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Crítica


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Sinopse

Sonic, o ouriço azul mais veloz do mundo, vive isolado e sem amigos na Terra desde que precisou evadir de seu planeta natal. Todavia, ele receberá a ajuda de um policial quando o Dr. Robotinik, a mando do governo dos Estados Unidos, começar a persegui-lo.

Crítica

Mistura de animação e live-action, Sonic: O Filme não se preocupa em encorpar a mitologia do ouriço mais rápido dos videogames (agora também das telonas). Aos produtores, basta sabermos que ele é um forasteiro vivendo incógnito numa pequena cidade dos Estados Unidos após perder o contato com a tutora em sua ilha de origem. Nos tempos atuais, em que estrangeiros são tratados com desdém e tanta desumanidade pelos governos de certas potências, incluindo a norte-americana, é incontornável o paralelo com a realidade, afinal se trata de um protagonista exilado. Todavia, o cineasta Jeff Fowler resolve pegar um atalho seguro e não permitir que seu filme se abra aos subtextos, focando no aspecto da solidão e deixando qualquer animosidade dos humanos como traço praticamente inexistente. Nem o vilão, o Dr. Robotinik (Jim Carrey), se presta a isso, uma vez que sua maldade é motivada por uma curiosidade científica desmedida, o que o leva a ser detestável.

Sonic: O Filme é uma produção infantil, deliberadamente mais disposta em investir nas gags ligeiras, piadas imediatas e personagens exagerados com o intuito de garantir a adesão dos pequenos, partindo do pressuposto de que o público-alvo não é tão chegado a sutilezas. Sonic, cuja voz original é de Ben Schwartz, é uma criaturinha adorável que apenas deseja fazer amigos. Ele cresceu absorvendo a cultura e, de certa forma, fazendo parte do cotidiano da pacata Green Hill, sabendo de cor e salteado, por exemplo, quando o policial Tom (James Marsden) e sua esposa, Maddie (Tika Sumpter), dão uma pausa na corredia diária para curtir um cinema. É óbvio o paralelo estabelecido entre o protetor da lei e o ouriço, pois ambos estão em busca de completude. O humano quer ser realmente importante, proteger efetivamente os indefesos. O azulão veloz deseja encontrar companhia para mitigar a tristeza de viver sem amizade. Então, eles se ajudam mutuamente.

Jim Carrey está, ao menos, uns dois tons acima dos demais em Sonic: O Filme, abusando de caras, bocas e sacadas que dão conta de uma megalomania caricatural. Levando em consideração a prioridade do público infantil, é relativamente aceitável essa figura ser exagerada e insistir na repetição de sua maldade que ultrapassa a insanidade. Porém, mesmo dentro desse diagnóstico, cabe ressaltar que Carrey tem momentos demais nos quais praticamente lhe é dada a telona para fazer solos, tal um músico exibicionista. Em vários instantes do filme as atenções se voltam única e exclusivamente para Robotinik ensaiando alguma ruindade, debatendo consigo mesmo ou com seus imediatos os planos para apropriar-se do poder incompreensível de Sonic. Curiosamente, quando ele não está em cena, o longa tem mais dificuldades para manter-se interessante, em parte porque o personagem de Marsden nada mais é do que um arquétipo do certinho que pouco inspira.

De um lado temos Jim Carrey praticamente incontrolável, num histrionismo valorizado pela direção. Do outro, a vacilante dinâmica entre Sonic e Tom, com momentos legais, vide a perseguição sofrida de uma parafernália quase indestrutível, e outros bem sem graça, tal a inexplicável parada num bar, onde fugitivos confraternizam sem mais aquela mesmo tendo o vilão imediatamente no encalço. O que poderia ser um arrojo, como a sordidez do governo norte-americano, acaba relativizado numa piadinha do tipo “nossas sinceras desculpas por termos soltado um lunático na cola de vocês”. Várias circunstâncias aparentemente impossíveis são resolvidas na base da resiliência, da força da amizade e do inesperado despertar de poderes até então desconhecidos. Um filme inocente, cuja construção bastante esquemática está mais para encaixe burocrático de peças a fim de contemplar crianças do que necessariamente uma tentativa de fazer algo com consistência.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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