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Crítica


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Sinopse

Sebastián busca desesperadamente os filhos, que sumiram misteriosamente enquanto desciam as escadas do prédio em que mora a família.

Crítica

Às vezes não é preciso reinventar a roda: basta fazer o que se espera, porém de forma competente e adequada. Para tanto, o suficiente é seguir as diretrizes comuns ao gênero, mas, acima de tudo, abraçando-o sem ressalvas, assumindo-se por completo dentro da proposta em que se insere e, neste contexto, surpreendendo justamente por seguir os passos aguardados, aqueles que todos pressupõem, porém poucos os adotam com habilidade. É o que faz Patxi Amezcua, diretor e roteirista de Sétimo, eficiente thriller coproduzido entre Espanha e Argentina.

O filme é um verdadeiro jogo de detetive, com pistas sendo espalhadas pela tela desde o primeiro instante. Sebastián (Ricardo Darín, como sempre uma presença de muita energia) é um advogado envolvido em um caso de grande repercussão na mídia. Estamos no dia da audiência mais importante do julgamento, e poucas horas antes de ir ao tribunal ele precisa passar na casa da ex-esposa – de quem se separou há pouco – pegar os filhos para levá-los à escola. A mulher (Belén Rueda, de Mar Adentro, 2004), ainda ressentida pela traição do marido, quer voltar Madri, sua terra natal, e precisa que ele assine os papéis da separação para que os pequenos sigam com ela. Atrasada para o trabalho, os deixa logo após entregar-lhe os documentos. Há uma decisão a ser feita, e esta não pode mais esperar.

Ao saírem de casa, as crianças decidem apostar corrida com o pai: elas descerão pelas escadas, enquanto ele toma o elevador. E aí, então, o filme tem, de fato, seu início. Ao atingir o térreo, Sebastián está sozinho. Luca e Luna simplesmente desapareceram. O porteiro não os viu passar pela porta da frente, o prédio é enorme, há escadas na frente e atrás do hall de entrada, e dezenas de apartamentos. Onde eles podem ter ido parar entre o sétimo andar e a entrada do edifício? Um vizinho, comissário de polícia, é chamado para ajudar – mas ele também tem seus problemas do passado. Há a antiga babá, que mora ali e parece ter uma estranha fixação pelos dois. E há outros, como o esquisito com o qual já houve uma discussão em uma reunião de condomínio, o francês que se mudou há pouco e possui antecedentes de problemas com a lei, e até mesmo o porteiro e faz tudo, de aparência suspeita. Uma vez que a mãe é chamada, até entre o antigo casal se instaura a dúvida. Todos, sem exceções, são suspeitos. Mas, afinal, quem é o culpado?

Muito da eficiência de Sétimo está na competência do diretor em ir dispondo das informações necessárias aos poucos, trabalhando com cada uma delas sem pressa nem atropelos. O sumiço das crianças, por exemplo, ocupa apenas metade da trama – assim que o mistério está estabelecido, o cineasta inverte as expectativas e revela antecipadamente quem está por trás do crime. A partir deste momento, no entanto, um novo jogo é proposto: conseguirá o protagonista ser perspicaz o suficiente para não só elucidar o que está acontecendo como, também, punir à altura os responsáveis por este tormento? O espectador, dessa forma, envolve-se de forma irreversível na condução dos acontecimentos, não só acompanhando a ação com uma curiosidade crescente como também tendo em vista com uma clareza cada vez maior como se posicionar diante cada nova revelação.

Ainda que nos remeta a um título recente do próprio DarinTese para um Homicídio (2013) também brincava com o cinema de gênero – Sétimo consegue ser interessante o suficiente para despertar a atenção necessária que justifique o investimento exigido. As referências, que vão desde à clássica trilogia dos apartamentos de Roman Polanski aos romances de Agatha Christie, ajudam a compor um cenário ainda mais curioso e pertinente. Falta, no entanto, fechar todas as pontas em sua conclusão – o dinheiro exigido pelo sequestro? qual a relevância entre os universos pessoais e profissionais do personagem principal? – e ainda que seu desfecho possa ser considerado um pouco anticlimático, tem-se a certeza, neste ponto, de que a jornada até ali foi das mais interessantes. Entretenimento de qualidade, feito por quem sabe o que tem em mãos e indicado a quem reconhece e admira uma proposta dona de muito estilo.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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