Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei
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Micael Langer, Calvito Leal, Cláudio Manoel
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Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei
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2009
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Lançado por Carlos Imperial,Wilson Simonal se tornou um cantor de grande sucesso nos anos 1960. Devido à acusação de colaboracionismo com a ditadura militar, ele foi condenado gradativamente ao ostracismo.
Crítica
Após ler o livro Noites Tropicais, de Nelson Motta, Claudio Manoel – um dos integrantes da trupe do Casseta & Planeta – decidiu documentar a história de Wilson Simonal. Só que logo descobriu que Calvito Leal e Micael Langer, outros dois talentosos cineastas, já estavam desenvolvendo um projeto semelhante. Ao invés de disputarem belezas, sabiamente resolveram se unir num trabalho único. E o resultado é o impressionante Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei, um dos mais interessantes documentários do cinema nacional recente. Sem medo de ser tradicional, a fórmula básica é seguida à risca – entrevistas, depoimentos e muita imagem de arquivo – porém este material chega até nós embalado de forma atraente e estimulante, contando ainda com uma edição primorosa e uma trilha sonora riquíssima. Impossível não se deixar levar.
Wilson Simonal foi um dos maiores nomes da música popular brasileira entre os anos 60 e início dos 70. Ex-cabo do exército e filho de uma empregada doméstica, negro e pobre, foi um dos primeiros artistas nacionais a conseguir mover multidões, agrupando centenas de milhares de pessoas a cada novo show. Suas apresentações eram poderosas, envolventes e dinâmicas. Ou seja, era um verdadeiro ‘entertainer’, no sentido mais amplo do termo – cantava, animava, divertia, encantava. Porém, lá pelas tantas, mais por ingenuidade e ignorância do que por ser realmente mal intencionado – ou ao menos é o que somos levados a crer – Simonal acabou se metendo em uma confusão com o DOPS – lembre-se, estamos no auge da Ditadura Militar no Brasil – até hoje não muito bem explicada.
Acusado por uns de ser delator a serviço do governo e por outros de não se assumir politicamente, terminou por cair num ocaso que encerrou abruptamente sua meteórica carreira. Em questão de meses ele, que comandava plateias ensandecidas, ficou completamente sozinho. A imprensa, os amigos do estrelato, o poder estabelecido – ninguém ousava se manifestar ao seu lado, ao seu favor. Mesmo duas décadas depois, quando conseguiu um documento que o inocentava de qualquer acusação nunca comprovada, sua relação com os fãs e com a mídia nunca mais foi a mesma. A bebida, então, lhe pareceu o único caminho. E a morte, por cirrose hepática, em 2000, não causou surpresa em ninguém.
Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei tem como maior mérito o dom do equilíbrio. Apesar do formato documental, é tratado como um enredo de suspense, e assim nós, espectadores, nos sentimos durante a projeção: o que irá acontecer? Qual o próximo passo? Como isso irá se solucionar? São tantas as questões que vão surgindo – e muitas respondidas apenas parcialmente, apesar de todos os esforços dos envolvidos – que cada um do lado de cá da tela se sente apto a construir seu próprio filme, participando de um processo inteligente e perspicaz. Ganha, assim, o longa, por respeitar a audiência e reconhecer suas limitações, assumindo-as, e o público, que é possibilitado interagir na elaboração de uma obra muito acima da média, a despeito da aparente simplicidade que expõe.
Premiado no É Tudo Verdade – o mais importante festival de documentários do país e um dos mais reconhecidos de todo o mundo – com uma Menção Honrosa e eleito no Festival de Paulínia como Melhor Documentário tanto pelo júri oficial quanto pelo popular, Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei é daqueles filmes que fala direto com o emocional, apesar de conseguir estabelecer ricos diálogos com a razão. Dando espaço a todas as manifestações, exibindo um rico conjunto de entrevistas – que vão de Chico Anysio aos filhos Simoninha e Max de Castro, passando por Boni, Castrinho, Ziraldo, Jaguar, Arthur da Távola, Barbara Heliodora, Tony Tornado, Raphael Viviani e até o já citado Nelson Motta – e com uma direção de arte e cuidado gráfico deslumbrante, o filme não só faz jus à personalidade retratada e o que ela representou para a cultura nacional, como oferece um resgate necessário e de grande destaque, mais do que justificado pelo que aqui apresenta. Visualmente atraente e com um ótimo recheio, é um trabalho admirável e digno de qualquer aplauso. Uma bela e grata surpresa – tanto para quem conhecia Simonal como para todos os outros que aqui encontram uma oportunidade única de descobri-lo por inteiro.
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