Sinopse
Crítica
Comédia romântica é o gênero mais clichê do cinema. Sim, muito mais que filmes de terror com crianças estranhas e cabeludas, ação com musculosos inatingíveis ou animações com bichinhos fofos e falantes. O grande problema destas histórias de amor leves é que elas seguem um padrão: duas pessoas se conhecem, surge a atração, uma delas tem um obstáculo e a outra precisa obstruir até que o casal se forme de vez. Assim, como atrair espectadores para uma história que já foi contada tantas vezes das mais variadas formas? O grande mérito de Será que? é investir numa inspirada dupla de protagonistas que é “gente como a gente”, nem exacerbadamente belos ou feios, mas recheados com dúvidas e medos de qualquer pessoa que esteja tentando se afirmar no amor e na própria vida entre os 20 e 30 anos de idade.
Wallace (Daniel Radcliffe) abandonou a faculdade de medicina após a traição da namorada. Um ano depois, em uma festa na casa do melhor amigo, Allan (Adam Driver), ele conhece Chantry (Zoe Kazan). Após uma noite inteira de conversa regada a álcool e jograis de imãs de geladeira, os dois estabelecem uma conexão que poderia ir além da amizade – não fosse o fato da garota ser comprometida com Ben (Rafe Spall), um jovem diplomata.
A premissa não é nenhuma novidade, mas o modo como a relação dos dois se desenvolve é uma das grandes sacadas do roteiro de Elan Mastai. Percebe-se a todo instante o eterno Harry Potter como o sofredor da paixão platônica, por isto mesmo a Chantry de Kazan se torna tão complexa: ao mesmo tempo que é perdidamente apaixonada por Ben, ela estranha como se entende muito mais com o novo amigo do que o próprio companheiro. A direção de arte, em uma outra boa ideia, revela essa confusão de pensamentos através dos desenhos de Chantry, que tomam vida na tela.
É claro que, como toda boa comédia romântica, estes esforços não seriam o bastante sem a presença de um elenco talentoso. Daniel Radcliffe, cada vez mais diversificando seus papeis e deixando o passado de mágico para trás, revela um bom timing cômico ao mesmo tempo em que proporciona profundidade para seu jovem confuso. A talentosa Kazan não fica atrás e tem uma deliciosa química com seu colega de cena. Ajuda ainda mais a participação de Adam Driver e Mackenzie Davis como os grandes causadores das risadas da plateia. Por vezes estas situações mais hilárias parecem beirar ao apelativo mas o diretor sabe dosar e interrompe o que pode fica desastroso na hora certa.
Será que? é um exemplar de um gênero desgastado que se revela acima da média por sua simplicidade e por não ambicionar ser mais do que é: um retrato do amor na vida de quem está começando a se estabelecer doméstica e profissionalmente. Pode não causar gargalhadas ensandecidas no espectador, mas é sensível o bastante para fazer com que ele acredite naquela história de amor como se acontecesse com alguém próximo ou consigo mesmo. E esta naturalidade não é alcançada por qualquer exemplar de Hollywood. É coisa rara atualmente.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Matheus Bonez | 7 |
Francisco Russo | 6 |
Sarah Lyra | 5 |
MÉDIA | 6 |
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