Crítica
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Sinopse
Nick e seu irmão tiveram de cuidar do caçula enquanto sua mãe passava boa parte dos dias embriagada. Após a morte do bebê, um enorme sentimento de culpa permeia a existência de ambos. Muitos anos depois, eles se reencontram no funeral da mãe, onde revivem certas mágoas e descobrem que outro membro da família sofre.
Crítica
Do cinema europeu é sempre possível esperar por boas surpresas, e é da Dinamarca que tem surgido alguns dos trabalhos recentes mais interessantes. E Submarino é mais uma aposta certeira, assim como o thriller Tudo Ficará Bem, o polêmico Melancolia e o oscarizado Em Um Mundo Melhor. Destes quatro, no entanto, talvez o mais duro e sofrido seja justamente esse novo longa dirigido por Thomas Vinterberg, um dos criadores do movimento Dogma 95 no final do último século. Após trabalhos impactantes como Festa de Família, o hollywoodiano Dogma do Amor e o subestimado Querida Wendy, ele está de volta às origens com um trabalho que envolve e machuca.
Numa direta referência a uma técnica de tortura por afogamento, Submarino é adaptação do livro homônimo do escritor dinamarquês Jonas T. Bengtsson e tem como centro de sua ação uma família completamente despedaçada. A mãe, sempre bêbada, não dá a menor atenção aos três filhos pequenos – duas crianças e um bebê recém nascido. Serão eles, sozinhos, que tentarão sobreviver por conta própria, sem o auxílio materno. E, infelizmente, não serão bem sucedidos nesse intento – numa certa manhã, quando os maiores acordam, o menor está morto. A tragédia cai com força, desfazendo o frágil núcleo familiar e marcando suas vidas para sempre.
Muitos anos depois, reencontramos os irmãos sobreviventes em situações não muito diferentes, mas ao mesmo tempo em mundos completamente estranhos um ao outro. Nick (um impressionante Jakob Cedergren) mora em um abrigo e segue solitário. Transa ocasionalmente com a vizinha da porta da frente e suas únicas preocupações são o horário da academia de ginástica e a quantidade de cervejas que mantém na geladeira. Ele sente falta de algo que o preencha, e o reencontro com o irmão durante o velório da mãe abre uma porta há muito selada. Quer se aproximar, mas não sabe como, nem quando. E isso dá início a um processo difícil e doloroso, que irá envolver ainda a namorada eventual e um amigo retardado, além da ex-esposa.
O outro irmão (Peter Plauborg), que segue sem nome, tem seus próprios dramas. A esposa morreu recentemente num acidente de trânsito, deixando-o a responsabilidade de cuidar do único filho do casal. Um problema que seria menor, caso não fosse viciado em heroína. E, percorrendo uma rota de autodestruição, vai se afastando cada vez mais do ideal almejado quando criança. Sem conseguir cuidar de si mesmo, como criar um outro ser? A decisão de se tornar traficante de drogas só piora o cenário. Chega a doer fundo presenciar cenas como os momentos de alegria entre pai e filho, as promessas feitas entre eles e os sonhos que dividem por instantes, pois sabemos que nada do que se vê irá durar muito.
O melhor de Submarino, no entanto, é a habilidosa condução de Vinterberg, que sabe muito bem o que quer mostrar e assim o faz sem pressa ou exageros. Nada é gratuito ou feito para simplesmente provocar. A opção por narrar essa história sob dois pontos de vista, mostrando um irmão após o outro, intercalando-os somente em meros e estudados instantes, confirma esse acerto. A realidade exposta é crua e sofrida, mas ao mesmo tempo real e próxima de qualquer um. Basta um deslize, um mero descuido, e toda uma existência pode ser desperdiçada. Estando ou não vivo para que isso aconteça. Este é um filme que mexe com convicções e certezas, surpreendendo não só pela forma, mas também pelo conteúdo.
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