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Sinopse

Mario e Luigi são encanadores em Nova York. Os dois acabam viajando por labirinto subterrâneo e vão parar em um universo paralelo. Enquanto Luigi se vê preso pelo violento Bowser, Mario terá que ajudar uma princesa a salvar seu reino e libertar seu irmão!

Crítica

Nada faz muito sentido no mundo de Mario e seu irmão, Luigi. Até o título é um tanto sem noção: de “super” eles não tem nada (os “poderes especiais” que lhes são conferidos vez que outra vem de artimanhas típicas dos videogames, recompensas por serviços bem executados, e não por ser algo intrínseco ao personagem), sem falar que “Mario” é o nome do protagonista, além de ser também o sobrenome dos dois (a lógica por trás do “Mario Bros.”). Ou seja, o nome dele é “Mario Mario” (acredite se quiser), como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Mesmo assim, e talvez justamente por isso, o jogo criado em 1985 é um fenômeno internacional – sabe-se lá por qual razão (tem coisas que é melhor não entender, basta aceitar). E se ficou alguma lição como resultado do fracasso retumbante de sua primeira incursão pela tela grande (Super Mario Bros, de 1993), foi justamente isso: não levar-se tão a sério. Esse, também, parece ser o acerto de Super Mario Bros.: O Filme: abraçar o ridículo e, através dele, entregar o que o fã há tanto esperava, sem tirar, nem por.

Criado pelos japoneses da Nintendo, Super Mario Bros. conta a história de dois irmãos encanadores italianos que moram em Nova York, nos Estados Unidos – e que, no meio de um serviço aparentemente banal, acabam sendo levados a uma outra dimensão para lutarem ao lado de princesas (e não mais apenas resgatá-las, como nas primeiras versões dos anos 1980) e enfrentar tartarugas demoníacas que voam e cospem fogo. Annabel Jankel e Rocky Morton, os diretores do longa anterior, direcionaram seus esforços em tornar esse cenário minimamente compreensível – como a substituição do rei Koopa por um vilanesco Dennis Hopper, por exemplo – e essas mudanças serviram apenas para frustrar o admirador mais radical. Aaron Horvath (Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas, 2018), Michael Jelenic e Pierre Leduc (os dois últimos estreantes na função), por sua vez, abraçaram quase que na íntegra o roteiro de Matthew Fogel (Minions 2: A Origem de Gru, 2022) e entregaram um filme que é, basicamente, uma transposição literal dos jogos – desde os cenários até as motivações dos envolvidos em cada ação – para uma ambientação “cinematográfica”, por assim dizer. Uma estratégia que levanta muitas dúvidas, mas não deixa de agradar os principais interessados: os já familiarizados com esse universo.

A todos os demais, sobra pouco, a não ser buscar algum tipo de entendimento já com todas as engrenagens em movimento. Mario e Luigi são inseparáveis, e acreditam que poderão dar certo no selvagem mundo dos prestadores de serviços caseiros. As coisas, no entanto, não vão bem para a empresa que recém abriram, e numa última tentativa de mostrar o talento que acreditam ter, acabam se metendo em algo além de suas compreensões. Ao se aventurarem pelos esgotos do Brooklyn, entram, literalmente, pelo cano: um portal que se abre para uma outra dimensão. Lá, se veem pela primeira vez separados. Enquanto Luigi é levado uma terra devastada, se vê fugindo de zumbis cadavéricos e termina aprisionado pelo assustador Bowser (que é o mesmo Koopa de antes, agora na sua denominação original), Mario cai nas graças da Princesa Peaches, prestes a ser invadida pelo vilão que tem conquistado um reino atrás do outro. Mas como um baixinho bigodudo acostumado a dizer “mamma mia” diante de qualquer dificuldade poderá fazer alguma diferença?

O que chama atenção em Super Mario Bros.: O Filme é o trabalho da dupla Matthieu Gosselin e Guillaume Aretos. O primeiro foi diretor de arte de sucessos como Pets: A Vida Secreta dos Bichos 2 (2019) e esteve envolvido com animações de sucesso, como Tarzan (1999), enquanto que o segundo participou da criação de fenômenos como Shrek (2001) e Madagascar (2005), capítulos iniciais de franquias que se desenrolaram por anos. Foram eles os responsáveis por reproduzir com imensa fidelidade visuais que existiam apenas nos jogos, do castelo mal-assombrado ao reino dos pinguins, da luta com Donkey Kong à perseguição de jipes por estradas de arco-íris, de vales de cogumelos aos quadrados com pontos de interrogação capazes de gerar surpresas imprevisíveis. Essa atenção aos detalhes contribui de forma decisiva na ambientação e no fortalecimento de uma sensação de conforto do espectador, que passa a se sentir não apenas familiarizado, mas também como pertencente àquele universo: é algo que conhece, que já vivenciou e do qual se vê como parte integrante. Independente de estar ou não com um console em mãos.

Em uma análise apurada, Super Maior Bros.: O Filme é não mais do que uma história de amor, ou várias delas: de Bowser por Peaches, de Peaches pelos pequenos seres que a acolheram ainda criança, de Luigi por Mario, e deste para a sua cidade. Uma problematização a respeito seria até fácil demais: e uma vez diante de tamanha tentação, resistir à mesma soa quase como o correto a ser feito, visto quão óbvia tal armadilha pode se mostrar. Mario e Luigi são assexuados – num contexto no qual o tipo mais carnal é uma tartaruga grotesca com espinhos no casco – e as dificuldades que enfrentam em suas missões são por demais gratuitas, visto que inseridas apenas como parte de mais uma tarefa a ser cumprida, sem muito alterar o resultado. No mais, qualquer dúvida mais complexa terminará sem justificativas, sejam tanto para onde foram e por quais razões foram mandados de volta, o que ganharam no processo e por quais transformações se viram obrigados nesse meio tempo. É um grande passatempo, feito para agradar os convertidos, mas que pouco se mostra disposto e integrar os alheios ao conjunto. E assim como seus similares, pronto para mais uma partida. Pois, independente de ganhar ou perder, um recomeço estará ao alcance de um simples apertar de botões (ou da aquisição de um novo ingresso).

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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