Crítica
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Sinopse
Heloísa é uma jovem diplomata brasileira que participa da Conferência Internacional sobre o clima na cidade de Paris. Seu ex-namorado, Natan, é um cineasta que está de passagem pelo Rio de Janeiro para realizar as gravações de um filme sobre as mudanças climáticas no mundo. Os dois decidem se encontrar para conversar sobre como podem mudar o mundo.
Crítica
A Cavídeo é uma produtora independente do Rio de Janeiro que tem demonstrado uma grande paixão pelo fazer cinematográfico, realizando seus filmes muitas vezes mesmo diante das condições mais adversas, sem nunca deixar cair o ânimo e o interesse por contar novas histórias ou promover relatos até então inéditos. Ao mesmo tempo em que tem aberto espaço para o surgimento de talentos, deixa clara também a preocupação em resgatar veteranos um tanto esquecidos, como Luiz Rosemberg ou Sérgio Ricardo. Assim como estes, Noilton Nunes deixou sua marca nas telas nacionais há mais de duas décadas. Desde então, tem se mantido afastado, dedicando-se mais ao ensino e à outras atividades. Pois agora ele está de volta, graças ao apoio de Cavi Borges como produtor, com o drama Sigilo Eterno. E se o filme não cumpre as expectativas levantadas, ao menos foi feito rodeado pelas melhores intenções. Para alguns, isso pode ser suficiente. Ainda que, evidentemente, não seja o caso.
Diretor de obras seminais, como O Rei da Vela (1983) – premiado no Festival de Gramado e baseado na novela de Oswald de Andrade – e A Paz é Dourada (1989) – épico de realização conturbada que levou quase duas décadas para ficar pronto – Noilton, já com mais de 70 anos, chega ao seu terceiro longa-metragem com a energia – e a inocência – de um adolescente. Isso se revela pelo espírito aventuresco que Sigilo Eterno exala desde os seus primeiros instantes. Qualquer cineasta – ou produtor – que exercesse um olhar mais maduro e distanciado sobre esse trabalho procuraria evitar uma realização tão falha, carente não apenas nos aspectos técnicos, mas também no próprio conceito que abraça. Tem-se, aqui, um filme que busca abraçar o mundo, mas mal tem força para se manter em pé.
Estrelado por Aline Deluna e Rollo Roquenrolo, Sigilo Eterno parte destes dois personagens – uma diplomata morando em Portugal e um cineasta que vive no Rio de Janeiro – para propor um diálogo sobre o futuro do planeta. Estamos às vésperas da Conferência Internacional sobre o Clima de Paris de 2015. Ele quer fazer um filme que possa ser apresentado neste encontro e finalmente denuncie todos os absurdos que o homem está infligindo ao planeta. Para tanto, acredita que só poderá ser bem-sucedido se contar com a ajuda dela, sua ex-mulher e parceira criativa. Ela, por sua vez, tem outras preocupações, e refuta qualquer tipo de convite. Este, no entanto, não é feito apenas uma vez: se repete em diversas situações durante o enredo, recebendo invariavelmente recusas por parte dela, que sempre alega a mesma desculpa: “eu sou uma diplomata, não posso perder meu tempo com utopias”, afirma.
Se os atores parecem despreparados, declamando discursos empolados que servem apenas para causar estranheza e pouco contribuem em arregimentar alguém às suas causas, a execução destas conversas também acontece num plano equivocado. Para começar, os dois protagonistas nem chegam a se encontrar, e todo contato que travam se dá por meio de intermináveis discussões telefônicas. Não satisfeito com esse modelo estático, o realizador fornece a cada um deles um ‘ouvido’ para que possam desabafar: ela tem uma amiga, ele uma colega de trabalho. São duas personagens completamente desprovidas de profundidade, cuja única função é não permitir que Heloísa ou Natan fiquem falando sozinhos. Como se no meio de tantos equívocos, alguém fosse se importar com mais esses.
Sigilo Eterno se anuncia como “o filme que salvou a humanidade”. Como pretensão pouca é bobagem, a narrativa escolhida por Noilton Nunes busca alcançar essa ‘salvação’ através de cenários mal iluminados, locações escassas, erros de continuidade e investindo em teorias envelhecidas, que mais constrangem do que convencem. Tem-se, portanto, um filme datado, inegavelmente feito com amor, mas tamanha entrega também cega, a ponto de deixar evidente percalços que poderiam ter sido evitados com cuidados básicos, evitando incorrer em clichês, deixando de lado obviedades e buscando um aparato que estivesse à altura do que se pretendia propor. Pregar para convertidos pode até ter sua valia, mas mérito maior é arregimentar os mais insuspeitos dos públicos. Algo que, infelizmente, esse filme está longe de conseguir.
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