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Sinopse

Psicólogo renomado, Carter é obcecado por estudar a própria filha. Enquanto isso, sua esposa tem um caso extraconjugal e começa a desconfiar do próprio marido quando crianças desaparecem nas redondezas.

Crítica

Brian De Palma é sempre, infalivelmente, um cineasta visualmente interessante. Sua violência é gráfica, mas não gratuita, chama a atenção sem se exceder. Seus planos se costuram na montagem de forma dramática e cada novo enquadramento cativa de alguma maneira pelas escolhas improváveis de uma visão subjetiva ou simplesmente por esconder o rosto de um personagem propositalmente. Isso sem contar as inspirações hitchcockianas por trás de toda a sua lógica de composição de quadro e luz. Aqui nada disso escapa ao diretor, ainda que o roteiro, escrito por ele mesmo, falhe em criar uma trama mais concisa.

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Carter (John Lithgow) é um pacato psicólogo que se mantém muito próximo da filha, o que preocupa sua esposa, Jenny (Lolita Davidovich). Ela suspeita que o marido esteja usando a garota como objeto de estudo, assim como ele foi usado, quando menor, por seu pai, o Dr. Nix (Lithgow, também). Porém, com a eventualidade de vários desaparecimentos de crianças pelas redondezas, Jenny começa a desconfiar do envolvimento do marido.

Lithgow representa o protagonista, o pai do mesmo, e também as outras personalidades de Carter, como o próprio Caim do título. Muito articulado nesse sentido, o ator, embora lide com figuras unidimensionais e até bastante caricatas, consegue diferenciá-las sem problemas. E é na interação com elas que residem os momentos mais inspirados do texto de De Palma, em especial o interrogatório que traz à tona o garoto Josh e a maliciosa Margo. Nada, porém, que soe deslocado dentro da abordagem expressiva do diretor, que no fim concebe um arco truncado e sem estrutura alguma, mas que por isso mesmo remete aos filmes mais descompromissados do mestre Hitchcock, que tinham como parte de seu charme justamente existirem para contar a história que queriam e tirar disso algum suspense. O que o realizador aqui faz, tornando a improbabilidade de sua trama obsoleta.

Tudo bem que no final o pacote todo soe muito brega e sem fundamento. Então que Síndrome de Caim seja encarado como um exercício de estilo de Brian De Palma que funciona muito bem. Há, por exemplo, o plano que acompanha o ponto de vista de Jenny entrando em uma loja, só para descobrir que está sendo exibida num monitor à sua frente. E mesmo que não fosse possível salvar do projeto nada disso, ainda teríamos aquele belo e complexo plano-sequência dentro da delegacia que, iniciando com um movimento de grua, passa para travelligs certamente auxiliados por carrinhos, e então para uma grua de novo, e por fim para uma steadycam que entra em um elevador, saí em outro andar e continua a acompanhar os personagens em um diálogo que possuí dinâmica interna própria entre o conteúdo da conversa e a desorientação de uma das figuras.

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Curto, como um experimento de linguagem que se explica em si próprio deveria ser, o longa-metragem termina sem abandonar o tom implausível que vinha adotando desde o começo, talvez sem deixar mais do que as invencionices do seu autor na cabeça, mas ainda assim, longe de se concretizar como uma experiência ruim e vazia.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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