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Crítica


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Sinopse

As trajetórias de 25 jovens se cruzam durante um dia escaldante em Los Angeles. Eles falam sobre coisas cotidianas, tais como amor, sofrimento, medo, pertencimento e lar.

Crítica

Após mais de uma dezena de curtas, produções em vídeo e séries para a televisão, o realizador mexicano Carlos López Estrada colocou de vez seu pé em Hollywood com o impressionante – ainda que pouco visto – Ponto Cego (2018), filme que lhe rendeu uma indicação ao Directors Guild of America Awards (a premiação do sindicato dos diretores dos Estados Unidos), além de uma dezena de troféus em festivais ao redor do mundo. Tamanho impacto aumentou ainda mais a expectativa a respeito do seu segundo trabalho, e eis que ele assume essa responsabilidade com um trabalho ainda mais potente: Summertime, que teve estreia mundial durante o prestigioso Festival de Sundance, e depois passou por lugares diversos, como o Festival de Haifa, em Israel, ou a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, aqui no Brasil. Por todos os lugares por onde foi exibido, uma reação parece ter sido constante: o fato de se deparar com o inesperado. Ou seja, mesmo para os fãs do longa anterior do cineasta, o que se verá dessa vez é algo novo e que transborda de energia.

Summertime se propõe a narrar um série de eventos em um dia quente de verão em Los Angeles. Melhor deixar de lado, no entanto, a delicadeza quase abstrata de La La Land: Cantando Estações (2016), por exemplo. O que se vê por aqui vai por uma outra toada, mais urgente, selvagem e audaciosa. Não se fala de jazz, de algo suave que vai aos poucos tomando conta do seu ouvinte. O discurso é apressado, numa mistura entre raiva e indignação, mas que também consegue abrir espaço para a efervescência necessária diante das pequenas conquistas do dia a dia. No final das contas, será o otimismo para seguir adiante o fator decisivo em cada uma dessas interações. Não são pessoas transitando num limiar entre a fantasia idealizada e a realidade decepcionante: o que o espectador é convidado a conhecer é a verdade das ruas, o calor do sol do meio-dia e a vento congelante da noite que parece nunca ter fim. Entre um ponto e outro, um mundo de opções se abrem. E serão a partir delas que essas milhares de vidas poderão, enfim, se conectar.

A estrutura escolhida pela qual a trama – ou as múltiplas linhas narrativas, dependendo do ponto de vista – de Summertime se desenvolve é bastante simples, apesar da aparente complexidade. Estrada reuniu 25 novos talentos, em sua maioria artistas das ruas, dos bares ou de apresentações improvisadas, que aqui marcam suas primeiras aparições na tela grande – no máximo, estão numa segunda ou terceira performance no cinema. Assim, de meros estreantes, logo se veem como protagonistas: cada um terá ao menos um instante de estrelato durante o desenrolar dos eventos, no qual todas as atenções estarão voltadas apenas para si e para o que de melhor ele terá a oferecer. Sim, pois o formato assumido é o do musical, e tudo o que o diretor destinou a cada um deles foram apenas algumas linhas superficiais do que esperava de cada um. A partir daí, coube a eles inventar a sua própria música, e por ela deixar fluir a energia, a força e suas maneiras de ver o mundo ao redor.

É assim que se destaca desde o rapaz que não aceita ser mal atendido em um restaurante da moda como o atendente da lanchonete prestes a declarar seu grito de independência, a psiquiatra de casais que propõe o inovador método de tratar seus pacientes através do rap à jovem abandonada que irá colocar para fora anos de tristezas e decepções numa despedida impossível de ser ignorada – talvez o momento mais cortante de todo o projeto. Cada um, ao seu jeito e da maneira que melhor lhe coube, permitirá transparecer angústias e ambições, tropeços e conquistas que, por menores que possam ser, poderão representar um universo de significados. E enquanto a mãe preocupada consegue apenas repetir velhos clichês para a filha adolescente, será a garçonete que terá seu momento de estrelato no meio da avenida, dançando com paixão e entrega como se não houvesse amanhã. Até porque, para muitos deles, esse só chegará quando o hoje for feito de outro modo, e não como ontem.

De autor, Estrada possibilita a criação de um espaço seguro para um esforço coletivo, que num todo se torna maior do que cada uma das suas partes, por mais repletas de méritos que essas possam ser. Assim como todo filme coral, Summertime nem sempre é perfeito. Mas assim como tal percepção é mais do que esperada, também é uma feliz constatação se dar conta que são justamente esses detalhes, que sob outras condições poderiam ser vistos como poréns, que contribuem de modo decisivo para oferecer ao grupo um pulsar de vida e irmandade. E assim, aquele que se resguarda por detrás das câmeras termina por assumir uma posição de maestro, ocupando-se não muito mais do que abrir as portas para que boas surpresas aflorem, no tempo e medida apropriada. Se para alguns o sucesso parece ser meteórico, outros seguirão fazendo sempre o mesmo até sentirem o balanço dos dias como impulso. Enfim, estará nessa mistura a receita de um filme absolutamente contagiante, e por isso mesmo, imperdível.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
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Marcelo Müller
8
MÉDIA
9

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