Sete Minutos Depois da Meia-Noite
-
J.A. Bayona
-
A Monster Calls
-
2016
-
EUA / Espanha / Reino Unido
Crítica
Leitores
Sinopse
Connor se sente invisível. Com uma vida repleta de problemas, ele tem como único amigo um monstro-árvore com quem se encontra todas as noites para ouvir e contar histórias.
Crítica
Como em praticamente todas as histórias de amadurecimento, o protagonista de Sete Minutos Depois da Meia-Noite, Connor O’Malley (Lewis MacDougall), se encontra na fase da vida em que a grande quantidade de descobertas gera um número equivalente de conflitos e dúvidas. Aos 13 anos, o garoto “velho demais para ser criança e jovem demais para ser um homem” enfrenta tanto as dificuldades comuns à sua idade, como o bullying sofrido na escola devido a seu comportamento introspectivo, quanto outra muito mais grave: o estado de saúde da mãe (Felicity Jones), que sofre de um câncer em estágio avançado. Porém, o que realmente difere a trajetória de Connor da de outros pré-adolescentes é a sua forte ligação com o fantástico.
Neste filme do espanhol Juan Antonio Bayona, baseado no livro escrito por Patrick Ness a partir de uma ideia original da autora Siobhan Dowd, a fantasia surge não apenas como uma possibilidade de fuga do cruel mundo real, mas também como um meio para a compreensão e a aceitação dessa realidade. O elemento fantástico é representado no pesadelo recorrente de Connor envolvendo sua mãe, mas, principalmente, na figura de um gigantesco monstro em forma de árvore – mais precisamente, um teixo – que certa noite o visita prometendo retornar, sempre à 00h07, para lhe contar três histórias, afirmando que, após estes encontros, pedirá que o jovem lhe conte uma quarta história: a sua verdade. Com tal premissa, o filme se junta a outros ótimos exemplares de fantasia infantojuvenil lançados recentemente, como Meu Amigo, O Dragão (2016) e O Bom Gigante Amigo (2016).
Com o filme de Spielberg, o trabalho de Bayona divide a capacidade de proporcionar encantamento, exemplificada na ótima cena do despertar do monstro, envolta em uma atmosfera sombria, traço remanescente da experiência do cineasta com o terror em O Orfanato (2007). Já com o outro, a proximidade reside no apreço pelo ato de fabular, pela convicção no poder das histórias. Como em todas as fábulas, aquelas narradas pelo monstro carregam uma moral, um ensinamento a ser absorvido por Connor, que se diferencia – mesmo que essas histórias tratem de bruxas e príncipes – por fugir do modelo estabelecido dos contos de fadas, em que todos se dividem entre heróis e vilões. Ao contrário, uma das principais lições aprendidas pelo protagonista é a de que os humanos devem conviver com suas características boas e más sem serem rotulados de modo simplista.
Em relação aos outros longas citados, Sete Minutos Depois da Meia-Noite possui um tom mais dramático, afinal, a trama lida com a morte, com o conceito de finitude. Um tema complexo – especialmente para alguém ainda em processo inicial de formação de caráter como o jovem protagonista – embalado por Bayona em um clima de melancolia constante, que por vezes remete ao clássico A História Sem Fim (1984). Tal densidade faz de Conor um papel extremamente difícil, que o escocês Lewis MacDougall encarna com grande desenvoltura, deixando transparecer de modo comovente as dores do personagem – a dificuldade em admitir a verdade, o sentimento de culpa – durante sua jornada de crescimento. O nível de atuação do ator-mirim é mantido pelo elenco adulto que compõe o núcleo familiar: Felicity Jones, na medida exata como a mãe debilitada, Sigourney Weaver como a avó rígida e autoritária, e Toby Kebbell como o pai ausente.
Outro trabalho de destaque é o de Liam Neeson, que dá voz ao monstro, conseguindo com seu timbre imponente ir do amedrontador ao afetuoso. A fascinante criatura é o elemento fundamental da construção do universo lúdico do longa, que se mostra o principal mérito da direção de Bayona. Toda a concepção visual é muito bem resolvida, desde o aproveitamento das particularidades da ambientação inglesa até a apresentação das histórias contadas pelo monstro através de belíssimas sequências em animação, que misturam aquarela e CGI, e que servem não só como uma solução para reduzir o orçamento da produção, como também possuem uma conexão estética e narrativa com a revelação exposta no desfecho.
Bayona faz com que o imaginário e o real caminhem lado a lado sem se distinguirem por completo, utilizando metáforas bem construídas e associações sutis, como a sugestão de que a ligação entre Connor e o monstro possa ser muito mais profunda – e genealógica –, algo que só reforça a crença dos personagens no poder da fantasia. Há, talvez, um acúmulo de carga dramática no ato final, quando o sentimentalismo que o diretor já havia demonstrado em O Impossível (2012) dá as caras. A intensidade do clímax da exposição da quarta história, a verdade de Connor, quase abafa a singeleza de determinados momentos, como aquele com a avó no carro, mas Bayona recupera o rumo, mesclando os sentimentos de tristeza e esperança de modo tocante. O delicado e contido plano final sintetiza essa qualidade, ao trocar a oralidade das fábulas pela força cinematográfica das imagens, como aquelas da versão original de King Kong (1933), reproduzidas pelo velho projetor do avô, que ficam gravadas na memória de Conor.
Últimos artigos deLeonardo Ribeiro (Ver Tudo)
- Pessoas Humanas - 9 de janeiro de 2024
- Resgate de Alto Risco - 27 de janeiro de 2022
- Nheengatu: O Filme - 2 de dezembro de 2021
Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Leonardo Ribeiro | 8 |
Arthur Gadelha | 7 |
Ailton Monteiro | 6 |
Chico Fireman | 6 |
Alysson Oliveira | 6 |
MÉDIA | 6.6 |
qual a data desta postagem para cita-la em trabalho academico?
e legal gostei do app