Sementes do Nosso Quintal
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Fernanda Heinz Figueiredo
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Sementes do Nosso Quintal
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2012
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Te-Arte é uma escola que ensina as crianças de forma lúdica, com brincadeiras, sem separação de idades, e em contato com a natureza e com os animais. Sua idealizadora é Thereza Soares Pagani, que fez desse lugar seu maior objetivo de vida, e ensina a valorização da infância. Lá as crianças aprendem com arte, literatura, música e cultura popular brasileira.
Crítica
Uma escola onde valores como a criatividade, o companheirismo e o respeito ao próximo são ensinados a partir de lições com músicas, cuidados no meio ambiente e muita brincadeira pode parecer algo inimaginável nos dias de hoje, mas ela existe e fica em São Paulo. A Te-Arte é o tema de Sementes do Nosso Quintal, documentário de Fernanda Heinz Figueiredo que homenageia a primeira instituição de ensino por onde a realizadora passou com imagens e depoimentos sobre o dia-a-dia e o método de ensino estabelecido no local.
Os primeiros minutos do longa, com a voz em off de Therezita Pagani, a dona da escola, servem para ambientar o espectador neste lugar tão fora do usual. Em planos fechados, detalhes da instituição, suas árvores, a areia dos pátios, a simplicidade e a decoração dos cômodos, os bonecos, os animais, e, é claro, crianças brincando. Therezita, hoje com 81 anos, é um personagem que parece saído da ficção: bondosa, inteligente, forte em suas palavras, delicada com seus estudantes, os pais deles e todos os funcionários à volta. Capixaba chegada em São Paulo aos 21 anos, foi na cidade que construiu sua vida e estabeleceu este local raro de ensino.
É na Te-Arte que os pequenos aprendem trabalhos manuais, como jardinagem, tocam instrumentos musicais, brincam com animais, brinquedos que parecem não existir mais. Lá não se compra material escolar, tudo que é repassado para as crianças de até oito anos são doações. Todos os dias, Therezita não apenas brinca ou ensina de forma lúdica, mas também incute nos pequenos um modo socrático de ensino, com questionamentos filosóficos que vão da ignorância de se saber quem é, o que se pode ser e o que deve ser dividido. Os pais também são ensinados. Em reuniões, a dona da escola reflete sobre como os adultos devem deixar seus filhos, mas sem nunca repassar a responsabilidade do carinho e da educação doméstica para quem não trabalha em casa.
Therezita tem uma visão de mundo fantástica que vai na contramão da maioria. Por isto, Sementes do Nosso Quintal traz, em si, não apenas esta caracterização de uma escola adversa dos moldes convencionais, mas leva à tona a discussão sobre a educação nos dias de hoje. O problema, se podemos chamá-lo assim, já que a intenção da realizadora talvez não fosse esta, é a falta de um argumento questionador, do quanto esta escola pode ser viável nos dias de hoje e como o formato da educação inserida pode servir como oposição ou complemento às escolas contemporâneas tradicionais, que hoje investem mais em ensino de línguas estrangeiras e tecnologias desde a primeira infância – e o que digo a seguir estou generalizando com base em informações de cunho público – sem a exata preocupação como os valores ensinados na Te-Arte.
Assim, as mais de 450 horas de trabalho condensadas no longa de quase 120 minutos servem mais como um belo exemplar de uma idéia que dá certo, a escola diferenciada, mas que não questiona a fundo como ela pode agregar ou, inclusive ser melhor (se assim pode-se dizer) do que o formato tradicional. As captações dos momentos diários são curiosas, mas parecem ser mais uma homenagem – o que é atestado pelo fato da diretora do filme ter frequentado a escola quando pequena – do que uma reflexão escancarada sobre como a educação pode adotar novos métodos sem se opôr ao desenvolvimento intelectual, emocional e humanitário das crianças. É um belo documentário de caráter descritivo, mas que talvez fosse mais rico se fizesse como a própria dona Therezita: questionasse o mundo à sua volta.
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