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Crítica


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Sinopse

A história antecede os acontecimentos que assombraram a família Lambert, e revela como a medium Elise Rainier relutantemente concorda em usar sua habilidade em contatar os mortos para ajudar uma jovem garota que tem sido alvo de uma perigosa entidade sobrenatural.

Crítica

Para a saga Sobrenatural, expandir o seu próprio universo não só era importante como vital. Depois de centralizar os dois primeiros capítulos na história da família Lambert, uma mudança de ares se mostrou necessária pelo esgotamento daquele arco. Para poder aproveitar a melhor personagem dos filmes anteriores, Elise (Lin Shaye), e continuar a trama sem a presença de Patrick Wilson ou Rose Byrne, os realizadores acharam interessante voltar no tempo, alguns anos antes de Sobrenatural (2010). A ideia, ainda que nada inédita, funciona muito bem, com possibilidades de continuidade infinitas até que esta linha de tempo se encontre com a história dos filmes originais.

Depois de ter assinado roteiros de Jogos Mortais (2004), Gritos Mortais (2007) e dos dois primeiros capítulos de Sobrenatural, o ator e roteirista Leigh Whannell resolveu também ocupar a cadeira da direção depois que seu amigo James Wan foi se aventurar em Velozes e Furiosos 7 (2015). A transição não chega a ser muito sentida. Ainda que Wan tenha mais experiência, Whannell conseguiu aprender bastante neste período e não utiliza dos mesmos cacoetes do seu colega para gerar os sustos. Enquanto o primeiro costumava atrelar sons dissonantes às cenas de maior potencial de horror, o segundo não usa tanto este truque barato, conseguindo melhores resultados ao surpreender o espectador com momentos realmente inesperados. O melhor exemplo disso é o acidente sofrido pela protagonista, mantendo-a na cama por boa parte da trama.

Sobrenatural: A Origem é a história de Quinn Brenner (Stefanie Scott), uma garota que acabou de perder a mãe e se mostra completamente perdida. Seu pai, Sean (Dermot Mulroney), agora depende da ajuda da filha para cuidar do irmão caçula. Mas ela não está preparada para isso, preocupada também com seu futuro na faculdade – teatro é seu sonho, cada vez mais distante. Quando começa a ouvir estranhos ruídos em casa e percebe que alguns de seus objetos estão estranhamente mudando de lugar, ela começa a acreditar que é sua falecida mãe quem está tentando entrar em contato. Para ajudá-la, Quinn procura a médium Elise, que se comove com o relato da jovem, mas não consegue mais realizar estas ligações espirituais. Ela está em luto pela perda do marido e, para piorar, toda vez que tenta um contato com o além, uma estranha força maligna, travestida de preto, aparece a jurando de morte. Não demora para Quinn perceber que as estranhas aparições que vem observando não são de sua mãe, e sim de uma bizarra criatura que deixa um rastro negro e pegajoso por onde passa. Infelizmente, quando ela percebe isso ela já está de cama, com as duas pernas engessadas após ter sofrido um acidente por culpa deste espírito do mal. Sem saber o que fazer, Sean procura Elise, que arriscará a própria vida para ajudar aquela jovem.

Por mais que tenha sido mal explorada no primeiro filme, Elise se mostrou uma das personagens mais interessantes daquela produção, podendo retornar ao segundo filme de forma menos corpórea, mas ainda assim marcante. Colocá-la como uma das figuras mais importantes desta nova produção é um acerto gigantesco de Leigh Whannell. Com mais tempo em tela, podemos conhecer melhor aquela mulher e entender seu passado. Vemos que existe um trauma muito recente em sua vida e conseguimos entender o que a deixou tão ferida e fechada. Ainda que esteja em um momento difícil, ela não deixa de sentir empatia e suas tentativas frustradas de ajudar a jovem Quinn a machucam de verdade. É ótimo quando uma continuação consegue expandir personagens dos filmes originais e nos apresentar novos ângulos destas pessoas. Lin Shaye aproveita a oportunidade e consegue se mostrar novamente corretíssima no papel. Ela até volta a encontrar (brevemente) a noiva de preto neste filme. Infelizmente, a inclusão se mostra um tanto desnecessária, visto que tira um tanto da força daquele personagem vilanesco.

Além desta rápida aparição da grande vilã dos filmes originais, também temos a participação de Steve Coulter, retornando ao papel de Carl, fazendo uma ligação interessante com Sobrenatural: Capítulo 2 (2013). E, claro, temos a volta da dupla Tucker (Angus Sampson) e Specks (Whannell). Engraçado notar que Tucker apresenta um cabelo inspirado em Mr. T e veste uma camiseta da malfadada versão cinematográfica de He-Man, Mestres do Universo (1987), demonstrando toda a sua adoração pela década de 1980. As picuinhas entre os amigos continuam e existe um melhor aproveitamento dos personagens neste filme. O primeiro encontro entre a dupla e Elise se dá nesta história. Com isso, é possível – e de forma bem fácil – criar as mais diversas tramas para aproveitar aquele time recém reunido. Cada nova produção trazendo uma ameaça sobrenatural diferente, com o trio trabalhando como caça-fantasmas. Ideia certamente cogitada pelos realizadores, que não fizeram questão alguma de ligar o final deste Sobrenatural: A Origem com o primeiro longa-metragem de série, esperando utilizar este interim para novas aventuras. Tudo depende, claro, da resposta do público nas bilheterias.

Quanto ao caso sobrenatural desta produção, funciona muito bem, com uma figura ameaçadora e com aparência assustadora o suficiente. O fato de a protagonista estar presa na cama aumenta o potencial dos riscos e o suspense só aumenta a partir desta condição. A jovem Stefanie Scott não decepciona, assim como Dermot Mulroney – ainda que ele demore mais para se encontrar no papel. O roteiro poderia aproveitar melhor os vários coadjuvantes que pipocam na tela, sem muita função.

Com alguns bons sustos e atmosfera de terror convincente, Sobrenatural: A Origem é mais um capítulo interessante de uma franquia que vem cumprindo o que promete a cada novo filme. Whannell se mostra um diretor com boas ideias de enquadramentos e movimentos de câmera e pode ser mantido tranquilamente no posto caso venham mais produções. É só não ter medo de abandonar a noiva de preto ou o demônio com o rosto vermelho, que se mostraram desnecessários nesta produção, e poderemos acompanhar outras histórias arrepiantes como esta por um bom tempo.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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