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Crítica


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Sinopse

Cameron é internado num hospital psiquiátrico após ataques de fúria e uma onda de depressão. Então fica longe de sua esposa e das duas filhas do casal. No entanto, guinadas inesperadas vão fazê-lo refletir sobre o amanhã.

Crítica

É mais do que notório que a grande maioria dos espectadores, ao se dirigirem a uma sala de cinema, estão à procura principalmente de entretenimento e de diversão. Querem um refresco de suas rotinas diárias, algo leve e despreocupado. Portanto, qualquer realizador que se dedique a um tema um pouco mais profundo e problemático deve prever de antemão que encontrará alguma dificuldade em relação à receptividade do público – a não ser que tome certas medidas prévias, como na abordagem do assunto e na escolha do tema. Cuidados que a cineasta de primeira viagem Maya Forbes certamente teve em Sentimentos que Curam, um filme sério e com alguns momentos muito tensos, mas ainda assim dono de uma narrativa fácil de ser acompanhada, graças principalmente ao bom elenco escolhido. O que torna ainda mais complicado entender o quase total desprezo que a produção teve nas bilheterias e também junto à crítica.

A história se passa nos anos 1970, e tem como ponto de virada quando Maggie (Zoe Saldana) percebe que o único caminho para melhorar as condições da família é voltando a estudar. A questão é que ela está em Boston e cuidando sozinha das duas filhas, e a faculdade que está lhe oferecendo uma bolsa que possibilitaria esse retorno é em Nova York, há algumas horas de distância. O marido, Cameron (Mark Ruffalo), é chamado, então, para cuidar das meninas. O casal está separado há algum tempo, e está no motivo deste afastamento o início das preocupações: ele fora diagnosticado como maníaco-depressivo, e após passar algum tempo em uma clínica de reabilitação tenta retomar sua vida. Por um lado, a pressão de ter que cuidar sozinho das crianças pode ser demais para ele, e os riscos envolvidos são enormes. Por outro, há a questão da responsabilidade, da ordem e do afeto, que podem ajudá-lo em sua recuperação. A mulher parte. O homem fica. E assim começa um nova etapa na vida de todos.

Zoe Saldana mostra seu talento como atriz finalmente livre das tintas e dos disfarces que a distraíram das grandes plateias em sucessos como Avatar (2009) e Guardiões da Galáxia (2014). Ela tem em mãos uma personagem que tinha tudo para ser antipática – afinal, é uma mãe que abandona o lar, deixando as filhas nas mãos de um maluco – mas em conjunto com a diretora consegue dotá-la de múltiplas camadas, conduzindo-nos ao seu lado para que não só entendamos suas motivações, mas também nos colocando na torcida por seu sucesso. E é ainda mais impressionante perceber como ela alcança esse feito com tão pouco tempo em cena. Afinal, quem domina a maior parte da ação é mesmo Mark Ruffalo, aqui no seu melhor desempenho nas telas até então. Apesar de suas duas indicações anteriores ao Oscar, ele está ao mesmo tempo luminoso e assustador, intenso e perturbado como esse homem de altos e baixos, que compartilha da noção a respeito do que acontece ao seu redor, ao mesmo tempo em que por vezes simplesmente não consegue agir diferente, deixando-se literalmente agir pelo impulso. Cria, assim, um tipo interessantíssimo, e por ele o filme já se revela válido de qualquer atenção.

Ainda que traga consigo uma simples história de superação e de reencontro familiar, Sentimentos que Curam é um daqueles filmes que cumpre exatamente o que promete. E por mais previsível que seja a sua conclusão, é impossível não tentar segurar as lágrimas após a última cena, ao mesmo tempo em que nos pegamos sorrindo satisfeitos por termos dedicado 90 minutos de nossas vidas para nos depararmos com esse exemplo legítimo de como a união pode, sim, fazer a força. A se lamentar, apenas, o descaso em relação à performance de Ruffalo e ao próprio filme, que ainda que tenha sido exibido em Sundance, passou em brancas nuvens nos demais festivais e premiações. Uma pequena pérola, que merece ser descoberta e apreciada.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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