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Crítica


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Sinopse

Desconfiada da traição do namorado, a mulher encerra o relacionamento com ele. O sujeito, por sua vez, terá de provar fidelidade para reconquistar o amor de sua vida.

Crítica

Uma comédia de erros. Não. Melhor dizer que Sí Mi Amor é um filme quase todo errado, a começar pela apresentação do conflito que move sua trama. Bea (Yidaá Eslava) e Guille (Julián Zucchi) vivem um enlace feliz até ela descobrir uma possível infidelidade. Pedir que o cineasta Pedro Flores Maldonado entendesse criticamente a violação de privacidade seria pedir demais, até porque longa carece de contrapesos de responsabilidade. Os personagens transitam impunemente por situações cotidianas nas quais o absurdo surge como efeito colateral das más qualidades do texto, da direção e das atuações. Um mal-entendido que poderia ser esclarecido rapidamente ocasiona um verdadeiro pandemônio e a ruptura dos pombinhos. Dentro de uma lógica pueril, obviamente eles foram feitos um para o outro. O que vemos acintosamente, aos trancos, é ambos tentando encontrar uma forma de emancipar-se desse vínculo. Mas, a tolice logo se torna um imperativo que desgasta qualquer traço de qualidade. É um amontoado de episódios encenados de modo embaraçoso.

Guille tem um melhor amigo, Max (Andrés Salas), encarregado de levantar sua moral. É uma tarefa árdua acreditar nos sentimentos verbalizados, tais como a saudade da esposa que se foi quando tomada de ciúmes. A sequência que o roteiro propõe é a velha tentativa do sujeito encontrar na esbórnia um distrativo para suas dores do coração. Mas, Julián Zucchi não demonstra estofo suficiente para transparecer nas entrelinhas uma melancolia apenas parcialmente encoberta por álcool e luzes estrambólicas. Logo o filme assume o ponto de vista masculino, inclusive pela maneira desleixada como trata o lado feminino. O recém-solteiro é cobiçado por uma pós-adolescente que o elege como seu sugar daddy, mas, simultaneamente, é cortejado pela vizinha também jovem e linda. Já a igualmente livre e desimpedida fica se lamuriando, frequentemente mencionando pejorativamente a neura de ser “gorda”, quando na verdade a atriz apenas não se enquadra num fenótipo esquelético. Evidentemente, o realizador tem mais propriedade para chafurdar nos estereótipos machistas.

Sí Mi Amor é feito de obviedades e convencionalidades. Outro dado que aponta à observação destituída de viés indagador é a forma como publicamente (via meme) o revés se reverte ao homem em fama e à mulher como um propulsor de chacota. Numa casa noturna, Guille é reconhecido e tratado como celebridade, com direito a ser chamado ao palco para cantar com figuras conhecidas. Já Bea é somente ridicularizada como uma despeitada irritadiça, inconsequente e sem controle emocional. Nessa conjugação de situações e tipos absolutamente descartáveis, vistos à exaustão em filmes anos-luz à sua frente (em vários quesitos), sobra espaço a uma conjuntura homossexual do tipo “piscou, perdeu”. Max se enreda pelo antigo rival. A única troca de carinho entre eles é o “beijo de capacete”, no qual bocas passam longe de se alinharem, quiçá de se tocarem. Pedro Flores Maldonado tem pudores de conservador diante de algo natural, pecando por omissão tanto (ou mais) do que se abstivesse o público da relação amorosa entre os dois homens. Haja paciência para ir até o fim.

Totalmente orientado por uma pegada grosseira e superficial, Sí Mi Amor apela e, com isso, constrói situações constrangedoras e enfadonhas. Bea peidar despreocupadamente em casa, assim demonstrando intimidade com Guille, até vai, mas a tentiva de reproduzir isso com o novo pretendente em pleno restaurante, ou seja, em público, ultrapassa bastante a linha do bom senso. O fato dela escrever os horóscopos no jornal da capital Lima não tem qualquer importância. Bea poderia ser bombeira, dedetizadora, artista plástica ou engenheira espacial, que daria no mesmo, afinal o diretor a entende apenas na dinâmica amorosa. Cenas como a conversa do tipo “the book is on the table”, o jantar de Natal repleto de impropérios e todas as que contém diálogo no ambiente do jornal são risíveis. Talvez a figura que melhor condense a ruindade desse filme, a sua falta de jeito para, inclusive, lidar com personagens carucaturais, seja Agripino (Oscar Beltrán), o puxa-saco da editora que troca “r” por “l”, semelhante ao Cebolinha da Turma da Mônica – isso, claro, na legenda em português. Ele está ali para gerar efeito cômico imediato, baseado na ridicularização. Tire esse conceito do filme e ele desmorona.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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