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Crítica


3

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13 votos 7.4

Onde Assistir

Sinopse

Katie, uma garota de 17 anos, passou a vida inteira trancada em casa por conta de uma doença rara que não permite que ela entre em contato com a luz do Sol. Sua situação muda quando seu destino se cruza com o de Charlie e eles iniciam um romance de verão.

Crítica

Remake do filme japonês Taiyo no uta (2006), de Norihiro Koizumi, que, por sua vez, é inspirado no mangá homônimo de Kenji Bandou, Sol da Meia-Noite tem uma premissa muito parecida com a de Tudo e Todas as Coisas, lançado no ano passado. Portanto, novidade não é necessariamente um atributo do longa-metragem dirigido por Scott Speer. A protagonista é Katie (Bella Thorne), portadora de uma doença raríssima que lhe proíbe qualquer contato com raios solares, por menor que seja. Isso a torna reclusa desde o nascimento, impondo-lhe uma rotina de privações e frustrações. Ela não pode, por exemplo, curtir, como os demais jovens de sua idade, a formatura no ensino médio, até porque foi educada em casa, pelo próprio pai, Jack (Rob Riggle), visto como um homem que faria qualquer coisa para garantir o bem estar da filha. Isso, sobretudo após a fatídica perda da esposa num acidente de carro. Estamos, inapelavelmente, no terreno da idealização. Distanciando-se de qualquer rumo naturalista, a produção oferece oportunidades generosas ao choro, induzindo o espectador.

Atendendo a uma estrutura praticamente de conto de fadas, Sol da Meia-Noite utiliza o drama como um contraponto óbvio dos momentos de felicidade da protagonista na companhia do namorado, Charlie (Patrick Schwarzenegger, sim, filho do Arnold). Ele é um sujeito bonito, bastante popular, especialmente por ter sido atleta escolar de destaque, mas demonstra uma sensibilidade que o diferencia dos demais. Inequivocamente, é um príncipe encantado, prestes a resgatar a princesa da “torre” com janelas especiais que bloqueiam o astro rei, da qual ela o observara desde a infância. Não é necessário intuir, porque a trama oferece subsídios para entendermos que todos os instantes de alegria do casal logo serão afrontados pela voracidade da doença, por danos físicos severos. A mensagem é clara, aliás, mais transparente impossível. O filme parece constantemente dizer: “não importa se a vida é longa, pois o que conta é como a aproveitamos e ao lado de quem”. Essa visão ingênua e romântica guia todos os passos de uma produção açucarada, que tem pedaços de desolação.

A “maldade” em Sol da Meia-Noite é representada tão e somente pela patologia. Chega a ser ensaiada a constituição de uma antagonista, mas isso fica pelo caminho. A protagonista tem uma melhor amiga, Morgan (Quinn Shephard), pronta para o que der e vier; um namorado afeito a lhe fazer surpresas e comportar-se de modo a reafirmar sua suposta perfeição; e um pai exemplar, diligente e carinhoso, cuidadoso na medida certa. Essa Rapunzel com tempo de vida contado, vitimada por uma enfermidade incurável, fatal, é cercada de gente incrível, enquanto aproveita o que sua condição permite, extrapolando-a de vez em quando, justamente para reafirmar a mensagem que o filme carrega como bandeira. Os personagens, bem delineados dentro dessa proposta evidente e banal, são figuras com quem facilmente nos conectamos. A tristeza de Jack, geralmente um cara solar e positivo, é responsável por conduzir o clima pesado que inevitavelmente se instaura quando a situação parece definitiva. Por meio da dor dele, principalmente, o realizador tenta nos emocionar.

Levando em consideração que Sol da Meia-Noite é voltado a adolescentes e jovens adultos, ele possui qualidades que não o deixam cair numa nulidade absoluta, isso, claro, aceitados os termos do contrato de idealização que busca estabelecer. As pessoas são simpáticas, a melancolia é intrínseca à condição de Katie e, consequentemente, à de todos que dela se aproximam. É um exemplar calculista, no qual a música, executada milimetricamente em consonância com olhares tristonhos e similares, quer nos levar aos olhos marejados. Bella Thorne não faz feio como a menina que precisa aceitar a morte para aproveitar experiências sempre sonhadas. Patrick Schwarzenegger se mostra tão inexpressivo quanto o pai no começo de carreira, não podendo se dizer o mesmo quanto ao carisma. Embora se encaixe no papel, ele não consegue transmitir a flutuação sentimental de alguém diante de um grande amor que logo sumirá. O trabalho de Rob Riggle se destaca, notadamente porque a angústia do personagem dele se configura como vital aos intentos do cineasta, cuja abordagem é direcionada a nichos específicos (e sobremaneira impressionáveis) do público.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
3
Alysson Oliveira
2
MÉDIA
2.5

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