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Crítica


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Sinopse

Ben Thomas é um agente do imposto de renda que possui um segredo trágico. Devido a esse grande sentimento de culpa, decide salvar as vidas de completos desconhecidos. Porém, quando conhece Emily, é ele quem tem a chance de ser salvo.

Crítica

Will Smith é, sem sombra de dúvidas, a maior estrela do cinema norte-americano. Tudo o que o cara toca dá certo. Ou melhor, quase tudo. Afinal, nem tudo que reluz sempre é ouro. E Sete Vidas é um bom exemplo disso – a idéia até parece ser interessante, mas o resultado é bastante problemático. Este drama tem várias ambições, mas todas elas são tão óbvias que fica difícil embarcar na viagem proposta pelo astro. E ao invés de sermos levados pela carga emocional terminamos por nos distanciar, gerando uma resistência e, em alguns casos, até uma antipatia por todo o projeto. E o que deveria funcionar num sentido se resolve no lado completamente oposto, afastando aquele público que deveria ter sido conquistado, e não repelido.

O problema maior é que tudo é muito forçado em Sete Vidas. A impressão que se tem é que Smith deve ter pensado: “poxa, já faturo milhões, tá na hora, então, de conquistar um respeito artístico, e pra isso preciso de um Oscar!”. Então ele fez o óbvio: chamou o diretor e o produtor do seu último sucesso de crítica, À Procura da Felicidade (2006). Uma vez com a turma reunida, a ordem deve ter sido simples: “quero sofrer ainda mais. Quero mostrar que sei chorar. Posso ter músculos e já ter salvo a Terra diversas vezes, mas agora irei me contentar com menos. Não preciso mais salvar o mundo, e sim apenas sete vidas – e se tiver um amor trágico no caminho, melhor ainda!” Então colocou-se tudo no liquidificador, e pronto – fez-se Sete Vidas!

Os ingredientes estão todos presentes: homem sofrido, tragédia familiar, mocinha com um destino amargo e aparentemente sem volta, grandes reviravoltas, ode à bondade humana, arrependimentos, muitas lágrimas e uma conclusão redentora, porém absurdamente sofrida. O bem vence, mas não sem deixar mortos e feridos pelo caminho. E mais uma vez é escancarada a lição de que a bondade humana é sempre superiora, mas que para a merecermos é preciso muita tristeza e sofrimento pelo caminho.

É um pouco complicado falar sobre a trama de Sete Vidas sem revelar muito do enredo, mas vamos lá. O filme começa com o protagonista anunciando seu próprio suicídio. O que o levou àquele ponto? Voltamos alguns tantos dias no tempo, e o vemos em contato com sete pessoas diferentes, cada uma com um problema específico e urgente. Ele quer ajudá-las, mas a que preço? E por que estes homens e mulheres foram escolhidos? Mais adiante, um outro flashback nos mostra um momento de vida em que este homem era feliz, bem casado e cheio de planos. Porém algo deu errado, e tudo mudou completamente de uma hora para outra. Desgraças foram mais fortes, já que o destino lhe reservou uma trajetória bastante distinta daquela idealizada. E como ele chegou até o ponto em que está quando a história começa a ser contada é como se compõe a estrutura do roteiro.

O italiano Gabriele Muccino era um dos grandes nomes do novo cinema do seu país, tendo sido responsável pelo ótimo e comovente O Último Beijo (2001). Desde que se mudou para Hollywood, no entanto, não tem tido muita sorte. Se o citado À Procura da Felicidade escapou de maiores críticas graças ao bom desempenho de Will Smith (indicado ao Oscar), o mesmo não aconteceu nesta segunda parceria entre os dois. A mão do diretor é pesada, e nada acontece naturalmente - parece que estão praticamente de joelhos nos pedindo para que comecemos a chorar imediatamente, o que, obviamente, não acontece. Smith fica com uma expressão angustiada o tempo inteiro, tanto que lá pelas tantas nem a percebemos mais. E os demais afetados que giram ao seu redor – Woody Harrelson, Rosario Dawson – estão todos tão apáticos que quase não os reconhecemos. E no final o que resta é um grande constrangimento.

Sete Vidas não é tão ruim quanto poderia ser, mas está longe de ser um bom filme. Se por um lado o argumento principal não é dos mais previsíveis, todas as subtramas que se desenvolvem paralelamente são bastante óbvias, a ponto de gerar irritação ou, pior, bocejos e indiferença. E sem o público ao seu lado, nem Will Smith consegue atingir os objetivos esperados. É, não dá para acertar sempre.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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