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Sinopse

Um ex-funcionário da CIA, Edward Snowden, vaza documentos comprometedores da agência de segurança nacional dos Estados Unidos. O exposição de conteúdo explosivo faz ele se tornar persona non grata em seu próprio país.

Crítica

“Polêmica” parece ser o nome do meio de Oliver Stone. Cineasta vencedor de três Oscars (e dono de outras 8 indicações), cinco Globos de Ouro, dois troféus do Sindicato dos Diretores e um dos Roteiristas, além de premiado nos festivais de Berlim e Veneza, também coleciona quatro indicações às Framboesas de Ouro, a temida premiação que reconhece, anualmente, os piores da temporada. Ou seja, ele até pode errar, mas que fique claro sua falta de medo em assumir riscos. Exatamente os elementos apresentados na história de Edward Snowden, um profissional do serviço secreto norte-americano que, quanto mais se aprofundava em tudo que não era de conhecimento público, mais se tornava consciente da necessidade de levar tais informações à tona. Pois é este relato que ganha uma nova luz em Snowden, um dos filmes mais convencionais do diretor em anos, mas não um dos menos instigantes.

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Para quem acompanha a carreira de Stone, sabe que desde Um Domingo Qualquer (1999) ele não entregava um filme à altura do próprio nome. Alexandre (2004) foi um grande fiasco, As Torres Gêmeas (2006) foi feito no calor do momento, Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme (2010) parece ter sido feito apenas para arrecadar alguns trocados e os bons W. (2008) e Selvagens (2012) foram subestimados por trazerem conteúdos por demais explosivos. E nem estamos falando dos tantos documentários que realizou nestes quase vinte anos – títulos como Comandante (2003), Ao Sul da Fronteira (2009) e Mi Amigo Hugo (2014) podiam ser eficientes em defender o ponto de vista do realizador, mas deixavam a desejar enquanto cinema e mal foram vistos pelo grande público. É por todo esse conjunto que Snowden se revela uma grande surpresa. Afinal, ainda que não deixe de lado sua visão de mundo, o Stone que aqui se revela parece mais preocupado em contar uma boa história, oferecer luzes a um grande personagem e, enfim, se reencontrar com o espectador, deixando para este a tarefa de quaisquer julgamentos posteriores.

Edward Snowden (Joseph Gordon-Levitt, em mais uma atuação de impacto) é um garoto de talento surpreendente. Ao mesmo tempo em que acompanhamos sua escalada profissional, o envolvimento com as práticas do governo norte-americano pós-11 de Setembro e sua maturidade como homem em seu primeiro relacionamento amoroso, o vemos em 2013, quando, em um quarto de hotel em Hong Kong, decidiu se reunir com os repórteres Glenn Greenwald (Zachary Quinto) e Ewen MacAskill (Tom Wilkinson), além da documentarista Laura Poitras (Melissa Leo), para com eles abrir o jogo e contar tudo que sabia. O resultado desse relato foi o documentário Cidadãoquatro (2014), filme que ganhou o Oscar em sua categoria e realiza uma profunda análise sobre todas as denúncias do rapaz. Mas quem é este homem e qual foi sua trajetória até o momento deste encontro, somente Stone proporciona.

A dicotomia contida no subtítulo nacional exemplifica bem o dilema enfrentado pelo protagonista: herói ou traidor? Pois assim ele passou a ser visto, tanto que até hoje, enquanto recebe ajudas internacionais e é saudado como exemplo a ser seguido por milhares, por outro lado encontra-se exilado do próprio país, se vendo obrigado a residir na Rússia, um dos poucos países e lhe conceder asilo. Snowden era o garoto de ouro de muitos dos seus superiores – aqui interpretados com competência por astros como Rhys Ifans, Timothy Olyphant, Scott Eastwood e até Nicolas Cage (!) – e se em outros tempos muito provavelmente seu futuro estivesse garantido, no mundo que se desenhava desde a virada deste século tais conflitos morais causavam intenso debate dentro de si. A decisão, portanto, de revelar os mais obscuros segredos da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA tanto foi vista como uma temeridade – pois colocou uma nação inteira sob suspeita – como, por outro lado, revelou ao povo como este vinha sendo controlado por aqueles que deveriam estar a seu favor, e não contra tudo e todos.

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Edward Snowden continua, até hoje, sendo uma figura complexa e controversa. Oliver Stone reconhece isso e não parece ter interesse em encerrá-la em seu filme. O objetivo aqui é outro, e está em olhar para trás para melhor tentar entender não apenas o hoje, mas também o amanhã. Em pleno domínio de um elenco coeso – do qual se destacam também Shailene Woodley, enfim mostrando que pode ser uma boa atriz, e não apenas uma heroína juvenil, e Ben Schnetzer, o melhor amigo, igualmente genial, que muitas vezes acaba lhe ensinando o caminho das pedras – e com tranquilidade suficiente para falar do todo a partir de cada detalhe, sem afobação nem atropelo, o diretor com isso deixa de lado a defesa de apenas um olhar para, assim, abranger um panorama muito mais amplo. Snowden é o filme que os fãs do cineasta estavam merecendo há tanto tempo. Bom para ele, que parece ter voltado à velha forma, e melhor ainda para todos os demais, que aqui encontram um bom exemplar de cinema forte, combatente e de qualidade

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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