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Sinopse

Segundo o folclore, Slender Man é homem muito alto, magro e sem rosto. Ele persegue e sequestra pessoas – principalmente crianças – e as obriga a cometer atos terríveis.

Crítica

Oriundo de um meme da internet, o folclore em torno do Slender Man rapidamente se alastrou, inclusive provocando tragédias factuais. Evidente que o cinema, tão logo fosse possível, se apropriaria de mais essa lenda urbana. Pena que, aqui, o resultado de tal senso de oportunidade seja fraco e sem qualquer relevância. Slender Man: Pesadelo Sem Rosto começa desenhando o seu ideal canhestro, mostrando uma turma de adolescentes que mais tarde serão devidamente punidas por conta de suas insolências. Chama a atenção a visão absolutamente torta, guiada por um moralismo mal disfarçado. As meninas sofrem o pão que o diabo amassou por conta da petulância de evocar a entidade, diferentemente dos colegas homens que “amarelaram”, ou seja, supostamente ouviram a voz da razão. Hallie (Julia Goldani Telles), Wren (Joey King), Chloe (Jaz Sinclair) e Katie (Annalise Basso) assistem a um vídeo proibido, abrindo as portas de suas vidas à influência do insondável, ficando a mercê do sobrenatural e prestes a sucumbir.

Slender Man: Pesadelo Sem Rosto expõe suas bases de forma simplória e acelerada. Cada uma das jovens vai penar distintamente por ter ousado. Katie é a primeira que some, criando um alerta às demais, embora o diretor Sylvain White seja totalmente incapaz de criar uma atmosfera de apreensão genuína. Outro indício da inépcia dominante é a fotografia demasiadamente escura, cuja intenção de construir cenários próprios à instauração do medo não encontra motivos que justifiquem tanta penumbra mal aproveitada. Para além das quatro garotas, especialmente Hallie, que assume o protagonismo mais direto, nenhum coadjuvante funciona adequadamente, pois meros instrumentos para que elas possuam o mínimo de contexto social. Sem investir em momentos tensos ou assustadores, o filme segue em desabalada carreira rumo à insignificância, não conseguindo esconder suas muitas fragilidades, apostando numa repetição que o torna moroso, tedioso.

O realizador parece indeciso entre esconder e expor o monstro. Suas estratégias para lucrar a partir da espreita do Slender Man são falhas, pois não precedidas, tampouco sucedidas, de instantes que as estofem dramaticamente. Quando decide trazer o vilão excepcional ao primeiro plano, fica evidente a má qualidade dos efeitos digitais. Slender Man: Pesadelo Sem Rosto chega à risibilidade por conta de suas tentativas desesperadas de compensar debilidades estruturais, do que decorre a exposição de inúmeras outras. No que tange ao roteiro, ele é marcado por uma sucessão de conveniências difíceis de engolir, com destaque (negativo) para a interlocutora misteriosa na internet, que serve para explicar a busca da desaparecida às amigas remanescentes. Esse artifício, como diversos ao longo do filme, é instrumentalizado de um jeito completamente banal, servindo ao âmbito superficial da trama. Enquanto narrativa de horror, a produção sequer apresenta jump scares decentes e funcionais.

Slender Man: Pesadelo Sem Rosto é combalido por um fastio dominante, especialmente por não conseguir extrair potência do gênero prevalente, bem como do suspense que deveria alimenta-lo. Determinadas cenas chegam a ser constrangedoras, como a montagem que visa apresentar uma espécie de fragmentação psicológica de Hallie, com seu corpo literalmente aparecendo desmembrado numa passagem de delírio induzido. A cara de produção de baixíssimo orçamento não é a única, tampouco a maior, responsável pelo fracasso retumbante. Quem merece essa posição é a carência de um olhar menos conformado e mais criativo. Sylvain White crê na suficiência da presença de uma criatura bizarra, somada a imagens escuras e gritos adolescentes constantes, para criar uma narrativa pretensamente horripilante. Como o pífio resultado apresenta, a concepção diretiva está redondamente enganada, ou, talvez, isso era apenas o que dava para fazer com um enredo tão banal e bobo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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