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Sinopse

Um jovem apaixonado viaja em direção às fronteiras dos Estados Unidos em busca da garota que ama. Junto a ele vem o misterioso Silas, um pistoleiro e protetor talentoso, que pode ter os seus próprios objetivos nessa viagem pelo oeste selvagem.

Crítica

Desde os primórdios do cinema, os filmes de faroeste sempre estiveram intrinsecamente ligados à história da formação cultural e social dos Estados Unidos. É explorando justamente esta faceta que o cineasta britânico John Maclean realiza sua estreia em longas-metragens com Oeste sem Lei, um exercício em chave revisionista do gênero. A trama acompanha o jovem Jay Cavendish (Kodi Smith-McPhee), viajando das montanhas da Escócia ao coração da América do século XIX em busca de seu grande amor, a bela Rose (Caren Pistorius), que fugiu com o pai após serem acusados de um crime em sua terra natal. Durante sua jornada, Jay cruza o caminho de Silas Selleck (Michael Fassbender), um misterioso caçador de recompensas, e contrata seus serviços como guia até o paradeiro da garota.

Maclean narra esta história de travessia equilibrando-a entre o romantismo e o fatalismo. A parcela romântica é obviamente encarnada por Jay e a pureza de sua paixão por Rose, pela qual é capaz de arriscar a própria vida, ainda que os flashbacks apresentados sugiram que essa paixão talvez seja platônica. Kodi Smith-McPhee se mostra uma escolha extremamente acertada para o papel, pois, além de talento, possui a aparência ideal para compor uma figura frágil, pueril e inocente como Jay. Do outro lado, Fassbender entrega a competência e o carisma habituais ao interpretar Silas, o cowboy de sangue irlandês desiludido com as promessas do oeste do progresso, que se limita a sobreviver da maneira que pode nesta dura realidade.

A relação entre Jay e Silas é o verdadeiro elemento propulsor da trama e em determinados momentos lembra a dinâmica estabelecida entre Rooster Cogburn (Jeff Bridges) e Mattie Ross (Hailee Steinfeld), os protagonistas da versão de Bravura Indômita (2010) dirigida por Joel e Ethan Coen. O humor soturno e ácido que pontua Oeste Sem Lei também remete levemente ao estilo dos irmãos cineastas, mas Maclean consegue utilizar estas referências para criar uma identidade própria. O diretor estreante mostra um ótimo domínio cênico, conduzindo com a mesma habilidade a ação, o drama e a comédia. Há também momentos de tensão bem construídos, como o assalto à mercearia, cena que além da função dramática no arco de amadurecimento de Jay também carrega um peso simbólico que, mais tarde, a transformará em uma das peças-chave no quebra-cabeça da formação dos Estados Unidos proposto por Maclean.

Oeste Sem Lei é composto por diversas cenas deste tipo, do encontro com o antropólogo alemão à história do bandido que queria ter seu rosto em um cartaz de procurado, contada ao redor da fogueira por um dos membros da gangue liderada por Payne (Ben Mendelsohn). São sequências que funcionam isoladamente pelo seu humor, mas que também tratam, seja de modo literal ou metafórico, sobre temas que estão inseridos em um quadro mais amplo, como a dizimação da cultura indígena ou o valor de um homem – e de sua vida – na sociedade da época. Todos estes momentos são registrados por Maclean e pelo diretor de fotografia Robbie Ryan com cores vivas e quentes, que fogem da estética empoeirada e monocromática de boa parte dos faroestes contemporâneos, e se inspiram nos clássicos do gênero realizados em glorioso technicolor.

Todo este apuro estético ganha ainda mais força através das magníficas paisagens da Nova Zelândia, que serviram de locação para representar o oeste americano – assim como as paisagens espanholas e italianas dos spaghetti westerns nas décadas de 1960 e 1970. Neste cenário exuberante, Maclean ainda se permite inserir elementos por puro prazer visual, como a figura do pistoleiro vestido de padre. Talvez a quantidade de conteúdo abordada pelo cineasta seja muito densa para uma obra tão concisa, com menos de uma hora e meia de duração, o que apressa um pouco alguns desenvolvimentos, como a transformação de comportamento de Silas. Felizmente, não é algo que tire a credibilidade da narrativa, especialmente quando chegamos ao seu catártico ato final.

Nele, Maclean subverte expectativas e clichês, entregando um desfecho corajoso que se mantém fiel tanto ao romantismo errático de Jay quanto ao fatalismo de Silas. A violência, antes esporádica, explode de modo intenso para relembrar que o sonho americano é manchado pelo sangue. O cineasta não abdica totalmente da esperança, e a possibilidade de um recomeço permanece. Mas, assim como Quentin Tarantino com seu Os Oito Odiados (2015), Maclean faz questão de, literalmente, jogar sal na ferida da construção da sociedade norte-americana. A pilha de corpos – de nativos, negros, hispânicos, imigrantes europeus, soldados – constitui a imagem que ilustra um capítulo da história dos EUA que jamais deverá ser esquecido por seu povo.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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