Sinopse
Ruth Bader Ginsburg foi uma das primeiras mulheres a entrar na Faculdade de Direito da Universidade de Harvard. Durante toda a sua carreira enfrentou as mais diversas adversidades, muitas delas pelo simples fato de ser mulher. Sem conseguir trabalhar na área a que tanto se dedicou e obrigada a levar uma vida acadêmica, vê sua grande oportunidade ao se deparar com um caso de discriminação contra um homem - o que provaria que há muito a se avançar nessa discussão para ambos os sexos na sociedade norte-americana.
Crítica
Em 2015, Felicity Jones foi indicado ao Oscar na categoria de Melhor Atriz pelo superestimado A Teoria de Tudo (2014). Por este trabalho, aliás, ela marcou presença em praticamente todas as premiações mais importantes – Globo de Ouro, Bafta, Critics Choice, Screen Actors Guild – sem ter ganho em nenhuma dessas disputas. Se por um lado a lembrança a favoreceu a ponto de colocar de vez seu nome no cenário hollywoodiano – no ano seguinte já aparecia como protagonista de Rogue One: Uma História Star Wars (2016), longa que faturou mais de US$ 1 bilhão nas bilheterias de todo o mundo – tal exposição demasiada também a colocou na obrigação de ter que se provar a cada novo personagem. O que faz com excelência e segurança em Suprema, cinebiografia romantizada da juíza Ruth Bader Ginsburg, tranquilamente o seu melhor desempenho até hoje na tela grande. E pelo qual ela não foi indicada a absolutamente nada. Justamente agora que merecia, e muito, tal lembrança.
Em uma época em que os Estados Unidos agonizavam pela busca de uma maior igualdade de direitos sociais para toda a população, Ruth Bader Ginsburg foi uma mulher que, ainda que bem casada e mãe de família, conseguiu, através do seu talento e determinação, se posicionar em lugares até então frequentados quase que exclusivamente por homens – como a Faculdade de Direito da Universidade de Harvard, por exemplo. Da moça que não sabia muito bem porque tão decidida a estudar – precisa de outros motivos além da vontade de aprender? – à profissional que foi além dos bancos escolares para mostrar um valor que poucos se esforçavam em reconhecer, ela conseguiu criar dois filhos e estar ao lado do marido nos momentos mais difíceis – como quando ele descobriu ter câncer nos testículos, o que a obrigou a exercer por vários meses uma carga dupla (ou até mesmo tripla) para conseguir dar conta de todas as responsabilidades do casal.
O filme dirigido pela cineasta Mimi Leder é bastante didático em deixar claro o quanto Ruth precisou fazer muito mais do que lhe era exigido pelo simples fato de ser uma mulher – um homem, enfrentando as mesmas condições, certamente teria uma jornada acadêmica e, principalmente, no exercício de sua atividade, muito mais facilitada. Leder, no entanto, não se contenta em apenas abordar o que é evidente: ela exagera no sentimentalismo e na comoção por cada conquista feita por sua protagonista, deixando claro para qualquer um na audiência o quanto ela admira a personalidade diante da qual se debruça. Realizadora de espetáculos visuais como Impacto Profundo (1998), mas também do abusadamente melodramático A Corrente do Bem (2000), a diretora estava desde o pouco visto Jogo Entre Ladrões (2009) afastada da tela grande, ocupando-se apenas com séries como Shameless (2011-2015) e The Leftovers (2014-2017). Ao voltar para o cinema, não deixa de lado a superficialidade televisiva, reforçando a todo instante verdades já absorvidas, minimizando o impacto de uma história que teria força suficiente para falar por si só, sem a interferência de uma contadora de histórias que se pretende mais preocupada com o como dizer, ao invés de se contentar apenas com o que se está sendo dito.
Os maneirismos da realizadora estão por toda a parte. Da sequência no tribunal em que tudo fica para ser resolvido no último instante à trilha sonora onipresente que serve mais para reforçar os sentimentos explorados pelos acontecimentos, ao invés de apenas situá-los dentro de um cenário mais complexo, Suprema consegue escapar da mediocridade graças ao seu elenco. Felicity Jones surge não apenas apropriada como a protagonista, vestindo bem o manto que lhe é oferecido tanto nas cenas mais complexas como também nos debates no âmbito familiar. Nestas, chama atenção a química que estabelece com Armie Hammer, que surge como o marido sempre pronto tanto para apoiá-la, como também para instigá-la a seguir em frente quando necessário. A beleza dele pode, por vezes, ser motivo de distração, mas ambos funcionam tão bem juntos que até um detalhe como esse pode ser perdoado. Sam Waterston e Kathy Bates, apesar das participações de ambos serem mínimas, oferecem uma força valiosa. Por outro lado, Justin Theroux, em uma composição um tanto equivocada, é o ponto fora da curva – o tipo que apresenta pode até ser representativo de vários que surgiram no caminho da biografada, mas nada que ele faz consegue elevá-lo da mera distração.
No ano em que Ruth Bader Ginsburg também foi foco de um documentário, o aclamado RBG (2018), que recebeu duas indicações ao Oscar 2019, Suprema acaba se revelando uma curiosidade protocolar, mas nunca o olhar definitivo sobre uma personalidade tão instigante, que merecia mais do que apenas uma visão romantizada de uma luta que ela segue à frente até hoje. É envolvente (ao menos até certo ponto) e dono de méritos inegáveis, ao mesmo tempo em que passa ao largo de discussões mais prementes, sem se aprofundar em questões que acabaram por se tornar o centro da relevância sócio-política da homenageada. Assim, termina por se contentar em percorrer o óbvio, nunca dando o passo extra tão necessário. Justamente o que Ruth teve que fazer durante toda a sua vida.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 5 |
Francisco Carbone | 3 |
MÉDIA | 4 |
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