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Sinopse

Renato Russo sonha em ser um astro da música, mas ainda é cedo. Ele precisa estudar, dar aulas de inglês, interagir com os pais que não o entendem, curar dores de amor e amadurecer. A jornada está apenas começando ao estrelato.

Crítica

A história da música brasileira dos anos 1980 talvez não tivesse sido tão marcante sem a presença de Renato Russo. O líder da Legião Urbana não apenas marcou esta época como todas as gerações que vieram e continuam ouvindo seu rock poético, suas composições arrebatadoras, o protesto político e o romance andando de mãos dadas. A trajetória dos seus primeiros anos em Brasília fazendo música ao lado dos amigos e colegas (que mais tarde seriam célebres por outras bandas como Capital Inicial e Paralamas do Sucesso, por exemplo) é o norte de Somos Tão Jovens, com Thiago Mendonça no papel principal. Ator que já tem experiência em cinebiografias musicais (ele é o Luciano de 2 Filhos de Francisco, 2005).

Mendonça, por sinal, não atua. Ele simplesmente encarna a figura de Renato Russo em sua personalidade, seus trejeitos, no modo como fala e gesticula a boca (um traço marcante do compositor) e, especialmente, com sua voz. Aliás, que voz. Um timbre que ecoa pela tela remetendo a lembrança de quem viveu e ouviu na época clássicos como Será e Eduardo e Mônica. Um trabalho que lembra, é claro, o de Daniel de Oliveira como o poeta exagerado em Cazuza: O Tempo Não Para (2003). Mendonça aprendeu a tocar instrumentos e cantar de verdade para dar veracidade ao seu papel.

Ao lado da espetacular presença de Mendonça/Russo, os coadjuvantes também encarnam as personalidades famosas. Neste rol se destacam Bruno Torres como Fê Lemos, baterista do Aborto Elétrico que vivia em eterna discussão com Renato; Ibsem Perucci, o xerox de Dinho Ouro Preto; Edu Morais, perfeito na fala mansa de Herbert Vianna, além de Nicolau Villa-Lobos, literalmente a cara do pai Dado Villa-Lobos, a quem interpreta. Sem contar, é claro, todo o restante do elenco, que não desperdiça o tempo em tela.

Um dos grandes acertos do roteiro é delinear o período retratado em tela, entre o final da década de 1970 e o início dos anos 1980, ou seja, do início do interesse do poeta por punk rock até o marcante show no Circo Voador. Porém, se esta delimitação é satisfatória por um lado, por outro a intensa e constante passagem de ícones da música em tela acaba sendo mais um desfile de bons atores, que não conseguem desenvolver tanto seus personagens. O mesmo acontece com o próprio personagem principal. Se Mendonça é incrível só por apresentar seu semblante, alguns dramas de sua vida acabam meio falhos. Entre estes casos está sua doença óssea (a epifisiólise), que aparece apenas no início do filme como um grave problema que o deixa de cama por seis meses, mas após é deixado de lado. Quem sabe numa "versão do diretor" estes aspectos não sejam mais desenvolvidos.

O importante é que, com falhas, porém recheado de méritos, Somos Tão Jovens é uma obra necessária na cinematografia nacional por registrar um dos momentos históricos mais importantes da música brasileira e, principalmente, por reverenciar um de seus ícones, mas sem nunca torná-lo um mártir. Há um cuidado para humanizar Renato Russo apresentando não só sua genialidade e sensibilidade, mas também o quanto ele podia ser irritante com os conhecidos (as cenas em que sai da mesa sem falar nada retratam bem isto) e, principalmente, seu ego inflado, que o deixava com uma aura de prepotência em dados momentos. Não muito diferente de qualquer grande poeta da história.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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