Sobre Sete Ondas Verdes Espumantes
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Bruno Polidoro, Cacá Nazario
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Sobre Sete Ondas Verdes Espumantes
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2013
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
As cidades pelas quais passou o poeta e dramaturgo Caio Fernando Abreu são revisitadas na atualidade. Nelas são encontrados fragmentos da vivência desse artista.
Crítica
Há de se aventar que, entre a possibilidade de um registro e a aventura de sua captura, muitas sutilezas atravessam o dispositivo, da técnica a forma resultante do processo. Nesse sentido, é saudável recordar Bresson: “Estilo: tudo que não é a técnica”. Daí parece prudente observar que, nessa busca, o filme de Bruno Polidoro e Cacá Nazário sobre Caio Fernando Abreu não se limita a “construção do personagem”, mas prefere pontuar sua narrativa com todo um mosaico de subjetividades provenientes do fluxo da própria prosa do poeta, conjunto de dramas e potências “infernais”, marcadamente exprimidas através de uma narrativa da solitude – bem mais que da solidão. Isto é, praticamente inexistentes, os depoimentos em terceira pessoa (“Caio Fernando era isso”, “Caio Fernando fazia aquilo”, “Caio Fernando gostava daquele outro”) são preteridos em relação às leituras de textos do autor. Os entrevistados não falam (ou falam pouco), mas performatizam, estejam onde estiveram. Em alguns lugares pelos quais o escritor passou, é por aí que o filme vai acontecer.
Não é a questão, para os realizadores, explicar Caio Fernando Abreu, narrar o inenarrável, problematizar o irreconciliável. O lance é escapar da fruição bárbara da formalidade. Não que exista radicalismo na forma (não existe), mas, no limite, não há apreensão aos recursos de sempre. Ora, Sobre Sete Ondas Verdes Espumantes não é, na verdade, sobre Caio Fernando Abreu, mas a partir dele, ou, ainda mais, a partir de algo dele. Colocar as coisas assim, se afastando para se aproximar, é pelo menos um tanto corajoso, pois não importa se hoje existe uma exploração capitalizante de toda e qualquer palavra do autor exposta em contextos quaisquer nas “novas mídias”, pois a poesia é sempre uma forma de resistência contra os poetas (capitalizante menos no sentido de um sistema de acumulação que tenta se apropriar da produção e mais no que diz respeito à própria reutilização dessa produção).
A equação é difícil de resolver, mas se por um lado a opção pela leitura in loco contribui para que possamos pensar o autor por dentro, na iminência do discurso, na ética (opa!) das palavras, todavia ela desmistifica a necessidade de inúmeras sequências de textos que permeiam a narrativa e que reforçam o dito, estendendo a palavra até o limite de suas significações sob o risco de perdê-las em função da mesma adesão apressada que a Internet, muitas vezes, se dá o luxo de abraçar. Não é, por isso, o mesmo que dizer que as coisas foram vulgarizadas, pois isso seria aderir ao pensamento conservador que visa defender a manutenção do poder de certa “elite cultural” através da captura das subjetivadas partilhadas pela massa. Mas, de antemão notamos, não existem curvas sem espinhos.
Não raro, as leituras feitas por personagens diversos, entre os quais Luciano Alabarse, Adriana Calcanhoto e Maria Adelaide Amaral, além de outras pessoas que foram próximas ao escritor ou mesmo que apenas o conhecem de seus escritos, são sintomáticas na explicitação do quanto as próprias palavras faladas potencializam o discurso poético do filme. O quanto há de organicidade e vigor na obra de Polidoro e Nazário nasce destes momentos, de leituras que sugerem, nestes espaços, um peso na construção dessa poesia, peso imanente ao conteúdo de Caio, sendo inescapável, portanto, essa sensação de “alegre fim de mundo”. Os realizadores evidentemente fazem uso desse ritmo, em suas pausas e em suas passagens mais correntes, jogam com ele, permitem que a voz engasgue. Manipulam. Mas sabemos desde sempre que a manipulação é intrínseca ao cinema e a produção de imagens e, se nos lembrarmos de Jacques Aumont, partiremos não mais de limites dogmáticos e princípios soltos: todo filme é um filme de ficção.
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