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Crítica


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Sinopse

Alexander Pechersky, um prisioneiro de guerra no campo de exterminação de Sobibor, organizou uma revolta que deu oportunidade para o escape em massa dos prisioneiros do campo. Apesar de muitos dos fugitivos terem sido capturados novamente, Pechersky liderou os que restaram à se juntarem aos partisans.

Crítica

Empenhado em denunciar os múltiplos horrores testemunhados na Segunda Guerra, Sobibor intenta, em vários momentos, provocar asco e indignação. A começar pela sordidez com que os soldados nazistas tratam os recém-chegados a Sobibor, campo de concentração localizado na Polônia, para o qual foram levados, sobretudo, prisioneiros soviéticos e ciganos (o filme não lida com isso). O auto-falante menciona vida nova, possibilidades de prosperidade aos judeus com habilidades artesanais, de ourivesaria e alfaiataria. O lastro histórico deflagra a hipocrisia do discurso, pois, ao contrário dos personagens, que apenas intuem os severos perigos de morte, o espectador sabe que vários daqueles homens, mulheres e crianças não sobreviverão. Todavia, o longa não demora a expor sua debilidade narrativa, principalmente a vocação para sublinhar desnecessariamente as dramáticas situações apresentadas. A cena do extermínio de mulheres nuas numa sala fechada demonstra isso, vide a câmera lenta e a música grave que a emoldura o instante da atrocidade.

Um dos únicos pontos positivos de Sobibor é o design de produção. Da cenografia à maquiagem, com algumas exceções, é inspirada a verossimilhança. A maioria dos personagens veste roupas esfarrapadas e exibe corpos aparentemente combalidos pela rotina desumana. Claro, peças-chave destoam um pouco disso, surgindo com cabelos milimetricamente desgrenhados e afins. Mas, no geral, os esforços são bem empregados no sentido de criar ambiências e indumentárias críveis. O mesmo não pode ser dito da forma como o cineasta Konstantin Khabenskiy conduz a narrativa. Ele não delineia uma espinha dorsal clara e sequer elege figuras fortes, dispersando atenções e subaproveitando potenciais dramáticos. Pessoas morrem sem que haja impacto emocional condizente com a barbárie descortinada. O acúmulo de desleixos com semelhante natureza gera uma experiência truncada, exagerada frequentemente pela mão pesada do diretor que também atua no filme.

Konstantin Khabenskiy interpreta Alexander, um dos únicos prisioneiros com conhecimentos militares suficientes para conduzir um motim. Engendrando gente num plano arriscado, mas de possível sucesso ao escape da morte, ele toma o protagonismo de Sobibor, embora ocasionalmente suma para dar lugar a alguém pretensamente valioso à insurreição. Há inserções totalmente gratuitas na história, como o enxerto que visa oferecer camadas à personalidade do oficial alemão interpretado por Christopher Lambert (mal dublado). É ordinário o seu desabafo diante da beleza da judia que se recusa a seguir suas ordens. A menção de um amor perdido por causa do antissemitismo do pai não reverbera de modo algum, nem para tornar o personagem mais complexo e tampouco a fim de expor a irracionalidade da guerra. É algo atirado, negligenciado para além de seu efeito imediato e pouco duradouro. O enredo está repleto dessas tentativas infrutíferas e banais.

Sobibor, a despeito da capacidade circunstancial de mirar os horrores da Segunda Guerra, é uma produção de dramaturgia frágil, que costura eventos como se empilhasse episódios sem correlação. Ademais, com o intuito de ressaltar a bravura de homens e mulheres que conseguiram resistir à sanha nazista, Konstantin Khabenskiy recorre a procedimentos de gosto duvidoso, vide as frequentes câmeras lentas utilizadas para dilatar o tempo e, pretensamente, gerar empatia. Diálogos simplórios como “vocês ensinaram os judeus a matar” aproximam a realização da linguagem do folhetim, algo igualmente visto na necessidade de reforçar componentes já esclarecidos, como a fala meramente ilustrativa do marido ourives que encontra o anel de casamento da esposa entre os pertences dos mortos. A tendência ao didatismo acompanha o filme integralmente, sendo apenas um dos elos frágeis desse conjunto grandiloquente e desajeitado, sem tônus e que ainda tem dublagens risíveis.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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