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Sinopse
No dia 15 de janeiro de 2009, o Capitão Chesley “Sully” Sullenberger conseguiu pousar um avião em pane no Rio Hudson, em Nova Iorque. Esse ato quase impossível salvou a vida dos 150 passageiros e o transformou em herói nacional. No entanto, nem mesmo a aclamação pública foi capaz de impedir uma investigação rigorosa sobre sua reputação e carreira.
Crítica
Em um primeiro olhar, o novo trabalho de Clint Eastwood, Sully: O Herói do Rio Hudson, soa muito parecido com O Voo (2012), drama capitaneado por Robert Zemeckis. Em ambos filmes, acompanhamos a perícia de pilotos de avião que conseguem salvar sua tripulação lançando mão de táticas nada usuais. O primeiro, manobra a aeronave fazendo com que ela voe de cabeça para baixo. O segundo, transforma em pista de pouso o famoso rio Hudson. As semelhanças, no entanto, terminam por aqui. Enquanto O Voo versa sobre as agruras e a transformação por que passa um homem corroído pelo alcoolismo, Sully vai por outro caminho: nos apresenta um sujeito comum em uma situação extraordinária, nos mostrando como ele reage a um circo de atenção, e de como é importante confiar na intuição, experiência e capacidade do homem em detrimento da tecnologia. Eastwood, um cineasta e cidadão à moda antiga, um self made man, parece ser a pessoa certa para contar essa história, dado o seu background profissional e pessoal.
Pela primeira vez colaborando com o astro Tom Hanks, que vive o heroico protagonista, o diretor escolheu contar a história real do piloto Chesley Sullenberger com narrativa não-linear. Depois de uma sequência surpreendentemente interessante com o piloto e sua tripulação no avião, somos apresentados a Sully (Hanks) ainda pasmo pelos acontecimentos do acidente. Ele e seu copiloto Jeff Skiles (Aaron Eckhart) precisam passar por uma perscrutação dentro da companhia aérea, que investiga caso o pouso forçado (embora muito bem-sucedido e tendo salvo as 155 pessoas a bordo) foi um erro humano ou mecânico. Algo de praxe, necessário para justificar o prejuízo para a companhia aérea de uma aeronave que custa milhares de dólares. Mesmo que tenha feito tudo ao seu alcance para que todos saíssem ilesos do voo, Sully começa a se perguntar se realmente pensou corretamente no momento crítico. De acordo com as simulações dos computadores, era possível pousar novamente no aeroporto de onde a aeronave acabara de sair ou aterrissar em outro próximo dali. Com essas dúvidas na cabeça, com sua esposa Lorraine (Laura Linney) longe dali e com a mídia toda em seu colarinho, o chamando de herói, Sully passará por um período conturbado, sentindo o peso pós-trauma de um evento catastrófico como aquele.
Com apenas 96 minutos de duração, Clint Eastwood é sabiamente econômico ao contar a história do piloto norte-americano. Além desse extraordinário período logo após o acidente, temos alguns flashs do passado do personagem e, claro, a reconstituição completa do pouso forçado durante o terceiro ato do longa-metragem. Tudo muito bem costurado e trabalhado, um belo exemplo do menos é mais. Qualquer outro diretor talvez sentisse vontade de contar o encontro entre Sully e Lorraine, sua vida de casal, ou até dar mais espaço para Jeff, o seu fiel copiloto. Nada disso é necessário para o entendimento da história que Eastwood quer contar e, portanto, acertadamente, essas gorduras ficam de fora. Tom Hanks e Laura Linney não dividem cena alguma juntos, inclusive, mantendo seu contato sempre via telefone. A mensagem está bem clara: os computadores podem errar e o fator humano nunca deve ser deixado de lado da equação – principalmente quando falamos de fatos em que uma decisão certa na hora certa pode mudar completamente o resultado final. Aos 86 anos, Eastwood manda às favas os computadores e diz, em alto e bom som: um homem experiente pode fazer melhor, mesmo sob grande pressão.
Sempre chamado de o James Stewart de nossa geração, Tom Hanks aqui parece incorporar mais Paul Newman. Envelhecido pelos cabelos brancos e lembrando fisicamente o saudoso ator (com quem contracenou em Estrada para Perdição, 2002), Hanks transmite toda a experiência e sapiência que o personagem requer. Longe de ser um sujeito infalível, Sully é um ser humano que poderia errar e teme tê-lo feito, mesmo tendo salvo a vida de tantas pessoas. Frente a um perigo iminente, conseguiu realizar o inimaginável, mas se martiriza por não ter certeza se tomou a decisão correta. Os computadores diziam o contrário. Depois de 40 anos de trabalhos realizados, sua vida toda estava sendo julgada por pouco mais de 200 segundos. Além de Hanks, Aaron Eckhart e Laura Linney apresentam atuações competentes, mesmo com o pouco tempo de tela.
Clint Eastwood aponta sua câmera para o ser humano, mas não esquece de impactar sua audiência com uma recriação muito competente do acidente que, felizmente, não teve vítimas. O verdadeiro coração do filme acaba aparecendo logo após o evento, quando o resgate aparece. Corajosas pessoas que prontamente surgiram para evitar uma tragédia acabam por deixar a história mais emocionante. Alguns poderão torcer o nariz para o viés patriótico que Eastwood incontestavelmente inclui na trama. E outros, com razão, deverão achar ridícula a última cena, com direito a risadas e um frame congelado que seria mais coerente em uma série oitentista ruim. Esses pecados não pesam tanto para o resultado. Embora Sully: O Herói do Rio Hudson não seja o melhor trabalho do diretor, ao menos consegue ficar à frente dos seus últimos esforços, sendo seu título mais interessante desde, no mínimo, Gran Torino (2008).
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