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Sinopse

Acompanha a trajetória das ambientalistas brasileiras Giselda Castro e Magda Renner. Ambas iniciaram seus trabalhos sob desconfiança e tiveram de lidar com conceitos de uma época conservadora.

Crítica

Em janeiro deste ano, durante a chamada Marcha das Mulheres, ocorrida em Washington um dia após a eleição do presidente Donald Trump, a presença de algumas manifestantes na faixa dos 60 anos garantiu a foto ideal para certas manchetes sobre a movimentação. Mesmo com a redescoberta de questões relativas ao feminismo por uma nova geração de mulheres, é compreensível que o engajamento de senhoras chame a atenção da mídia e até de quem participa. Um dos motivos da luta é que, por maiores que sejam as conquistas, elas correm um risco grande de esquecimento. É por isso que documentários como Substantivo Feminino, de Daniela Sallet e Juan Zapata, têm uma importância que vai além do cinema.

Em 1964, pouco antes do golpe civil-militar, um grupo de mulheres pertencentes a famílias tradicionais gaúchas criou uma entidade com fins sociais, oferecendo cursos profissionalizantes e palestras sobre higiene e cidadania para moradoras da periferia de Porto Alegre. A Ação Democrática Feminina Gaúcha (ADFG) garantiu novas oportunidades para centenas de pessoas. Mas talvez a sua maior conquista tenha sido unir Magda Renner e Giselda Castro, ambas protagonistas do documentário. Com a ditadura vivendo seu auge, elas fizeram o que muitas mulheres de sua classe social jamais aprovariam: foram à luta pelo que acreditavam.

Um dos trabalhos mais importantes da dupla se deu ao lado do ambientalista José Lutzenberger. Foi assim que a ADFG se tornou uma das referências mundiais em preservação do meio ambiente. Mas essa é a história que quase todos, em especial os gaúchos, conhecem. Substantivo Feminino é mais interessado nas mulheres Magda e Giselda que propriamente em suas conquistas. Há uma brincadeira estética muito interessante logo no início, em que um plano aberto revela o confortável apartamento onde Gicelda morou. Poderia ser um típico cenário de melodrama norte-americano protagonizado por Joan Crawford, com louças e cristais e uma pintura que retrata a dona da casa no auge da juventude. O paradoxo é que foi naquela sala digna de uma socialite que Giselda e Magda tomaram decisões importantes e marcaram encontros com líderes mundiais. O chá das cinco ali nunca teve espaço para fofocas. Afinal, elas tinham que mudar o mundo.

E mudaram. Foram pioneiras na abordagem de assuntos que hoje são pautas frequentes, como a coleta seletiva de lixo e o impedimento de destruição de mata nativa para a construção de condomínios de luxo. Gicelda teria apontado o dedo à cara do presidente Ernesto Geisel e Magda teve a ideia de invadir com elegância uma reunião sobre ecologia onde ONGs ambientalistas estavam proibidas de participar. Tudo contado pelos filhos, netos, amigos e companheiras de batalha em depoimentos carinhosos, mas em nenhum momento piegas. Não é preciso esconder que elas não foram mães e esposas muito presentes, mas discutir como isso afetou as suas famílias não é o interesse dos diretores. Há respeito nas entrevistas e uma preocupação em colocar as protagonistas em cena, de alguma forma, seja com imagens de arquivos de entrevistas ou por gravações em fita cassete, nas quais Giselda narra toda a trajetória da ADFG, desde a criação até meados dos anos 90. Elas estavam preocupadas em registrar tudo para que seus trabalhos e objetivos não fossem esquecidos.

Para quem tem menos de 30 anos, assuntos relativos ao meio ambiente parecem corriqueiros, como se estivessem na ordem do dia desde sempre. Descobrir as mulheres por trás dessa revolução ambiental ocorrida no Brasil e no mundo faz pensar no porquê de seus nomes não estarem com mais frequência na boca do povo e também na daqueles que deveriam se preocupar com o futuro do país, pois ocupam um cargo no governo. E não apenas no discurso, mas nas ações. Magda e Giselda, apesar de terem, ambas, um fim de vida marcado pelo isolamento, colaboraram mais que muitos de nossos líderes para tornar o planeta um lugar melhor para se viver. Substantivo Feminino merece ser divulgado além dos festivais. É uma aula de como se portar no mundo como cidadão atuante, sem vaidade ou medo. E nos ensina que, mesmo que a condição social permita, não devemos vir ao mundo a passeio.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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