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Sinopse

Depois de divorciada do marido, a vida da escritora Frances Mayes entra numa espécie de colapso. Deprimida e pressionada pelo prazo para terminar um texto, ela resolve comprar uma chácara na Toscana para revigorar-se.

Crítica

Baseado em fatos verídicos da história pessoal de Frances Mayes, ela própria autora do romance que originou o filme, Sob o Sol da Toscana é um projeto feito sob medida para tentar consolidar a efêmera condição de estrela de Diane Lane. Ela, que teve sua primeira aparição nas telas há mais de 20 anos, ao lado do lendário Laurence Olivier, amargou vários momentos facilmente esquecíveis em produções como Cotton Club (1984) e O Juiz (1995), até conseguir ser indicada ao Oscar de Melhor Atriz por Infidelidade (2002). Após essa conquista, acreditando ser, finalmente, “dona do seu próprio nariz”, decidiu se tornar uma nova Julia Roberts ou Sandra Bullock, o que explica sua presença como protagonista dessa obra feita sob encomenda para o público feminino, mas que causará bocejos no sexo oposto.

Frances (Lane) é uma crítica literária de bastante prestígio. Sua vida corria muito bem, até o dia que descobre que o marido possui uma amante e deseja o divórcio. Sozinha e desiludida, embarca numa viagem de férias para a Itália, lugar que acaba escolhendo como nova morada ao comprar uma antiga “villa” local. Os simbolismos são inúmeros, basta escolher o que melhor lhe agradar: o país desconhecido, a casa a ser reformada, as novas possibilidades de amor, os vizinhos a serem apresentados, as relações inéditas a serem desenvolvidas na comunidade – tudo está ali presente para indicar que a moça está mesmo decidida a partir para uma nova vida. O mais curioso é perceber que uma das suas “musas” naquele momento, anos depois, desempenharam o mesmíssimo papel: Roberts em Comer Rezar Amar (2010).

Sob o Sol da Toscana vale pelo bom desempenho de Lane, indicada ao Globo de Ouro desse ano como Melhor Atriz em Comédia, por algumas divertidas situações cômicas e pelas boas tomadas que aproveitam a bela paisagem italiana como cenário. Por outro lado, tem-se em mãos um roteiro extremamente convencional, que brinca desajeitadamente com estereótipos (a turnê gay, os italianos exaltados e tradicionalistas, o processo de divórcio fatalista) sem aproveitá-los a contento. É tudo muito seguro, perfeito demais, quase utópico. Deve agradar quem busca na sala de cinema uma fórmula escapista de diversão, mas está longe de possuir alguma relevância artística.

Caso a diretora – e roteirista de primeira viagem – Audrey Wells tivesse decidido explorar melhor as situações de conflito que simplesmente aponta durante a trama, sem nunca aprofundá-las à contento, buscando soluções mais realistas, e com uma boa enxugada em toda sua estrutura, diminuindo sua narrativa nuns bons 30 minutos, talvez o resultado fosse mais crível e agradável. Do modo que está, o que temos soa por demais falso e artificial, como um conto de fadas ultrapassado que não pode ser levado à sério. Sob o Sol da Toscana é agradável de se ver, mas não deixa resquícios na memória e nem apresenta surpresas relevantes. É apenas mais um na multidão, diagnóstico que o tempo mostrou ser também o da própria Lane, principalmente por insistir em produções genéricas como essa, sem buscar a originalidade que poderia ter lhe garantido um diferencial no céu hollywoodiano.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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