Crítica
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Sinopse
Contado de trás para frente, esse suspense de humor negro acompanha um xerife na caçada a três suspeitos de assaltar um banco, sendo que um deles é seu irmão.
Crítica
Shimmer Lake ocorre numa cidadezinha onde todo mundo se conhece. Por exemplo, os bandidos e o xerife conviveram enquanto cresciam, sendo, portanto, bastante chegados, como convém às localidades interioranas. As coisas começam um tanto confusas neste primeiro longa-metragem do tarimbado roteirista Oren Uziel como diretor. E, justamente essa inexperiência na condução do processo total, especialmente no que tange à encenação, é responsável pela apatia vigente. A trama se desenvolve de maneira inversamente cronológica, ou seja, a história é contada de trás para frente. Zeke (Benjamin Walker) é o representante da lei no encalço de homens conhecidos que assaltaram o banco local, entre eles o seu próprio irmão Andy (Rainn Wilson). Como não temos informações prévias que sustentem as menções dos personagens, ficamos ligeiramente perdidos no emaranhado do primeiro segmento.
Cada capítulo é um dia da semana, partindo de sexta-feira em retrocesso. Diferentemente de realizações similares, que utilizam esse expediente incomum como verdadeira potência narrativa, vide Amnésia (2000), Shimmer Lake é mais convencional do que poderíamos presumir em virtude da estrutura de seu roteiro. Embora as informações do ontem obviamente deem novos significados ao que vimos inicialmente, elas valem, dramaticamente falando, mais isoladas que exatamente como peças pregressas desse mosaico invertido. Há uma fina camada cômica permeando a progressão, algo completamente descartável, utilizada no mais das vezes de maneira desajeitada pelo realizador, ao que parece, numa tentativa de aludir em alguma medida ao itinerário criativo de Joel e Ethan Coen. Contudo, a falta de habilidade para injetar graça nos instantes de tensão, e extrair daí algo singular e potente, torna vã a boa intenção.
O interesse cresce sobremaneira à medida que Shimmer Lake avança paradoxalmente em direção ao passado. O contorno das relações interpessoais fica claro e passamos a entender os papeis individuais nessa intrincada situação que envolve ressentimentos e desejos de vingança. A menção a um infanticídio – embora o "assassino" insista em dizer que tudo não passou de acidente – é recorrente, assim como a grande dificuldade de Andy para lidar com o fruto do delito cometido na companhia dos amigos. Oren Uziel lança mão de alguns componentes completamente inócuos, tal como a dupla de agentes do FBI que supostamente deveria auxiliar o xerife na resolução do crime. Nada que eles fazem em cena é absolutamente importante. Sua presença, então, é somente um artifício para nos desviar da verdade que, obviamente, é desvendada em sua totalidade apenas na derradeira parte.
O plot twist em Shimmer Lake é erigido à categoria da imprescindibilidade. Sem a reviravolta, devidamente esmiuçada pelos envolvidos, esta produção original Netflix fatalmente passaria em brancas nuvens, por conta de seu caráter genérico, apesar do conceito instigante. Falta a construção de uma atmosfera que acolha expressivamente os efeitos colaterais do assalto, e mais, a representação, para os personagens, do cruzamento da fronteira entre a legalidade e a criminalidade. O elenco mostra desempenhos uniformemente burocráticos, sem muitas nuances, em frequências geralmente dissonantes, decorrência da evidente fragilidade diretiva. Visualmente pouco inventivo, nem ao menos plasticamente bonito, o filme se apoia principalmente na capacidade, ainda que mínima, de capturar a nossa curiosidade até o encerramento. Meramente competente, mas não inspirado, ele é repleto de boas ideias subaproveitadas.
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