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Sinopse

Um vendedor narra uma trágica história enquanto um vigilante despedaçado mergulha no submundo em busca de pistas do paradeiro do seu amor. Noutra parte da cidade corrompida, um policial persegue um assassino de crianças e uma ex-prostituta escapa de seu cafetão com a ajuda do novo namorado.

Crítica

Ao contrário de As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl (2005), filme que Robert Rodriguez desenvolveu paralelamente à Sin City: A Cidade do Pecado e que estreou quase que ao mesmo tempo, esta adaptação das histórias em quadrinhos de Frank Miller foi um grande sucesso. Só não se pode ser muito exato se o impacto da obra foi maior entre a crítica ou junto ao público. Isso porque o retorno nas bilheterias, apesar de satisfatório, não foi dos mais estrondosos (a arrecadação em todo o mundo foi de cerca de quatro vezes o orçamento de US$ 40 milhões). Já a opinião especializada foi de que, enquanto enredo, o longa apresenta alguns excessos e desperdícios, ainda que extremamente fiel ao texto original. Isto é, se apresenta mais como uma interpretação para outro meio, se firmando literalmente como uma transposição em todos os sentidos, com tudo de bom – e de ruim – que essa constatação possa ter.

O impacto de Sin City: A Cidade do Pecado pode ser melhor entendido se observarmos o filme como um projeto completo, numa visão mais ampla. Primeiro temos a direção, que foi dividida entre os dois criadores – Rodriguez e Miller – além de apresentar o luxo de dispor de um “diretor especialmente convidado”, no caso ninguém menos do que Quentin Tarantino. Ele comanda apenas uma sequência, um diálogo entre Clive Owen e Benicio Del Toro, mas suficiente para deixar sua marca por todo o projeto. Outro fator é o elenco, composto por nomes tão variados quanto talentosos. Del Toro é dono de um Oscar, enquanto que Owen e o falecido Michael Clarke Duncan foram indicados em ocasiões anteriores. Sem falar de nomes populares como Bruce Willis, Jessica Alba, Rosario Dawson, Josh Hartnett, Rutger Hauer, Brittany Murphy, Mickey Rourke e Elijah Wood, alguns em participações mínimas, outros em composições que os deixam quase irreconhecíveis, mas todos em desempenhos dedicados e impressionantes.

Outro fator que deve ser destacado é o visual de Sin City: A Cidade do Pecado, só tornado possível pelo uso de uma técnica similar à vista no filme Capitão Sky e o Mundo do Amanhã (2004), mas exigindo um processo ainda mais detalhado. Há apenas um único cenário real (o bar onde uma das protagonistas dança), enquanto que todo o resto é digital. E perfeito. Você acredita estar nas ruas de Sin City, um local onde a lei é feita pelo mais forte – ou pelo mais hábil e sedutor(a). Esta é uma cidade de mulheres fatais, de policiais corruptos e de vítimas nada indefesas, que são pegas pela palavra, pela distração ou pelo medo, mas nunca pela ingenuidade. E isto é visto numa criação assustadora, num mundo imaginário violento e irresistível. Este empenho na concretização de algo que só existia até então nas páginas das histórias em quadrinhos valeu ao filme o Prêmio Especial do Júri pelo Visual Inovador no Festival de Cannes.

Sin City: A Cidade do Pecado, o filme, é composto por três tramas paralelas, que pouco têm em comum uma com a outra além dos cenários. “O Assassino Amarelo” mostra um policial na véspera do dia de sua aposentadoria que parte na sua última missão: salvar uma garotinha de um estuprador sanguinário. O problema é que o assassino é filho de um importante senador, o que o deixa quase intocável. “A Grande Matança” tem como centro da ação o fim do tratado de paz entre as prostitutas que dominam a Cidade Velha e a força policial da cidade, incidente provocado pela morte de um oficial corrupto que se meteu com quem não devia. E por fim temos “A Cidade do Pecado”, a trama mais envolvente, que mostra o irredutível Marv, um bronco que acorda após uma noite de amor e sexo com sua namorada assassinada ao seu lado. E ele não medirá esforços para descobrir os motivos e a identidade de quem fez isso. As três histórias são contadas quase que em sequência, com o adendo de um prólogo e de um epílogo que confere um charme ainda maior ao projeto.

Mas Sin City: A Cidade do Pecado não é perfeito, e os problemas da produção começam a ficar evidentes logo na primeira alteração de enredo. Uma trama apenas seria suficiente para revelar as ideias e os conceitos que existem por trás da iniciativa. Três delas, em desenvolvimento paralelo, torna a tarefa de assisti-las um pouco exigente demais. Esse tipo de exagero, perceptível também no segundo trabalho de Frank Miller como diretor (o frustrante The Spirit – O Filme, 2008), assume o tom da obra da sua metade em diante. Ao apresentar distrações demais e elementos que possam centrar nossa atenção de menos (meia hora depois já estamos cansados do “visual arrebatador”), Sin City: A Cidade do Pecado é mais uma imagem do que poderia ter sido se realmente fosse cinema, e não quadrinhos animados na tela grande. É um desperdício de oportunidade, que deve ser encarado mais como uma homenagem do que como peça de dramaturgia cinematográfica. Tem seu espaço, seu interesse garantido, mas por outros motivos do que os necessários a um bom filme.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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