Sem Pena
Crítica
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Sinopse
Nenhuma população carcerária cresce na velocidade da brasileira que já é a terceira maior do mundo. Sem Pena desce ao inferno da vida nas prisões brasileiras, para expor as entranhas do sistema de justiça do país, demonstrando como morosidade, preconceito e a cultura do medo só fazem ampliar a violência e o abismo social existente.
Crítica
Eugenio Puppo não é um novato no cenário cinematográfico nacional. Realizador experiente, já dirigiu produções para o cinema e para a televisão, curtas e longas-metragens. Por isso, a expectativa em relação ao lançamento de seu trabalho mais recente, Sem Pena, não era baixa. E pelo mesmo motivo o resultado inevitavelmente gera um certo grau de desconforto entre os espectadores mais familiarizados ao cinema documental brasileiro. Afinal, se em projetos anteriores ele vasculhou a obra de cineastas reconhecidos, como Carlos Reichenbach (Relatório Confidencial, 2010) e Ozualdo Candeias (Ozualdo Candeias e o Cinema, 2013), desta vez simplesmente incorpora o estilo de outros na sua obra, fazendo um pastiche pouco inspirado. O resultado chega a ser interessante em alguns momentos, porém pouco inspirado num todo.
Exibido na mostra competitiva do 47° Festival de Brasília, Sem Pena dialoga diretamente com a narrativa empregada por Maria Augusta Ramos – ela mesma premiada na capital federal como Melhor Direção por Morro dos Prazeres (2013), capítulo final de sua trilogia sobre os bastidores do poder judiciário no país, iniciada com Justiça (2004) e seguida por Juízo (2007). Ora, se temos anteriormente três bons e reconhecidos longas do gênero sobre o assunto, o que esta nova iniciativa a respeito poderá oferecer de novo e diferente? Infelizmente, muito pouco, pois a narrativa, os exemplos, os personagens e o ponto de vista adotados são muito similares. A conclusão de ambos é que a corrupção entre aqueles que deveriam pregar a lei e a ordem no Brasil é tão impressionante quanto a quantidade de infratores que temos espalhados pelo país e que, uma vez pegos pela malha do sistema, caminham inevitavelmente a uma piora considerável, ao invés de uma necessária – porém utópica – recuperação.
A proposta de Eugenio Puppo em Sem Pena é mostrar que os envolvidos na questão judiciária brasileira não possuem rosto – seus erros e acertos são muito próximos, em última instância. Assim, temos mais de vinte depoimentos no decorrer do filme, de desembargadores a ladrões de galinha, todos incógnitas. Ouvimos suas vozes, aos poucos vamos compreendendo seus dramas e posições, porém somente durante os créditos de encerramento é que temos a possibilidade de nos depararmos com suas feições e, principalmente, expressões. Enquanto isso, vamos tentando imaginar os motivos que os levaram a ser entrevistados, quais suas relevâncias para o tema e o que podem propor de novo ao debate. E a conclusão é que muitas coisas se repetem, o inédito está longe de estar presente e o círculo vicioso parece ter tomado conta da sociedade, que simplesmente não se importa mais com as injustiças e absurdos cometidos em nome de uma lei que parece ter pouco – ou nenhum – significado.
Sem Pena bate em teclas pertinentes, porém sem que consiga se sustentar de forma independente, como algo próprio e diferenciado. Qualquer pessoa habituada a se manter minimamente informada, que tenha uma noção relativa a respeito dos mandos e desmandos que regularmente acontecem ao nosso redor, irá encontrar na tela apenas uma confirmação daquilo que já conhecia – ou, ao menos, suspeitava. Até o título, um trocadilho pouco inspirado, acaba soando óbvio – afinal, se faltam penas competentes à altura dos crimes cometidas, os envolvidos, relegados ao esquecimento da nação, também carecem pela falta de pesar. Somando-se a isso, o ritmo lento e a câmera pouco intrusiva complementam a resignação do projeto em se manter como uma voz que apenas reitera problemas evidentes, ao invés de servir para apontar novos – e, principalmente, discutir soluções.
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