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Sinopse

Destaca momentos decisivos na vida de Steve Jobs, desde o lançamento do primeiro Macintosh, em 1984, e a criação da NeXT Inc, até a introdução revolucionária do iMac. Fatos da vida pessoal de Jobs também são revelados, especialmente o conturbado relacionamento com sua primeira filha Lisa.

Crítica

Aaron Sorkin é um dos poucos roteiristas que conseguem imprimir seu estilo seja qual for o diretor que comande os seus escritos. Em seus mais recentes trabalhos no cinema, como Jogos do Poder (2007), A Rede Social (2009) e O Homem que Mudou o Jogo (2011), foi possível conferir na plenitude os diálogos afiados e rápidos do escriba, conhecido principalmente pelo sucesso da TV The West Wing. Em Steve Jobs, o seu estilo “walk and talk“ tão conhecido dos seus seriados foi mantido intacto pelo diretor Danny Boyle, que além de utilizar o que de melhor Sorkin oferece, também colocou seu conhecido molho, fazendo um longa-metragem dinâmico, inteligente e que faz exatamente o que se propõe: jogar luz sobre um dos principais nomes da tecnologia e inovação do século XX, Steve Jobs.

Para começar, a forma como a trama é construída é o seu principal predicado e se destaca das demais cinebiografias que existem por aí. Em vez de fazer um filme que tente abranger uma vida toda, Sorkin preferiu escolher três momentos marcantes da vida de Jobs e preencher estes momentos com fatos de sua vida que seriam essenciais para conhecermos a personalidade do retratado. Steve Jobs se passa, então, em 1984, durante o lançamento do Macintosh; em 1988, no lançamento do Next; E em 1998, durante a apresentação do iMac. Danny Boyle, por sua vez, decide utilizar formatos diferentes para filmar cada uma destas partes. Na primeira, ele usa uma câmera 16mm. Na segunda, uma de 35mm. E, na terceira, o formato digital é utilizado. Além disso, cada um dos seguimentos nos é apresentado em tempo real. Não é a toa que o longa-metragem se mostra tão dinâmico, visto que temos uns 30 ou 40 minutos em cada um destes lançamentos, com diálogos rápidos e a câmera de Boyle acompanhando com vivacidade estes momentos.

Para alcançar este resultado, ensaios foram realizados antes da gravação de cada um dos seguimentos – e tudo foi filmado em ordem cronológica, para facilitar a vida dos atores. E um elenco de respeito, diga-se. Michael Fassbender vive Steve Jobs – depois de Christian Bale e Leonardo DiCaprio terem sido considerados – e mostra que é um dos nomes mais interessantes de sua geração. O ator não se limita a imitar o retratado. Ele compreende a mente inquieta do seu personagem e não doura a pílula ao interpretá-lo como um sujeito inteligente, mas incrivelmente egocêntrico, arrogante e, por vezes, detestável. Nem por isso é menos interessante acompanhar a sua jornada obsessiva por inovação e observar que cada mínimo detalhe é importante em sua criativa mente.

Ao seu lado, todo o tempo, está Kate Winslet, interpretando a assistente/consciência Joanna Hoffman. É ela quem tenta colocar algum senso na cabeça de Jobs, seja com seus colegas de profissão ou com sua família. Ela é quem bota os pés do seu chefe no chão. Mesmo falhando no intento, esta é a tentativa. Winslet é uma atriz versátil e se dá muito bem com o texto de Sorkin. Foi vontade dela se oferecer para o papel após saber que circulava um projeto assinado pelo roteirista, a ser dirigido por Danny Boyle e com Fassbender no elenco. Seu faro apontou um caminho interessante para ela, visto que sua interpretação no filme é uma das unanimidades – tanto junto à crítica quanto às premiações, que tem lembrado dela continuamente. No Globo de Ouro, foi vencedora e é aposta segura para uma indicação ao Oscar.

Os demais nomes do elenco – Seth Rogen, Michael Stuhlbarg, Jeff Daniels e Katherine Waterston – tem, cada um, seu momento para brilhar e sua importância destacada na trama. Rogen é Steve Wozniak, parceiro de Jobs desde tenra idade, representa seu laço com o passado. Stuhlbarg é Andy Hertzfeld, funcionário mais destacado da Apple e que serve como o lado prático para o chefe. Daniels é John Sculley, CEO da Apple, pessoa que traiu a confiança de Jobs, representando seu desligamento da empresa que ele tanto se empenhava a construir. E Waterston é Chrisann Brennan, representando o laço familiar. Ela é a mãe de Lisa, filha de Jobs, ainda que ele negasse a paternidade por muitos anos.

Logicamente, os acontecimentos ligados aos lançamentos dos produtos mostrados no filme não se deram daquela forma, nem naquele preciso tempo. O mais inteligente do roteiro de Aaron Sorkin é criar um ambiente em que tudo aquilo poderia acontecer, nos dando uma ideia do que viveu o personagem, seus dramas, intenções e pensamentos, mas nem por isso sendo acorrentado pela veracidade dos fatos. A realidade não é necessariamente cinematográfica e tanto Sorkin quanto Boyle entendem isso e criam em cima da biografia escrita por Walter Isaacson, dando-se algumas liberdades.

Uma lástima que o público norte-americano não tenha ido aos cinemas conferir o filme. Com orçamento de US$ 30 milhões, a bilheteria doméstica foi de apenas US$ 18 milhões. Talvez a proximidade com a outra cinebiografia Jobs (2013), estrelada por Ashton Kutcher, tenha afastado as pessoas do cinema. Uma pena, visto que Steve Jobs é incomparavelmente superior àquela produção anterior, se mostrando não só um retrato interessante de um homem ímpar como um produto cinematográfico de alto valor. Espera-se que com esta época de premiações o filme encontre seu público em outros países, inclusive o Brasil.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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