Crítica
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Sinopse
Lucas, 13 anos, passa a depender de uma cadeira de rodas após sofrer um acidente. Laís, 12 anos, ajuda sua mãe na barraca de café da manhã, numa parada de caminhões, na pequena cidade em que vivem. A garota adoraria conhecer seu pai, um caminhoneiro que deixou a cidade quando ela ainda era criança e nunca voltou. Laís e Lucas tornam-se amigos na escola e, quando ela descobre o possível paradeiro do pai, os dois partem em uma viagem.
Crítica
O núcleo de Sobre Rodas é a amizade que surge, meio casualmente, entre Laís (Lara Boldorini) e Lucas (Cauã Martins). Ela se ressente da falta de informações acerca do pai. Já ele sofre por conta de um acidente que o deixou paraplégico. O tom do longa-metragem de Mauro D’Addio é claramente inocente, sem mergulhos, sequer, nessa carência mútua. Sobressai, então, a dimensão simplista do enredo que inviabiliza propositalmente complexidades e variações emocionais. Como em qualquer road movie, o principal aqui é desenvolvido no deslocamento, não resulta de algum efeito prático da busca da protagonista mirim por suas raízes paternas. Todavia, há pouco espaço e tempo para que as situações amadureçam, do que decorre uma sensação de superficialidade. Para além das arestas aparadas convenientemente, sintomas intrínsecos à pegada infantojuvenil, há um descuido generalizado com a temperatura da progressão narrativa. O resultado é uma história fragilizada pela falta de potência, o que, inclusive, contamina o elo nascido em plena estrada.
Sobre Rodas se passa numa cidade interiorana. Rita (Georgina Castro), mãe de Laís, ganha a vida vendendo iguarias para os caminhoneiros de passagem pela localidade. Ela sonega informações da filha, com isso evitando que a garota descubra o paradeiro do genitor que abandonou ambas no passado. Apenas essa instância ganha certo aprofundamento, se destacando das demais como motriz da jornada marcada por uma parceria inusitada. O realizador não dá conta de construir algo que interligue efetivamente os personagens. Dessa maneira, a amizade, vínculo essencial à produção, não soa genuíno, porque inexiste um trabalho de aproximação acurado entre os intérpretes. Trocando em miúdos, é difícil acreditar na relação dos jovens que decidem cair no mundo para realizar uma busca com parcas possibilidades de sucesso. Há comodidades demais, mesmo para uma realização que deliberadamente refuta trajetos dramaticamente mais íngremes.
A dupla formada por Lara Boldorini e Cauã Martins apresenta desempenhos individualmente convincentes. Seus trabalhos e carismas, no entanto, são eclipsados pela falta de sensibilidade da direção que, para começo de conversa, passa de uma conjuntura à outra sem que qualquer uma delas assente devidamente na trama. Sobre Rodas tampouco dá conta de estabelecer convergência entre as demandas dos protagonistas, burilando-as excessivamente em compartimentos herméticos à simbiose. O efeito colateral é uma dispersão sobressalente. Não bastasse isso, as paradas, potenciais momentos para que o filme agregue elementos à viagem, são interrupções burocráticas e meramente funcionais. Um exemplo desse desperdício patente dos personagens que cruzam o caminho de Laís e Lucas, agindo somente como intermediários entre eles e a verdade, é a sequência na casa da senhora que oferece hospitalidade e uma galinhada no jantar. A piada com as cinzas do falecido marido é disposta apressadamente, sem cuidados de preparo e maturação.
Capturando parcialmente o clima bucólico do lugarejo aparentemente estagnado no tempo – não fossem as mensagens de celular, poderíamos, tranquilamente, pensar que o filme é ambientado nos anos 80 –, Mauro D’Addio demonstra afobação em determinados pontos e falta de paciência para refinar os dilemas, as dificuldades e a própria amizade. Sua condução do elenco vai do correto ao ocasionalmente inspirado. Recorrendo a uma linguagem simples e direta, ele valoriza as paisagens, mostrando a beleza do cenário, mas não logra êxito semelhante na tentativa de apresentar o afeto como um poderoso antídoto contra as moléstias, sejam elas as físicas ou as psicológicas, que se abatem sobre as pessoas. Refém de instantes esparsos de inspiração, como nas participações bem-vindas do veterano Arthur Kohl, Sobre Rodas não consegue esconder, mesmo sob um charmoso véu de puerilidade, suas debilidades puramente cinematográficas.
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Eu gostei muito do filme. Gostei do enredo. Gostei da fotografia. Gostei de onde foi filmado.