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Sinopse

Após cinco anos de isolamento, Superman volta à Terra. Enquanto seu antigo inimigo Lex Luthor planeja enfraquecê-lo para sempre, o Homem de Aço reencontra sua amada Lois Lane, agora noiva e com um filho pequeno para cuidar. Neste retorno, o herói precisa retomar sua vida e salvar o mundo da crescente ameaça de seu arquiinimigo.

Crítica

Após muita espera e expectativa, o maior herói de todos os tempos voltou às telas! Só isto seria suficiente para justificar o interesse do público, dos mais cinéfilos aos meros curiosos. Mas esta espera de quase 20 anos foi recompensada à altura? Infelizmente, não. Claro que qualquer comparação é injusta entre Superman: O Retorno e a quadrilogia anterior, principalmente se pensarmos quanto aos quesitos técnicos – dessa vez você irá, de fato, acreditar que um homem (ou um alienígena, mas isso não vem ao caso) pode realmente voar! Se nos filmes originais, ao menos aos olhos atuais, tudo soa muito falso, com aquelas maquetes e fios pendurados nas roupas entregando as artimanhas a todo o instante, desta vez a engenharia é imperceptível – você vai dos confins do universo, onde supostamente ficaria o planeta Krypton, terra natal de Kal-El, até uma fazenda no interior dos Estados Unidos, onde este garoto acaba parando ainda bebê para ser rebatizado como Clark Kent. Mas é o recheio, a história de como o menino Kent se transformou em Superman, e principalmente a relação dele com as duas pessoas mais importantes de sua vida – a paixão Lois Lane e o vilão Lex Luthor – que acabam por prejudicar uma imagem aparentemente inabalável.

Por mais que as diferenças entre Marvel (editora do Homem de Ferro e do Homem-Aranha, por exemplo) e DC Comics (dona do Superman e Batman, entre outros) sejam reconhecíveis apenas entre os fãs de uma ou de outra, nem todo mundo está a par dos mínimos detalhes das origens de cada um destes personagens. O Homem-Aranha (2002), por exemplo, sofreu tantas mudanças em relação às hq’s ao ser adaptado ao cinema que foi preciso criar uma nova série de gibis que acompanhasse as novidades cinematográficas. E nem por isso o filme deixa de ser maravilhoso. Mas há lá – e nas tramas do mutantes e do homem-morcego, por exemplo – algo que é escasso aqui: magia!

Superman: O Retorno ignora os dois últimos filmes protagonizados pelo herói (de 1983 e 1987) e se posiciona como uma continuação de Superman II (1981). O que é preciso saber dos dois longas originais para se situar diante esta nova trama? Quase nada, já que O Retorno recupera muito destas tramas iniciais. Há certas situações específicas, como o primeiro encontro de Lois com Superman, que gerou o artigo “Eu passei uma noite com Superman” (Lois é jornalista e trabalha do jornal Planeta Diário), ou o fato de Luthor já ter estado na Fortaleza da Solidão, um castelo de gelo que resguarda resquícios da civilização kryptoniana (como visto no segundo filme). Ah, e o principal: no segundo filme, Lois descobre que Superman e Clark Kent são a mesma pessoa, declara seu amor por ele e os dois acabam tendo uma noite de amor. No entanto, no dia seguinte, ele dá um jeito de apagar a memória dela, fazendo-a esquecer da revelação e do envolvimento entre eles. Assim, quando ele retorna – agora – e a vê mãe de um garoto, sabe que o menino pode ser filho dele, suspeita que ela própria ignora.

Após tomar conhecimento que foram encontrados supostos resquícios de Krypton, Superman decide partir em busca de suas origens. Ele se afasta durante cinco anos, e O Retorno começa exatamente no ponto quando decide voltar. Durante este período muitas mudanças aconteceram, e as principais são: Lois, já mãe, está noiva de um outro homem, além de Luthor ter escapado da prisão, dado o golpe do baú numa senhora milionária e formado uma nova gangue. Livre e rico, o inimigo parte direto para a Fortaleza da Solidão, rouba preciosos cristais alienígenas e dá início ao plano de construir um novo continente, a partir destes artefatos extraterrestres, o que provocaria a destruição dos Estados Unidos. Superman tentará o impossível para impedi-lo, tarefa dificultada pelo conhecimento de Luthor sobre o ponto fraco do herói: sua sensibilidade à kryptonita, um meteorito composto pela radiação que provocou o extermínio do seu planeta natal. Paralelo a isso, ele tentará, claro, reconquistar sua amada e descobrir se possui ou não um herdeiro.

