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Sinopse

Um gato veterano e um rato novato são dois agentes secretos. Eles formam uma dupla improvável, incumbida de investigar o roubo de um objeto enigmático e descobrir o que verdadeiramente querem os bandidos.

Crítica

Independente de ser um drama que ambiciona ser reconhecido na temporada de premiações ou em uma animação voltada ao público infantil, qualquer trama detetivesca deve ter ciente em sua narrativa que mais importante do que o mistério em si deve ser o modo como irá trabalhar cada um dos possíveis suspeitos do crime em questão. No primeiro caso, um exemplo recente é Entre Facas e Segredos (2019) – indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original – que, mesmo com um número limitado de figuras em cena, sabia dotá-los de características suficientemente ludibriantes para que a cada descoberta eles se apresentassem aos espectadores sob novas perspectivas. Bem diferente, no entanto, do que se verifica em Spycies: Agentes Selvagens – que se encaixa na segunda corrente, é claro – um produto que não consegue ir além das suas pretensões por confiar em excesso no que é exposto em cena, esquecendo-se dos desdobramentos possíveis junto à sua audiência.

Sim, pois essa não está interessada apenas na dinâmica dos acontecimentos, mas acima de tudo em como deverão ressoar junto às suas próprias experiências e realidades. Se a história se apresentar como uma colcha de retalhos, repleta de referências a outras mais bem-sucedidas e de maior impacto prévio, as probabilidades de encontrar algum tipo de ressonância estarão próximas do zero. No longa dirigido pelo francês Guillaume Ivernel (Caçadores de Dragões, 2008) em parceria com o chinês Zhiyi Zhang tudo é tão evidente e assumido que pouco espaço sobra para divagações e questionamentos. E se o processo de construção não se dá na mesma medida entre público e obra, esta se torna irrelevante, nas mesma medida em que o outro passará a desprezá-la.

Pra começar, há o cenário, que nada mais é do que uma cópia de Zootopia (2016), porém sem a inventividade percebida no oscarizado título da Disney. Em um universo em que os animais possuem comportamentos humanizados e convivem em grandes cidades uns ao lado dos outros em suposta harmonia, o gato Vladimir é o agente especial que todos admiram, menos os seus superiores. Afinal, para cada caso resolvido, metade da cidade é destruída com suas peripécias – mais ou menos como visto na comédia de ação infantil Aprendiz de Espiã (2020). Assim como o brutamontes vivido nesse por Dave Bautista, o protagonista também é colocado na ‘geladeira’, para que novos estragos não sejam cometidos. Como resultado, acaba sendo mandado para uma estação marítima no meio do oceano, onde tem como única companhia o rato Hector – tá bom para formar a dupla improvável da vez?

Quando, mesmo isolados de tudo e de todos, conseguem ser desastrados o suficiente para permitir que um assalto aconteça diante dos próprios bigodes, decidem retornar à terra segura na busca pela honra perdida. Nesse contexto, se verão entre duas figuras de autoridade: uma, o superior imediato de ambos na agência, um elefante de cabelo escovinha e voz grossa, e a outra, o urso pardo de fala mansa e gestos lentos que surge no comando do hospital que guarda mais segredos do que esse, talvez, gostaria de admitir. Se o campo de suspeitos se resume a apenas esses dois, quando todas as evidências se esforçam em apontar apenas para um lado, não será necessário nenhum Sherlock Holmes para desconfiar que talvez esteja na direção oposta a identidade pela qual todos procuram.

É justamente por essa falta de surpresa que Spycies: Agentes Selvagens perde a maior parte do seu possível interesse. Entre iniciativas válidas, como a tentativa de abordar o fascínio pelas celebridades e os sacrifícios que essas se sujeitam em busca da fama a qualquer preço, e esforços que terminam por se perder diante de tantas possibilidades não alcançadas, como o discurso em prol das espécies em extinção e os motivos que levam aos seus desaparecimentos, há muitas intenções em conflito – entreter, ensinar, refletir, divertir – que na maior parte do seu desenvolvimento o que se percebe é mais esse esforço do que o resultado almejado. Agitado o suficiente para manter os pequenos atentos, falha em atingir uma audiência mais madura pelas limitações que enfrenta em sua realização. Não chega a ser inteiramente desprovido de méritos, mas mesmo esses são tão básicos que pouco conseguem se destacar dentre um oceano de opções semelhantes.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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