Crítica
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Sinopse
Crítica
Jovan (Mihajlo Milavic) é um menino de 10 anos, resignado à rotina determinada por uma série de restrições provenientes da paralisia cerebral que lhe dificulta consideravelmente a locomoção. No âmbito familiar, é cercado de cuidados e carinhos. No colégio, tem permissão para ocupar sozinho uma mesa dupla, diferentemente dos colegas que dividem os espaços. Sua irritabilidade pontualmente vislumbrada em Shade: Entre Bruxas e Heróis tem a ver com a frustração derivada da condição física. É exatamente esse traço de sua personalidade que, de maneira insuspeita, o liga à novata Milica (Silma Mahmuti). A menina briguenta também apresenta um desconforto não completamente explicado pelo bullying sofrido diariamente. No começo, o garoto refuta qualquer possibilidade de proximidade com a “invasora” de seu território escolar, mas a impetuosidade dela quebra as barreiras e prepara o terreno para uma amizade mutuamente benéfica. Ambos recorrem à ficção, cada um ao seu jeito, para dirimir as angústias.
Shade: entre Bruxas e Heróis acessa o âmbito fantástico apenas como refúgio. O aspecto lúdico ajuda a entender e encarar algumas circunstâncias. Para Jovan, imaginar-se um super-herói vigilante, repleto de superpoderes, é a fuga a um lugar simbólico em que não tem de enfrentar os efeitos da condição que lhe limita bastante. Já a Milica é conveniente, e de certa forma acalentador, levar ao pé da letra o fato da mãe considerar a atual namorada do ex-marido uma bruxa. Assim, estabelece uma aventura enquanto excluí a separação dos genitores da esfera natural. O cineasta Rasko Miljkovic investe principalmente na construção do vínculo desses dois pré-adolescentes confrontados por situações às quais não têm saída ou solução imediata. A eles é permitido, ainda, refugiar-se na ficção, dela tirando forças para encarar demandas mundanas e infelizmente corriqueiras. Embora o itinerário seja simples e sem tanta densidade, o foco permanece nas agruras.
Mesmo que Milica forneça com sua leitura a missão principal do filme, ou seja, exterminar a raça da “bruxa” que ajudou a desmantelar a sua família, é Jovan o protagonista de Shade: entre Bruxas e Heróis. No começo, seu lar é descrito pela câmera como se fora destituído de contratempos. Pai e mãe interagem sem rusgas e senões, dando a atenção necessária ao filho portador de necessidades especiais. Sutilmente, isso vai mudando, coincidentemente, à medida que Milica entra na equação principal carregando o peso de seu lar sendo reconfigurado em meio a brigas e inconformidades. Porém, a menina nada tem a ver diretamente com a mudança na casa de Jovan, pelo contrário, pois sua presença aumenta a confiança dos pais no progresso social do filho. Tal procedimento de aproximação é um artifício do realizador para demonstrar a fragilidade da bonança, a impossibilidade de sua plenitude, mesmo que haja quase todos os ingredientes ao bem-estar.
De determinado ponto em diante, Shade: entre Bruxas e Heróis aposta menos do que poderia nessa relação compensadora da realidade com a ficção. Rasko Miljkovic acaba incorrendo em repetições desnecessárias cujo efeito é apenas estender a duração do longa-metragem, mas nada que ateste gravemente contra o andamento agridoce dessa história em que duas pessoas recém-saídas da infância são instadas a encarar as durezas intrínsecas à vida adulta. Mihajlo Milavic sai-se muito bem como o protagonista que precisa aprender a conviver com as barreiras decorrentes da paralisia cerebral. É bonita a sequência dele pegando um ônibus pela primeira vez, ainda que a tentativa na fisioterapia, que a antecede, recorra a um tom excessivamente melodramático para pontuar a louvável superação. Silma Mahmuti forma com ele um time carismático, acrescentando à dupla a fragilidade camuflada por uma agressividade frequente. Um filme com temas pesados, mas que utiliza o lúdico para ter um pouco de leveza.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 6 |
Bianca Zasso | 6 |
MÉDIA | 6 |
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