Quais são os méritos de Superman: O Retorno? Vários. Tecnicamente perfeito, possui um visual impressionante e dosa bem os efeitos especiais com a necessidade da trama. Qual o problema, então? O resto. Comecemos pelo elenco. Se Kevin Spacey parecia ser o ator ideal para um novo Lex Luthor (papel que já foi de Gene Hackman), ele destoa na composição – e isso é um problema de roteiro e direção, não de atuação. O Lex perfeito seria o Spacey visto em filmes como Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995) ou Os Suspeitos (1995): um ser frio, calculista e no domínio de suas capacidades. Algo distante do vilão cercado de incompetentes, dado a estouros de irritabilidade e com potencial cômico.

Já os protagonistas são responsáveis pelos maiores constrangimentos. O novato Brandon Routh, que até então só havia feito participações em seriados televisivos, teve sua estreia na telona providenciada por uma questão genética: ele é quase um clone de Christopher Reeve, este sim ainda o intérprete ideal do homem de aço. Brandon tem uma ‘estampa’ perfeita, porte atlético e olhar carismático. Mas é só. Parece mais um modelo desfilando, do que um ator de verdade. O pior, no entanto, vem da equivocada Kate Bosworth, que se esforça para conferir verossimilhança à mocinha, mas é impedida por detalhes muito além de suas capacidades dramáticas. É impossível convencer qualquer espectador de que esta garota de 23 anos, que fez anteriormente filmes como A Onda dos Sonhos (2002), é uma mãe de família e uma profissional extraordinária, prestes a receber um Prêmio Pulitzer! É muito nova, frágil e insegura, características que não fazem parte da personagem como nos acostumamos a conhecê-la.

Tudo isso seria superado, obviamente, caso estivesse inserido em outro contexto, com uma trama envolvente e uma direção habilidosa. Afinal, quem eram Christopher Reeve e Margot Kidder (a Lois dos filmes anteriores) antes de apareceram no longa dirigido por Richard Donner em 1978? Mas a mão do realizador da saga Máquina Mortífera, e o roteiro de Mario Puzo (autor também da saga O Poderoso Chefão) tornaram aquele filme, mesmo quase trinta anos depois, inesquecível, insuperável e arrebatador. O que não se repete dessa vez. Os roteiristas Michael Dougherty e Dan Harris, assim como o diretor Bryan Singer, possuem um currículo respeitável – juntos fizeram X-Men 2 (2003), considerado de modo unânime o melhor da primeira trilogia – mas aqui a impressão que se tem é de que ficaram subservientes ao que pretendiam contar, incapazes diante tamanha magnitude. E o que se tem como resultado é uma obra que se ajoelha diante o personagem, sem nunca se colocar no mesmo nível.

Ponto principal: o enredo de Superman: O Retorno não é envolvente. Os acontecimentos parecem ser aleatórios, não conectados. Não se justifica de modo satisfatório o porquê da ausência do herói por tanto tempo (encontrou alguma coisa? Valeu o esforço?), nem esclarece sua volta. O vilão continua querendo ter terras, mas já não está milionário? Não seria mais fácil comprá-las? E cenas grandiosas, destruição do mundo, ondas gigantes e prédios indo abaixo não são necessariamente uma novidade no cenário cinematográfico atual. Há, sim, várias cenas que impressionam, mas não um grande destaque. Terminamos com uma impressão morna. E o pior: sabendo que poderia ter sido muito mais, isso porque já foi anteriormente.

Superman, o personagem, a cada aparição está mais apático, sem garra. Não vemos o terror, a paixão, a raiva, o empenho e o ímpeto que fazem dele um ser acima dos meros mortais. E todos os perigos que enfrenta são facilmente superáveis – e se ele pode resolver tudo, com o que se preocupar? Você acha mesmo que Lois – ou qualquer outro – morrerá, se é certo que logo o azulão irá aparecer para salvar a pátria? No filme de 1978, Kal-el precisa fazer uma escolha, não tem como estar em dois lugares ao mesmo tempo. E no seguinte é colocado diante três seres com os mesmos poderes que ele, sendo obrigado a fazer uso da inteligência, e não da força bruta. Dois elementos que desaparecem nesta versão. Para se ter uma idéia, nem uma lança de kryptonita quase cravada no peito é capaz de impedi-lo! Se não há fraquezas, não há humanidade, e com isso é impossível a identificação.

Superman: O Retorno teve uma boa arrecadação nas bilheterias, porém inferior ao que se esperava – foram quase US$ 400 milhões somados em todo o mundo, para um custo oficial de US$ 270 milhões! E se ficou aquém do que poderia – e merecia – ter alcançado, isto foi a despeito dos inegáveis méritos. É diversão pipoca, de fácil consumo e digestão rápida. Mas é tão esquecível quanto qualquer outro blockbuster genérico, sem em nenhum momento conseguir se posicionar como um marco no gênero que o próprio último filho de Krypton ajudou a construir.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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