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Sinopse

Ao acompanhar jovens brasileiros que resolvem se juntar às forças militares de outros países para lutar em guerras, tenta-se compreender as motivações que os levam a essa escolha de vida.

Crítica

Dirigido por José Joffily e Pedro Rossi, Soldado Estrangeiro acompanha três brasileiros vinculados a exércitos de outros países. Os protagonistas têm histórias relativamente convergentes, até porque as motivações que os impeliram ao alistamento, guardadas as devidas proporções, são parecidas. Em busca de uma vida melhor, do dinheiro valorizado que tende a permitir um cotidiano mais confortável e, de quebra, a possibilidade de ajudar a família permanente no Brasil, a trinca aceita defender bandeiras forasteiras, chegando a ficar na linha de frente de conflitos armados. Eles representam fases distintas de tal resolução. Bruno é acompanhado desde os preparativos para servir na Legião Estrangeira francesa até a chegada à Europa e os primeiros testes de admissão. De Mario vemos a atuação efetiva como membro das tropas israelenses na convulsionada Faixa de Gaza. Já Felipe é o veterano da marinha norte-americana que exibe sinais claros de traumas das batalhas.

Soldado Estrangeiro acompanha o dia a dia dos três, ressaltando, em medidas equivalentes, individualidades e similaridades. Por meio destas, promove interseções que geram unidade. Por exemplo, o dado financeiro que ajuda a interligar as narrativas. Bruno menciona a prioridade às necessidades da filha, definitiva à vontade de servir fora. Dispensado do exército brasileiro, ele não tem informações suficientes para “apaixonar-se” pela instituição na qual se alista sem, ao menos, falar o idioma oficial da Legião. Já Mario está estabelecido, goza dos privilégios que Israel confere aos soldados, tais como moradia confortável e vários benefícios indisponíveis aos civis locais. Oferecendo o considerável ponto de ruptura nessa curva aparentemente ascendente, há a história de Felipe, com as promessas em que acreditou, além das lesões físicas e emocionais causadas pelo tempo engajado na luta estadunidense contra terroristas talibãs. Ele traz o dado melancólico ao filme.

Sem sublinhar demasiadamente especificidades, deixando a experiência dos protagonistas falar por si, os realizadores, contudo, são eficientes ao criar entroncamentos, através dos quais há a compreensão desse estudo acerca das peculiaridades de defender interesses de outros países. Mario, mediante à utilização de uma câmera no capacete, em plena atividade, permite que se tenha a perspectiva pessoal e intensa das abordagens nem sempre amigáveis. Dos três, ele é o que mais exibe uma determinação superficialmente inabalável. É como se aquela vida, marcada por folgas esparsas, noites de tocaia e uma práxis protocolar, sempre que lhe é permitido retornar para casa, saciasse sua sede imatura de adrenalina. Ele evidentemente gosta daquilo, chegando a exibir orgulho, algo provavelmente perseguido por Bruno, de vislumbre ainda tímido, e refutado por Felipe, desiludido, inclusive, quando ao status glorificante que a farda pretensamente pode atribuir.

Fazendo um documentário sóbrio, porém contundente, em que os pesos dos combates gradativamente são tidos como algo intrínseco à vivência no exército, sobretudo nos de países metidos em contendas internacionais, José Joffily e Pedro Rossi logram êxito ao cerzir histórias singulares a partir das suas semelhanças. Com isso, desenham um painel que aborda, ao mesmo tempo, jovens sem perspectiva no Brasil, que se testam longe de casa, e o mecanismo torpe das máquinas de guerra que seduzem com promessas de compensação financeira e dissimulam estilhaços. As tramas são pontuadas com citações de Johnny Vai à Guerra, livro de Dalton Trumbo que ganhou uma versão cinematográfica. As confissões do soldado que pondera sua experiência terrível no front servem de eficientes âncoras ao tom assumido, ao crescente desalento com as engrenagens militares que trituram os sonhos juvenis ao prometer-lhes vaidade e soldo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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