Crítica
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Sinopse
Um homem pacato mudou-se com a esposa para uma cidadezinha do interior e passa a viver sob medo e tensão constantes por causa da inesperada violência no local. Mas a pressão que sofre é tanta que ele mesmo acaba se transformando num homem violento que irá usar a vingança pelas próprias mãos para sobreviver.
Crítica
Straw Dogs, ou cães de palha, faz referência a um costume antigo sobre bonecos que eram utilizados em festas populares e muito adorados, saudades, celebrados. Isso até o final dos festejos, quando eram deixados de lado e esquecidos por todos. Esse é também o título original de Sob o Domínio do Medo, batismo um pouco clichê para um dos longas mais polêmicos do diretor Sam Peckinpah e que agora, quarenta anos depois, ganhou uma refilmagem comandada por Rod Lurie, o mesmo do premiado A Conspiração (2000) e do elogiado Faces da Verdade (2008). Dois trabalhos que, assim como esse mais recente, passaram distante do radar comum, e que devem ser descobertos apenas pelos cinéfilos mais curiosos ou persistentes.
Os cães de palha da trama são os jogadores de futebol, os heróis estudantis, as líderes da torcida, todos aqueles que tiveram seus momentos de fama em algum momento e que agora pouco valem aos olhos dos outros e, principalmente, para si mesmos. São estas pessoas que entram em conflito com o casal interpretado por James Marsden e Kate Bosworth. David e Amy Sumner, ele um roteirista e ela uma atriz de Hollywood, decidem voltar para a cidade natal dela, no sul dos Estados Unidos, em busca de uma vida mais calma e pacífica – tudo o que não lhes espera. De imediato os locais se sentem inferiorizados com a presença dos “famosos”, e o fato de um dos principais valentões (Alexander Skarsgard) ser ex-namorado dela não ajuda em nada no processo de “ambientação”.
As dificuldades vão surgindo aos poucos. Primeiro, o casal precisa contratar mão-de-obra para arrumar o telhado do celeiro, já velho e desgastado. Os escolhidos são os conhecidos dela, que agora passam a tratá-los como empregadores. As relações ficam piores com a presença de um retardado mental que é acusado de abusar de uma menina. A maioria se coloca contra o rapaz, que no entanto é defendido pelos recém-chegados, piorando o sentimento geral contrário que enfrentam. Mas isso é apenas a cobertura do bolo, que esconde reações muito mais exageradas e violentas. Estupro, assassinatos, rebeldia, abuso de poder e muitas outras infrações serão cometidas neste conto sobre como o ambiente pode mudar as pessoas e como a sensação interior de cada pessoa não passa de um reflexo de como ela própria se vê diante a visão dos outros. Quando os limites desaparecem, o que o filme parece querer dizer, somos todos animais, e as respostas a estes instintos é que fazem toda a diferença. Ou não.
É a revanche do atraso, do subúrbio, do interior esquecido e ultrapassado contra o moderno, o atual, o novo e o descartável. O Sob o Domínio do Medo atual talvez não seja tão incisivo em sua denúncia quanto o longa anterior, um clássico do gênero que serviu também para revelar o protagonista Dustin Hoffman em 1971. Mas essa nova versão possui ainda muita tensão, um ritmo crescente de fatos que colaboram com o desenrolar do roteiro e intérpretes dedicados aos personagens que estão defendendo. Os motivos do fracasso de uma obra podem ser vários, ainda mais quando ela surge sob a sombra de um projeto tão bem sucedido em sua primeira instância. Mas se este servir ao menos para que o original seja redescoberto e provoque o debate necessário sobre até que ponto a violência resolve de fato as coisas e se essa é motivada mais por fatores externos do que internos, essa discussão terá valido para alguma coisa e sua mera existência já terá sido justificada. Afinal, reflexão é a base de qualquer forma possível de convivência.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 5 |
Francisco Carbone | 3 |
Matheus Bonez | 2 |
Mariani Batista | 2 |
MÉDIA | 3 |
vi nesse fim de semana e achei bem bacana!