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Sinopse

Em Sonic 3, Sonic, Knuckles e Tails se reúnem contra um novo e poderoso adversário, Shadow, um vilão misterioso com poderes diferentes de tudo o que já enfrentaram antes. Com suas habilidades excepcionais, a Equipe Sonic vai buscar uma aliança improvável na esperança de deter Shadow e proteger o planeta. Sequência de Sonic 2: O Filme (2022).

Crítica

Na nova aventura cinematográfica do ouriço mais rápido dos games, Sonic está vivendo uma vida tranquila ao lado dos amigos com os quais forma uma família harmoniosa. Mas não demora para surgir uma nova ameaça no horizonte e ela atende pelo nome de Shadow, um semelhante do protagonista que está transbordando de raiva e dor. Antes de qualquer coisa é preciso levar em consideração que Sonic 3: O Filme continua com a pegada infantil dos seus antecessores, repleto de lições de moral simplistas e personagens malvados se redimindo. Enquanto Sonic se tornou um herói defensor da Terra por conta do amor recebido quando chegou por aqui, Shadows está possuído pelo espírito da vingança justamente em virtude do ódio com o qual foi recebido ao desembarcar por aqui. Sendo assim, o filme defende esta ideia reducionista de que a diferença entre mocinhos e vilões é a quantidade de afeto à qual os dois foram submetidos. Logo, Shadows é certamente uma enorme ameaça, até porque consegue ser ainda mais rápido e poderoso do que Sonic. Porém, como a sua redenção é questão de tempo, está mais para anti-herói. Desse modo, o antagonista é um solitário em busca de compreensão. Quando ele ganhar um ombro amigo no qual se apoiar, inclusive para lidar melhor com a dor do luto, claro que deixará de ser problema e passará a ser parte da solução. Aliás, essa regeneração de um vilão tem outro ponto.

Sonic 3: O Filme requenta com poucas variações as dinâmicas dos filmes anteriores, sendo um emaranhado de momentos edificantes, demonstrações de companheirismo, ação feita em CGI e reabilitações. Uma vez que Sonic não é páreo para a nova ameaça, mesmo com a ajuda de seus amigos Knuckles e Tails, a quem e deve recorrer? Ao Dr. Robotnik (Jim Carrey), o arquirrival que também flerta com um heroísmo de ocasião. Assim como Shadow, o principal inimigo do ouriço é encarado como um homem que não recebeu muito amor na infância e por isso teria crescido com mania de grandeza e propenso a fazer maldades. Essa psicologia rasa é repetida na “cara dura” porque ao filme é mais importante falar de arrependimento do que necessariamente construir uma dinâmica empolgante (coisa que o filme não é). Sendo assim, a terceira jornada cinematográfica de Sonic pega carona numa tendência recente que mostra personagens malvados virando bonzinhos. Numa Era em que todos anseiam por heróis salvando o dia, até mesmo as figuras mais ultrajantes podem encontrar dentro de si a motivação para fazer positivamente a diferença. Fica uma pergunta: uma vez que vilões se transformam em heróis, contra quem eles vão lutar no fim das contas? Aqui a resposta está num parente de Robotnik, o personagem que existe para a trama ter boas oportunidades de ser cartunesca e amalucada.

Enquanto Sonic e companhia tentam encontrar forçar para derrotar o novo inimigo, Robotnik entra numa egotrip familiar ao se deparar com o seu avô centenário, o Dr. Gerald (também interpretado por Jim Carrey). Há momentos de Sonic 3: O Filme em que o enredo simplesmente fica em suspenso enquanto os Robotnik empilham piadinhas infames ao se reconhecerem como membros da mesma linhagem. Claramente Jim Carrey reivindica mais espaço para brilhar com a sua conhecida capacidade de fazer caras e bocas combinadas a um exímio talento para gags visuais. Desse modo, todos os outros elementos humanos do filme acabam ficando menores, quando muitos utilizados pontualmente para justificar minimamente a conspiração da entidade que confinou Shadow durante 50 anos numa instalação secreta. Talvez até os espectadores mais jovens, os mesmos geralmente fisgados por cores, piadas bobas e ação desenfreada, se entediem um pouco com a sucessão de esquetes que nunca definem uma sensação crescente de perigo e heroísmo. Além disso, os personagens estão sempre pedindo explicações ou elucidando nos mínimos detalhes o que está acontecendo. O cineasta Jeff Fowler subestima a capacidade do público infantil de compreender coisas relativamente simples, por isso reitera frequentemente, por meio das palavras, as informações apresentadas pela imagem e pelos sons.

Sonic 3: O Filme é pensado não individualmente, mas dentro de uma ideia ampliada de franquia. Não à toa, a cada encerramento (sobretudo nas cenas pós-créditos) é apresentada mais uma figura do universo do ouriço da Sega. A ideia da estratégia é manter alguma novidade pensando na próxima produção. E isso também acontece aqui. No entanto, antes que o dia seja salvo pela união improvável entre inimigos (o que não é um spoiler, pois o filme nunca coloca em dúvida o fim feliz), o filme vai reforçando aquilo que se espera de um produto pop na atualidade: ser uma metralhadora de citações que se transformam em hiperlinks. Nos anos 1950, quando o cinema começou a refletir acerca de si mesmo e utilizar a sua história também como assunto, era comum vermos cineastas manifestando as suas paixões cinéfilas por meio de menções a clássicos e cenas, assim gerando cumplicidade com a plateia. E essas citações tinham função narrativa, não estavam ali somente como uma demonstração exibicionista. Na atualidade, as referências raramente são mais do que piscadelas chamativas e vazias para um público consumidor ávido por validação. Além disso, quando o filme cita Lanterna Verde, Pokémon, entre outros universos da cultura nerd, ele está brindando o público com pílulas que amenizam a falta de consistência do resto. São doses retardando a percepção sobre a natureza genérica dessa fraca terceira parte.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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