Sob as Escadas de Paris
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Claus Drexel
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Sous les étoiles de Paris
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2020
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França / Bélgica
Crítica
Leitores
Sinopse
Sem-teto que vive em Paris, Christine encontra Suli, um menino imigrante que precisa de ajuda. Os dois personagens marginalizados embarcam numa aventura pela capital da França.
Crítica
Para o cinéfilo mais atento, apenas o nome de Catherine Frot à frente do elenco já seria suficiente para justificar um interesse por Sob as Escadas de Paris. Afinal, trata-se da vencedora de dois César (dentre 10 indicações) e estrela de sucessos como O Reencontro (2017), em que aparece ao lado de Catherine Deneuve, Marguerite (2015) – que depois foi adaptado em Hollywood em Florence: Quem é essa Mulher? (2016), com Meryl Streep no seu lugar – ou o delicioso Os Sabores do Palácio (2012). Mas nem mesmo a grande atriz francesa é capaz de se sobrepor ao olhar pueril e por demais ingênuo do diretor e roteirista Claus Drexel, documentarista que lança aqui seu primeiro longa de ficção em mais de uma década. O que ele consegue é uma mistura de O Porto (2011), sem a objetividade de Aki Kaurismäki, com Central do Brasil (1998), sem a sensibilidade de Walter Salles. Ou seja, parte de lugares-comuns para alcançar algo ainda mais genérico.
Assim como na primeira referência acima citada, tem-se um refugiado africano sendo socorrido por alguém em melhor estado, mesmo sendo esse longe de qualquer ostentação. E do segundo, há a jornada dessa mulher dona de vários pecados anteriores que tenta se redimir através da missão de encontrar a família desse menor desamparado. A sinopse por si só não seria ofensiva, não fossem os diversos paralelos com questões urgentes ao qual a trama incorre. É quase impossível desligar o que ocorre na ficção com a situação de milhares de imigrantes que rumam à Europa – e à França em particular – todos os anos. Afinal, trata-se da saga de uma mulher branca e europeia que, por mais adversa que seja suas condições, decide ir contra as probabilidades e mover mundos e fundos até garantir a segurança de um menino estrangeiro e negro. Quem, enfim, está sendo salvo: ele ou ela?
Christine (Frot, que mergulha na personagem em uma composição que impressiona, mesmo sendo mais externa do que interiorizada) é uma moradora de rua, e somente aqueles que nunca viajaram ao exterior podem achar que esse é um problema exclusivo do Brasil – o que muda, claro, são as proporções. Ainda que em número reduzido em relação ao que se vê por aqui, cidades como Paris possuem muitos habitantes nessas condições. Outra diferença é que são mais “escondidos” pelas autoridades, ou seja, a presença destes nos centros turísticos é mais vigiada e reprimida, consequentemente, há uma ‘maquiagem’ nesse sentido. É o caso da protagonista, que todas as noites se refugia em uma casa de máquinas – por graças do operário que maneja o local – de difícil acesso em um dos lados do Sena.
Primeiro, o espectador é convidado a acompanhar a rotina dela. Não há surpresas nos trajetos percorridos – aliás, se de fato algo impressiona, é a educação nos tratos e o senso de responsabilidade entre os envolvidos e afetados. Por mais que não tenha nada para chamar de seu, governo e sociedade providenciam os meios para que consiga acesso às refeições básicas e a uma vestimenta mínima, além de um tratamento respeitoso. Pequenos privilégios que são prontamente negados ao garoto de pele escura e idioma desconhecido. Há um diálogo aqui, portanto, entre a responsabilidade francesa (e europeia como um todo) pela presença destes fora de suas terras de origem e a incapacidade dos mais ricos em lidar com a precariedade dos demais que assim estão pelos movimentos provocados por outros. Mas mesmo essa reflexão se dá de modo simplista e bastante óbvio, pois não é aprofundada e nem serve para debate entre os eventos explorados dramaticamente.
Mesmo sendo não mais do que uma criança, Suli (o estreante Mahamadou Yaffa) é desprezado por (quase) todos como se merecedor da sina que carrega. Christine é, portanto, esse anjo bom que, ainda que relutante, o acolhe e decide ajudá-lo. Juntos, partem na busca da mãe do menino, que há a suspeita de estar em vias de ser extraditada. Colocando em risco o pouco que lhe é oferecido, a mulher assume essa responsabilidade em um processo que termina por falar mais dela, do seu passado e das ambições que pode, ou não, guardar em relação ao próprio futuro, do que do pequeno órfão em si. Um espelho do reflexo emitido por Sob as Escadas de Paris, filme que aparentemente defende uma agenda de humanização e solidariedade, mas que por trás esconde uma necessidade de redenção acumulada por uma série de equívocos que não podem, e nem serão, tão facilmente apagados – ou mesmo esquecidos.
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Gostei da crítica. Bem fundamentada. Realmente o que senti vendo o filme e a lembrança de Central do Brasil é inevitável.