segura do realizador até uma história muito bem amarrada e repleta de diálogos ricos e envolventes.
Se Nada Mais Der Certo trata de um triângulo amoroso formado por um jornalista frustrado (Cauã Reymond, que revela ter potencial suficiente para ser protagonista), uma garota andrógina e sem rumo (Caroline Abras, revelada em curtas como Alguma Coisa Assim e Perto de Qualquer Lugar) e um taxista fracassado (João Miguel, em mais um desempenho notável). Os três se encontram por acaso: o primeiro vai a um bar da periferia afogar as mágoas, acaba encontrando a segunda e, no fim da noite, sendo levado para casa pelo terceiro. Juntos, vão descobrindo aos poucos que o dia a dia talvez não precise ser tão difícil quanto o imaginado. Vão tramando planos, golpes, buscando soluções para os problemas que enfrentam. E, ao mesmo tempo, seguem sonhando com algo melhor para cada um. Nem que seja um dia na praia, mas livre das pressões e das cobranças da cidade grande e da vida adulta. Mas esta frágil harmonia entre eles não se sustentará por muito tempo. Algo além se fará presente, incomodando e causando fortes perturbações. Eles querem fugir e se encontrar. Duas coisas simples, porém muito raras.
As intenções de Belmonte enquanto diretor, produtor e roteirista (tarefa esta dividida com Breno Alex e Luiz Carlos Pacca) ficam muito claras no decorrer de Se Nada Mais Der Certo. Onde foram parar os valores, a ética e a moral em nossa sociedade? Como é dito no material de divulgação do filme, “a gente é educado para não roubar, mas não para não ser roubado”. Ou seja, a inversão das regras, como conviver em uma realidade em que o importante é ser o mais esperto, o mais ágil, em sempre sair ganhando e não se preocupar em fazer os outros de tolos? Do que adianta estudar, buscar uma profissão, tentar ser correto e obedecer o que lhe é dito se quem se dá melhor são os malandros, os corruptos, os desonestos? E quando as desilusões se acumulam, as derrotas se sucedem e os sonhos acabam? O que fazer se nada mais der certo? Essa é uma pergunta de geração, que muitos se fazem por todo país, do acordar ao ir dormir, e agora ganha voz numa experiência audiovisual de grande valor e ressonância.
Grande vencedor do Festival do Rio e do Cine Ceará, Se Nada Mais Der Certo foi premiado também no Festival de Brasília e nos festivais de cinema brasileiro de Miami e de Los Angeles. Uma série de reconhecimentos que deveria ser suficiente para despertar a atenção dos exibidores e, consequentemente, do público. No entanto, o que temos é uma pérola vista apenas por cinéfilos e curiosos mais antenados, e que merece ser descoberta pela crítica e por uma audiência maior e mais significativa. Um filme forte, com coragem para dizer o que é necessário, doa a quem doer e sem pedir desculpas. Uma aula de sobrevivência, mas acima de tudo, uma lição de cinema.
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