Crítica
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Sinopse
Crítica
O que primeiro sobressai em Severina é o amor pela literatura. Não bastasse boa parte da trama se passar em meio a livros e pessoas que deles se alimentam constantemente, a própria estrutura do roteiro – dividida em sete capítulos, mais prólogo e epílogo – é uma demonstração dessa reverência. O cineasta Felipe Hirsch ambienta seu longa-metragem no Uruguai, mais especificamente num raio espacial curto, nas ruas imediatamente próximas da livraria do protagonista, R (Javier Drolas), jovem idealista quando o assunto são as palavras e o amor. Ele faz vista grossa ao perceber uma bela mulher roubando exemplares de seu estabelecimento, como que sorvendo um pouco da energia dessa contravenção romântica, da usurpação dos meios para se apropriar do conhecimento. Depois de reincidir, Ana (Carla Quevedo) é inquirida pelo homem lesado, que até sustenta um discurso aparentemente pragmático, falando de prejuízos, certos e errados, embora transpareça flagrante fascinação.
A interpretação dos atores é fundamental à instauração desse jogo amoroso singular de Severina. Enquanto cabe a Javier Drolas criar um personagem afetivamente fragilizado pelas flechadas de um cupido zombeteiro, a Carla Quevedo é dada a missão, não menos complexa e capital, de delinear e corporificar na tela um mistério magnético, criando a figura fragilizada por uma necessidade relativamente nebulosa ao espectador, embora fique clara sua paixão pelos livros. Roubá-los, portanto, seria apenas uma etapa antecessora ao prazer da fruição. Esse envolvimento torto, mas nem por isso menos bonito, acaba partindo do olhar do sujeito absolutamente instigado pela beleza e as vicissitudes do comportamento do enigma por quem se enamora. O longa-metragem privilegia a solidificação dessa atmosfera de implicação emocional e física, mediada por uma instância sublime e maior, como a literatura e suas vielas.
Felipe Hirsch faz de R o protagonista de Severina ao conferir a ele a perspectiva deflagradora. Os demais personagens, incluindo Ana, se comunicam conosco a partir de suas descobertas. Ele é atravessado pelas inconstâncias e profundamente modificado pelas circunstâncias. Ao descobrir que o procedimento da amada é uma constante, via de regra, sem algo de particular, R, ao contrário do que se poderia imaginar, não deixa arrefecer o apego. O afeto por ele sentido é um elo forte entre o nada e a possibilidade de algo transformador. Em meio a uma condução elegante, à fotografia expressiva de Rui Poças, às interpretações cuja primazia é a sensibilidade diante de atitudes e decisões nem sempre óbvias, vai se construindo um itinerário mais inclinado a ressaltar a dimensão poética dos relacionamentos, sejam eles de que natureza forem. A despeito de ocasionais reiterações e investimentos quase contraproducentes, o filme estabelece sua força narrativa.
Severina aplica mais tempo e energia em deflagrar ações do que, eventualmente, reações, deixando o plano motivacional de lado, talvez para não incorrer em psicologismos baratos ou em algo que o valha. Aqui, verdadeiramente importantes são os atos, os impulsos que levam as pessoas a embarcarem em conjunturas nem sempre estáveis. Emoldurado por uma aura de romantismo que emana do universo dos livros visitado, e do qual o cineasta se apropria com evidente carinho, surge um casal especial, sem sinais de protagonizar uma história com direito a “felizes para sempre”, mas que também não parece condicionar o presente às promessas de futuro. A segurança diretiva de Felipe Hirsch se manifesta na coesão do desempenho do elenco e, principalmente, na habilidade com que edifica a atmosfera servidora, ao mesmo tempo, como ambiência e estofo. Excetuando breves momentos de estagnação, nos quais o filme perde ligeiramente sua pungência, o resultado é bonito, na contramão do óbvio ululante.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 7 |
Robledo Milani | 6 |
Adriana Androvandi | 6 |
Leonardo Ribeiro | 7 |
Francisco Carbone | 7 |
MÉDIA | 6.6 |
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