Crítica

After the Gold Rush, do Neil Young; Fleetwood Mac, do Fleetwood Mac; Damn the Torpedoes, do Tom Petty and the Heartbreakers; Nevermind, do Nirvana; Rage Against the Machine, do RATM; Unchained, do Johnny Cash; Rated R, do Queens of the Stone Age; With Teeth, do Nine Inch Nails; Death Magnetic, do Metallica; Suck and See, do Arctic Monkeys; Para quem gosta de rock, os títulos de discos aqui citados dizem muito. Alguns mais, outros menos, mas todos bem sucedidos, com lugar importante na discografia destes artistas. O que mais os une? Foram gravados no Sound City Studios, estúdio localizado em Van Nuys, na Califórnia, um local curiosamente fora do centro das atenções, mas que, mesmo assim, atraiu um número gigantesco de músicos talentosos para lá.

Dentre estes carismáticos artistas, Dave Grohl sempre foi fascinado com aquele espaço. Baterista do Nirvana na época, o músico se impressionou com a qualidade da captura do som do seu instrumento na sala (improvisada) do Sound City. Não só com isso, mas com a mesa de som do local, uma Neve 8028, criada especialmente para o estúdio. Quando o Sound City  foi a falência em 2011, Grohl – hoje, líder do Foo Fighters – resolveu comprar a mesa e levar para seu estúdio caseiro, o 606. Assim surgiu a ideia de um documentário contando a história daquela mesa de som, que acabou se expandindo e virando um filme sobre a trajetória do Sound City.

Sound City é dividido em duas partes. A primeira conta a história do local, desde os anos 70, quando abrigou gravações de Neil Young, viu a gênese de um novo momento da carreira do Fleetwood Mac, passando pelos exagerados anos 80, com o surgimento do astro de um hit Rick Springfield, chegando aos 90, com o estouro do grunge e o segundo sopro de sucesso do estúdio. A outra metade do documentário é uma experiência de Grohl. Com a mesa Neve 8028 no seu estúdio, o líder dos Foo Fighters convidou músicos que haviam tocado no Sound City (ou não) para reviver a chama, gravar novas canções e honrar aquela época. Nomes como Josh Homme (do Queens of the Stone Age), Trent Reznor (do Nine Inch Nails), Lee Ving (do Fear), Stevie Nicks (do Fleetwood Mac) e até Paul McCartney, que nunca gravou no Sound City, mas é referência para qualquer músico, participaram das gravações. Além deste momento musical, muitos artistas e pessoas que trabalharam naquele estúdio dão seu depoimento sobre a época.

Dave Grohl estreia como diretor neste documentário, também assinando o argumento do filme. E nem parece que se trata de um estreante. Fazendo um trabalho conciso, dinâmico, com boas entrevistas e contando de forma muito didática a história daquele estúdio, Grohl mostra talentos que vão além dos musicais. Como tem muitos amigos na cena, convidá-los para dar depoimentos não deve ter sido a tarefa das mais difíceis. Por isso, temos nomes como Neil Young, Tom Petty, Mick Fleetwood, Rick Springfield, Butch Vig, Josh Homme, Trent Reznor, Frank Black e Krist Novoselic falando sobre como era gravar no Sound City. E o mais legal de tudo: ainda que sejam muitas falas elogiosas, não existe o interesse de tapar o sol com a peneira. O estúdio podia ser ótimo, mas o lugar era uma verdadeira espelunca. Suja, mal cuidada, com sérios problemas de administração. Nada que impedisse fazer boa música, felizmente.

Em um documentário com tantos músicos talentosos não poderia faltar muita boa música. É de arrepiar os momentos em que o Nirvana é relembrado – inclusive com um corte rápido entre o clipe de Smells Like Teen Spirit e Dave Grohl na bateria, nos dias de hoje. Ou quando são mencionados os discos Rated R, do Queens of the Stone Age e as gravações de Johnny Cash. É verdade que os trechos que arrepiam dependem muito do gosto musical do freguês. Cada espectador terá uma experiência diferente, certamente.

Cheio de boas histórias, Sound City traz algumas revelações interessantes e bastante sinceras. A principal é a troca de empresário de Rick Springfield. O músico foi apadrinhado por um dos donos do estúdio, Joe Gottfried, e depois de fazer sucesso, acabou o substituindo por outro empresário. Springfield conta a história com arrependimento, ainda que tenha conseguido fazer as pazes com seu ex-manager antes de ele morrer, em 1992. Outra boa história é a entrada de Lindsey Buckingham e Stevie Nicks no Fleetwood Mac. O convite surgiu após Mick Fleetwood ter ouvido o som da dupla em uma gravação feita no Sound City. Uma inclusão no line up que mudou os rumos da banda para sempre.

Se a primeira hora de Sound City é uma aula de história da música, a segunda metade do filme é ver a teoria ser colocada na prática. Jam sessions com grandes músicos dão o tom deste trecho do documentário, com ótimas canções. O destaque, óbvio, fica para os remanescentes do Nirvana tocando com Paul McCartney a pesada Cut me Some Slack. O que significa isso? Simplesmente é observar o ex-beatle retornando ao seu estilo Helter Skelter colaborando com os músicos de uma das bandas mais importantes da década de 90. Se o filme fosse só esta jam, já valeria a pena assisti-lo. Da forma como foi realizado, é obrigatório para qualquer fã de música que se preze.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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